quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Projeto gostosa em 2010

Primeiro dia do meu projeto "Bruna gostosa em 2010" e já não sei mais até em que ponto foi uma boa ideia iniciá-lo no modo "com esforço". Depois de uns dez anos voltei a lembrar como é chato e cansativo fazer musculação e como é longo o prazo dos resultados. Mas tudo bem, depois do fiasco na prova do mestrado, resolvi trocar os planos de ser intelectual pelo de ser gostosa.

Antes de mais nada, é preciso dizer que, na verdade, acho essa oposição usar o corpo X usar a mente falsa, ela deriva da divisão do trabalho no capitalismo, na qual houve uma separação entre o trabalho manual e o trabalho intelectual, ou seja, é produto também de uma consciência reificada, mas sociologismos à parte, o fato é que ambos demandam esforço e para uma pessoa preguiçosa como eu, ou é um ou é outro. E devido a minha recente falta de paciência com o mundo acadêmico e com as pessoas que vivem nele, nesse momento optei em apenas querer ser gostosa.

No primeiro momento pensei no caminho mais fácil, fazer lipoaspiração. Fui convencida de que não resolveria, ficaria magra, sem barriga, mas continuaria flácida. Convenceram-me a enfrentar a academia. Só que no primeiro dia, o professor já me disse que meu projeto não é nada fácil, pois como sou magra, se eu quiser perder barriga, junto com ela perderei perna, bunda, etc, etc, etc. O resultado disso é um esforço maior ainda, horas de musculação para ganhar massa nos membros inferiores, junto com exercícios aeróbicos e mais dieta. O lado bom foi o fato dele me dizer que, pelo menos no caso dos braços, bastam apenas exercícios para enrijecê-los, quer dizer, bom não, menos pior.

Fiz tudo como ele havia me dito e passei bem pelo primeiro dia, mas isso não excluiu o fato de eu ter pensado várias vezes durante aqueles exercícios chatos em sair de lá e deixar tudo como está, ou em voltar ao projeto no modo "sem esforço" e entrar na cânula da lipo, ou ainda em ser apenas a nerd preguiçosa que sempre fui. Não, agora que comecei vou tentar chegar ao meu propósito, até já recebi incentivos, inclusive virtuais. Já me disseram que eu consigo ser intelectual e gostosa. Então, tendo em vista que o projeto é longo e o tempo é curto, vamos correr porque também é necessário!!!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"Eu te dou de presente São Paulo"

"Eu te dou de presente São Paulo". A frase foi mais ou menos essa, dita ao final do espetáculo Santidade, pelo personagem de Zé Celso ao ex-seminarista sustentado por ele, mas o que me fez lembrar dela foi assistir ao filme "Quanto dura o amor?". O filme tem como pano de fundo uma São Paulo que me é muito próxima, o edifício no qual foi filmado é o lugar onde frequentei por muito tempo, tinha amigos que moravam por lá, assim como me é próximo o fórum, o restaurante japonês na Liberdade e um pouco da vida daqueles personagens.

Sempre me senti um pouco outsider, o que agrada a maioria das pessoas geralmente não me agrada. Estudei por cinco anos em uma faculdade tradicional da qual nutri o mais profundo desprezo, muito da cidade oficial me fazia sentir como um alienígena, era como estar em uma ilha cercada de hostilidade.

Com o tempo aprendi que São Paulo é um pouco assim, vivo na cidade que nos convida à solidão. Por aqui estamos juntos, mas ao mesmo tempo estamos muito sós. Descobrimos os espaços undergrounds, mas eles são apenas a outra face da exclusão. Para compreender essa cidade é preciso olhar atentamente para os seus detalhes que muitas vezes nos fogem.

Estamos diante de um mundo de contradições, podemos estar dentro ou fora, somos atraídos e ao mesmo tempo cuspidos por essa grande roda viva. Se as relações típicas da modernidade são efêmeras, por aqui elas parecem ainda mais fulgazes. Mas apesar de tudo há o encanto de um lugar que nos chama, exatamente por ser assim, o avesso do avesso do avesso do avesso, como bem cantou Caetano.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Só sei que é preciso paixão

Às vezes não nos damos conta do óbvio porque ele está ali, embaixo demais dos nossos olhos para que o enxerguemos. Mas por um descuido do não, de repente ele nos surge como uma revelação.

Esse é o momento no qual o extraordinário torna-se o corriqueiro, e no minuto seguinte já não sabemos como vivemos tanto tempo sem ao menos perceber algo que nos é tão essencial, quase como o ar que respiramos.

Se conseguiremos manter a magia da descoberta? Difícil tal resposta. Quer dizer, não temos a resposta, pois o grande lance de toda a história é vivê-la sem saber como será o próximo momento.

Se temos ao menos um palpite? Esta seria uma questão mais fácil, a resposta pode estar nos nossos olhos, eles dizem muito a respeito do que esperamos.

Mais não conseguiria dizer, existem coisas que só vivendo para saber...



sábado, 3 de outubro de 2009

O caso do camarão

Rir de si mesmo é sempre algo necessário, especialmente quando o que nos acontece seria trágico se não fosse cômico. Pois é, como além disso existem fatos dos quais só ocorrem comigo, eles não podem deixar de serem relatados, especialmente para posteriores risadas numa mesa de bar.

Deixando a enrolação de lado, o caso é que na última quinta-feira, estava saindo de casa para ir à USP, precisava entregar um livro, tinha uma prova e uma reunião com meu grupo de seminário. Mas antes de ir até lá parei numa praça de alimentação de shopping para almoçar, o lugar escolhido foi a Vivenda do Camarão. Não que eu fosse uma grande fã de camarão, mas me deu vontade de comer e lá fui eu.

Depois do meu almoço, fui para USP, entreguei o livro e sentei para arrumar meus textos, foi quando de repente, minha garganta começou a coçar e surgiram umas marcas de alergia no rosto e no corpo. Elas eram poucas, mas com o passar dos minutos se reproduziram em grande velocidade.

Diante da situação saí correndo de lá e parei na primeira farmácia que encontrei, foi quando o farmacêutico me disse:

- Nossa menina, se você não tomar um antialérgico rápido sua garganta vai fechar!!

Foi aí que rapidamente eu resolvi tomar o tal do antialérgico. Porém, não sabia que mesmo tendo tomado uma injeção, ia levar um tempo para agir e nisso o meu rosto não parava de inchar. Então, deparei-me com uma situação bizarra, dentro de um ônibus, com o rosto quente e muito inchado.

Em pouco tempo parecia que me rosto estava desfigurado de tão grande e nesse meio tempo eu andava pela Paulista para chegar até em casa. Imagino que as pessoas das quais andavam pela rua achavam que viam um ET na terra. E coloque aí mais um detalhe: havia esquecido meu óculos de sol em casa, não dava nem para disfarçar e esconder os olhos.

Isso aconteceu há dois dias, mas para ter uma idéia de como foi forte a reação alérgica, até agora meus olhos estão um pouco inchados. O engraçado dessa história toda foi olhar no espelho e não me reconhecer, mudou o formato dos meus olhos e por consequência, o meu rosto mudou.

E com isso, mais do que chegar à conclusão de que nunca mais como camarão, pois além da alergia ele me custou uma parte da nota, já que não pude fazer a prova, concluí também que se há algo que dificilmente faria é cirurgia plástica no rosto. Qualquer mudança no rosto pode mudar totalmente a aparência de uma pessoa e se o resultado for ruim não há como voltar atrás.

O lado bom é que eu descobri ser alérgica à camarão, já pensaram se fosse a chocolate? Minha vida perderia muito da sua graça...


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O regulamento

Moro há quase cinco anos no mesmo lugar e só agora percebi que o meu prédio tem um regulamento, tão velho quanto ele, pois segundo a vizinha da frente, o edifício no qual moramos já tem uns oitenta anos.

Antigo ou não, descobri que vivo em um lugar cujo regulamento me faz lembrar autoritarismo e discriminação. Uma das cláusulas diz estar proibida a entrada de empregados nas reuniões de condomínio, a outra diz ser proibida a habitação de doentes mentais e pessoas com doenças contagiosas. Há mais uma cláusula que me irritou, mas como minha mente é seletiva, esqueceu da besteira escrita naquilo.

Fiquei pensando o porquê daquele regulamento estar exposto a tanto tempo nas paredes e eu nunca ter tido a curiosidade de lê-lo. Talvez eu já intuísse sobre o que me esperava ao passar os olhos por lá. Aliás, existem muitas coisas perto de casa das quais me passam desapercebida e acho que o motivo pelo qual isso acontece se deve ao fato de eu conhecer bem o bairro em que moro e inconscientemente (ou não) prefira estar alienada do que se passa.

É por essas e outras que às vezes invejo os contentes, eles não se preocupam com esses fatos. Por isso são contentes, o mundo deles tem tão mais cores.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

...

"...Nunca precisou fazer as perguntas que atormentam os casais humanos: será que ele me ama? será que gosta mais de mim do que eu dele? terá gostado de alguém mais do que de mim? Todas essas perguntas que interrogam o amor, o avaliam, o investigam, o examinam, será que não ameaçam destruí-lo no próprio embrião? Se somos incapazes de amar, talvez seja porque desejamos ser amados, quer dizer, queremos alguma coisa do outro (o amor), em vez de chegar a ele sem reivindicações, desejando apenas sua simples presença."

(Milan Kundera em A insustentável Leveza do Ser)

sábado, 19 de setembro de 2009

Sobre Arnaldo Baptista e a cultura da celebridade

Acabei de assistir ao documentário Loki, sobre a trajetória de Arnaldo Baptista e ao vê-lo me fez pensar sobre essa tão falada cultura da celebridade. À primeira vista, parecia estar vendo a decadência de um artista que passou do estrelato ao semi anonimato e com isso enlouqueceu. Mas um olhar mais cuidadoso nos faz ver além disso.

Arnaldo é um grande artista, o que é preciso ser reconhecido independente de se gostar da sua música, de uma sensibilidade e inteligência acima da média e como toda alma de artista não consegue viver o mundo de quem encara o dia-a-dia, trabalha 8 horas por dias e recebe um salário no final do mês. Talvez o medo de ter que acabar como os demais reles mortais o tenha feito tentar o suícidio.

A dinâmica do show business é totalmente diversa de uma vida de anonimato e ainda que possa ser criticada, quando se vive nela, acostuma-se com a roda viva. Ver e ser visto, criticado ou elogiado mexe com o ego de qualquer pessoa. De uma maneira ou de outra, todos procuram ser reconhecidos e ver o seu nome nos jornais, nas ruas; ser célebre no meio da multidão de anônimos faz o indivíduo acreditar ser diferente dos demais.

O problema maior está quando se perde a dimensão do quão falso é esse mundo de aparências e pior ainda é ter que voltar a ser anônimo, se ver como mais um quando se acreditava ser o outro, aquele que um dia já foi cultuado. É aí que surgem as histórias de gente que esquecida pela mídia e num afã de voltar aos holofotes fazem coisas das quais a nossa racionalidade não compreende, chegando até a tentar se matar.

Não creio que esse seja o caso específico de Arnaldo Baptista, pois se trata de um grande artista, menos interessado em aparecer na mídia do que em viver da sua arte. Mas o seu caso me fez pensar nesse mundo de celebridades, no qual inebria a tantos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Irritada com o twitter

Novas ferramentas eletrônicas só servem para nos fazer passar cada vez mais tempo em frente ao computador. Estão sempre surgindo novas, porém nada me irrita mais do que o twitter. E o que mais me irrita nem é o tempo perdido no mundo virtual, sequer a quantidade de spams que também se proliferam por lá. Irritante mesmo são as pessoas. Não todas, é claro, até é possível encontrar coisas interessantes em 140 caracteres, porém tem gente que acha que está no big brother e relata cada momento da sua vida.

Aí eu me pergunto, qual a relevância de saber que fulano está no ônibus indo para aula ou para casa? Se sicrano vai almoçar com a mãe, com o pai, com o namorado ou com o bispo? Acho muita presunção das pessoas acreditarem que o seu dia-a-dia é tão interessante a ponto de merecer ser publicado.

No fundo todas essas ferramentas se inserem no contexto no qual estamos inseridos, em que há um culto à celebridade. Todos querem ser vistos e reconhecidos, não importa a que preço. Mas tal fato não exclui o meu direito de deletar todos as pseudo celebridades que surjam no meu twitter. Sou chata com isso mesmo...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Uma descoberta desesperadora

Descobri que não sei escrever. Uma das minhas tantas verdades provisórias é querer escrever como a Clarice Lispector. Óbvio que não conseguirei, ela é apenas o meu referencial distante, mas o problema é que ao escrever meu projeto de mestrado constatei algo mais óbvio ainda: minha dificuldade em articular os períodos é imensa, abuso do "que" para ligá-los e não tenho sequer o domínio do jargão acadêmico .

É algo pavoroso, a primeira versão do projeto estava de assustar até mesmo quem não é tão ligado às regras gramaticais e semânticas da língua portuguesa. Eu já sabia e tinha até me acostumado com a ideia de não dominar a linguagem literária, sei que não tinha futuro como Clarice Lispector, mas pelo menos me restava a linguagem científica.

Essa esperança de ter sucesso na escrita científica vinha da minha última aula de temas de sociologia, pois o professor, ao citar um autor que escreveu sobre o surgimento da disciplina, dizia ser a sociologia uma disciplina nascida da disputa entre as ciências naturais e a literatura, e de acordo com o momento histórico pendia mais para um lado ou para outro. Pois, bem, os últimos dias me mostraram que eu não consigo escrever nem de uma maneira, nem de outra, ou seja, na escrita científica também estou fadada a não ter muito sucesso.

Estou arrasada, será que me restará apenas a burocracia do direito????

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dignidade para que??

Eu gosto desse povo porque eles são pioneiros na jogação e o vídeo do post está aqui como uma homenagem ao fim de semana e por causa das seguintes razões:

- Porque eu já falei do Luis no post anterior, ele é latifundiário, mas é meu amigo e é super fashion, pula de óculos de sol (a marca é cara, podem ter certeza, só que ele nunca sabe o preço das coisas que compra) na piscina e dissemina a discórdia no mundo. E também porque agora ele é mais conhecido como o Alexandre de "A viagem", o que por si só já dá para saber que eu tenho muito medo...

- Porque a Thaís é mais conhecida como a " Profeta do Apocalipse". Ela é linda, mas não se enganem com os seus belos olhos azuis, especialmente se você for mulher. Tema, pois alguém denominada como "profeta do apocalipse" quando entra em ação não deixa pedra sobre pedra.

- Porque o Joãozinho é o ser mais superior que alguém possa conhecer. Só isso porque ele tem uma reputação ilibada a zelar e eu sou a pessoa que tem mais interesses escusos para que ele se torne juiz, por isso deixo as suas demais ações na esfera privada . (e antes que falem alguma coisa, sim, eu sou tendenciosa, mas é mais forte que eu, é muito amor. E um aviso: nem adianta quererem colocar olho gordo na nossa relação porque não pega, é perda de tempo. Então, no máximo leiam isso e mordam os cotovelos.)

E como já escrevi demais, segue o vídeo, os personagens do post são os três primeiros a pularem na piscina:



Nossa, esse blog já foi mais sério...essa mudança só pode ser culpa do Luis, tenho certeza...

Sobre uma certa contradição

A vida é realmente cheia de contradições, mas algumas delas nos pegam de um jeito que não há dialética que consiga interpretar. Eu caí numa dessas, conheci um latifundiário, que por uma dessas ironias do destino se tornou meu amigo.

Quando o conheci sabia que ele era filho de usineiro, mas a minha cabeça avoada não ligou as usinas do pai às fazendas de cana no interior de São Paulo. Nos conhecemos e a empatia foi logo de início, bastou um dia para estarmos nos jogando na balada como se fossemos velhos conhecidos, ele é uma daquelas pessoas que não teve vergonha de perder a dignidade junto comigo na noite do meu aniversário.

Pois bem, passados quinze dias, eis que meu novo amigo volta para São Paulo e em uma conversa eu descubro que o seu pai tem usinas de cana-de-açúcar, várias fazendas, ou seja, a definição do latifundiário que sempre me causou repulsa.

Porém, nesse momento da descoberta nós já éramos amigos e eu me vi diante de uma pessoa que em teoria deveria odiar, pois representa a concentração de renda, a exploração do trabalho e muitas outras coisas que abomino, mas que eu gostava muito.

O resultado de tudo isso é que hoje posso dizer que eu tenho um amigo latifundiário, que embora eu ache que tenha que fazer reforma agrária nas fazendas do pai dele é a primeira pessoa que eu esconderia em uma revolução, para tê-lo expropriado, mas com vida, ainda que no socialismo.

sábado, 15 de agosto de 2009

...

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.



Fernando Pessoa
(Odes de Ricardo Reis)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Um dia

Um dia, aprendemos que a vida não pode ser a extensão de nossos sonhos, aprendemos que as pessoas também não podem caber neles, há um descompasso, sonhos são muito maiores do que pessoas. Com o tempo, aprendemos que mesmo o maior dos amores pode não bastar, ainda que recíproco, ainda que eterno.

Mas também há o dia em que acordamos e resolvemos viver tudo, até a última gota, mesmo que na sua incompletude, na sua falta de perspectiva. É o dia em que aceitamos que continuaremos a sonhar, a amar, mas que acima de tudo, sabemos que é preciso viver, apesar de...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

De tragédias e farsas: Serra e a lei antifumo

Antes de mais nada, não, eu não fumo. Muito pelo contrário, tenho rinite e o cheiro do cigarro me irrita bastante. Mas sinceramente, nada nem ninguém me irrita mais do que os defensores do governador e o próprio governador, aliás acho que de tucanos só o Fernando Henrique me causa mais asco do que o Serra.

O engraçado é que se a lei antifumo viesse do governo federal com certeza estaria infringindo a liberdade individual, iriamos ter Arnaldo Jabores da vida e a tropa de choque da "Força Serra Presidente" toda caindo matando em cima da lei, mas como vem do digníssimo José Serra é uma lei de civilizados, como existe em tantos outros países civilizados.

Faça-me o favor, uma lei estadual sendo defendida com tanta veemência no horário nobre, tantas justificações ideológicas para uma lei que tem muito o que ser contestada ao analisar o seu texto integral me irritam profundamente, mais do que isso, ver tanta hipocrisia me deixa profundamente indignada.

Isso sem contar a quantidade de dinheiro gasto com propaganda. Algo que como vem da tucanada ninguém reclama. Se bem que por um outro lado isso até vai ter um efeito positivo, pois sempre que subo as escadas do meu prédio e vejo o cartaz da lei nas paredes eu me lembro do José Serra, lembro especialmente que ano que vem vai ter eleição, ele vai ser candidato a presidente e além da forte campanha contra que pretendo fazer, espero que a derrota seja maior e mais vergonhosa do que a de 2002.

E há nisso tudo ainda mais um agravante, pois já que o nosso querido governador fez essa lei às vésperas de ano eleitoral vai fazer de tudo para que ela pegue e alavanque a sua candidatura, o que siginifica mais gastos e mais obscuridades. O que eu quero ver é como vai ser o controle em universidades, por exemplo, um local onde nem o uso de maconha eles conseguem conter, mas isso já é um outro assunto.

O fato é que o dinheiro a ser gasto com a fiscalização vai ser bizarro, mas como a classe média paulista tem grande interesse em eleger um dos seus pares, já que oito anos com um metalúrgico que distribui dinheiro para pobre na presidência foi o ápice da humilhação, todos farão vistas grossas. Então, depois dos fiscais do Sarney agora teremos os fiscais do Serra. Realmente, Marx tinha razão, a história repete, primeiro como tragédia e depois como farsa.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Foi Carmem

O mágico da arte é o fato de que muitas vezes ela não precisa de palavras para nos tocar, a sensação de observar uma obra de arte pode ser capaz de nos transformar. E quem for ao teatro ver "Foi Carmem" vai entender o que eu digo.

Como assim, uma peça de teatro sem palavras? Sim, não há diálogos no espetáculo, mas em todo o momento o mito Carmem Miranda está presente, em imagens que nos carregam em busca daquela Carmem construída pelo malandro, pela menina, pela passista.

Assistir "Foi Carmem" é ter contato com o que há de mais sublime na arte, é mais do que um espetáculo teatral, é um contato com as artes plásticas, com a dança, em síntese, com tudo que mais nos comove.

E para mim, mais do que isso, foi um reencontro com muito do que acredito e que acreditava estar perdido. Foi como se voltasse a um tempo para que pudesse reconstruir algumas coisas. Foi preciso encontrar o mito para que o desmitificasse.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sobre a lua, a terra, deuses e sobre ser criatura ou criador

Dias atrás estava vendo mais uma das várias reportagens sobre os quarenta anos da chegada do homem à lua. Polêmicas a parte se o feito foi verdade ou não, o que me fez pensar foi fato de que a lua se afasta cada vez mais da terra e que daqui a bilhões de anos ela vai desaparecer.

Alguém já parou para pensar o quanto é bilhões de anos? Incrível como não consigo imaginar tudo isso, me dá até um desespero quando ouço falar em bilhões de anos. Certamente não estaremos aqui. Mas aí me vem uma outra indagação: quantos anos a mais teremos na terra? Os humanos são tão autodestrutivos que não chutaria uma quantidade muito grande de anos.

E quando paro para refletir sobre esses assuntos uma pergunta sempre leva a outra. Por que será que estamos aqui? Como será que surge uma espécie e por que ela se extingue? Quando acabar a vida humana na Terra, será que ela existirá em outros lugares? São tantos os mistérios que envolvem a vida que se fossemos refletir sobre tudo enlouqueceríamos.

E nessa história toda, as religiões são as que foram mais espertas. Criaram um ser supremo que se responsabilizou por tudo que acontece no mundo. Ter um deus para acreditar controla muita de nossas inquietações. Melhor ainda se esse deus for uno, diferente daqueles das religiões pagãs, que eram múltiplos e que poderiam levar a alguma confusão.

Mais interessante ainda é pensar como os deuses passam de criatura a criador. Na verdade não sei se existe realmente um ou vários deuses, mas se ele (ou eles) existe ,creio que não esteja nele a resposta para todas as nossas perguntas. Também não estou disposta a desvendar tão cedo esses mistérios, por enquanto prefiro levar a minha vidinha medíocre aqui na Terra. Mas como diria Hamlet "há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia". A frase é clichê, porém verdadeira, e disso não tenho dúvida alguma.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Apenas o fim

Finalmente fui assistir a Apenas o Fim, que tanto tinha ouvido falar, e como a maioria das pessoas que também o assistiram, surpreendi-me. O filme foi todo rodado na PUC - Rio, com baixissímo orçamento e o diretor é um aluno do terceiro ano do curso de cinema que tem apenas 20 anos.

Para quem é ligado em cinema com certeza já ficou sabendo das repercussões sobre o filme de estreia de Matheus Souza, que virou o queridinho de cineastas como Bruno Barreto e Domingos de Oliveira. Inclusive, Matheus foi convidado por Oliveira para dirigir a nova versão da peça Confissões de Adolescente.

Quanto ao filme, é impossível não compará-lo com Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol. São oitenta minutos de diálogos entre um casal que está prestes a se separar. E para aqueles que estão na faixa dos vinte e poucos anos, dificilmente não se identificarão com alguma das falas dos personagens, pois Apenas o Fim é recheado de referências a cultura pop. São referências que vão de tartarungas ninjas a Godard, passando por Cavaleiros do Zodíaco, Britney Spears chegando até a citar Bergman.

Isso sem contar que há aquele componente universal, que são os relacionamentos. Nesse ponto, o filme atinge uma sensibilidade incrível. Através daquela última hora do relacionamento, já que dali a pouco tempo um dos personagens vai partir, o casal consegue repassar suas vidas, seu relacionamento, suas histórias das mais cotidianas possíveis, de uma maneira a torná-las em algo que emociona.

Ao final, saí do cinema com a sensação de que o fim é apenas um recomeço e de que morrer de amor deve ser a melhor morte que há, pois sempre perceberemos no dia seguinte que sobrevivemos. É isso, estamos sempre recomeçando e o fim não é o ponto final de tudo.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

...

"Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Quando o amor é grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável, e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto. Fico perplexa como uma criança ao notar que mesmo no amor tem-se que ter bom senso e senso de medida. Ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa."
Clarice Lispector

O Reencontro

Dez anos havia se passado desde o último encontro. Naqueles dias, ainda adolescentes, sentávamos em algum bar e discutíamos nossos planos, tínhamos pressa em mudar o mundo. Mas houve o dia derradeiro, era a hora de nos separar, a partir daquele momento cada um seguiria o seu destino e os encontros seriam cada vez mais raros.

A vida nos levou para os mais diversos caminhos, com o tempo já não mais nos víamos, nossa comunicação se resumia a alguns raros emails e se déssemos sorte, quem sabe um encontro casual. Nas datas que reservávamos para nós, sempre faltava algum, que por um motivo qualquer não podia estar presente.

Com o tempo, endurecemos um pouco, por vezes deixamos de lado o que acreditávamos, houve períodos em que deixamos nossos sonhos embrulhados numa gaveta e chegamos a pensar em aceitar o mundo tal como ele nos apresentava. Outras vezes tentamos esquecer tudo o que vivemos, alguns de nós teimamos em crer que não haveria mais volta.

Mas eis que pelas voltas que o mundo dá, dez anos depois estamos unidos novamente. Cada um a sua maneira preserva em si o adolescente que se indignava. Crescemos, já não temos tanta pressa, sabemos das nossas limitações, porém guardamos o melhor daquela época. No fundo continuamos os mesmos, com os mesmos sonhos.

Os pessimistas dirão que isso acontece porque ainda somos jovens, nenhum de nós sequer ainda tem trinta anos e com o tempo seremos adultos céticos. Mas resistimos mais uma vez, a nossa resposta é o que construímos. E o melhor dessa história é olhar para nós e perceber que o essencial permanece e que acima de tudo somos amigos, o que é muita coisa.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Toda maneira de amar vale a pena??

Uma das conversas constantes que tenho com um amigo é sobre a ideia de amor livre e a dificuldade em conciliar isso com o sentimento de posse que temos pelo outro. Mas dia desses ele me veio com um link que explicava o que era poliamor. Li tudo e ao final saí com a sensação de que sou conservadora em relação a sentimentos.

Não acredito em monogamia, acho totalmente contrária à essência humana, somos monogâmicos por imposição social. Acredito que podemos ter desejos por mais de uma pessoa ao mesmo tempo, mesmo porque, por mais que estejamos com alguém que seja a pessoa mais maravilhosa do mundo, ela não vai nos suprir em tudo. Porém, não consigo conceber a ideia de dividir o amor de alguém em um nível de profundidade que supere a atração sexual ou a paixão fulgaz.

Nesse momento meu lado leonino possessivo fala mais alto, pensar que eu tenho um relacionamento com alguém que pode amar outra pessoa de maneira mais dedicada ou talvez mais profunda me causaria sofrimento demais. Definitivamente não estou preparada para essa concepção de poliamor, não sou um ser evoluído a esse ponto.

A contradição que tento conciliar em mim é entre o meu lado ciumento e o meu lado que acredita que se há amor e acima de tudo confiança, não há razão para ter um relacionamento baseado em sentimentos de posse. Mas não é nada fácil, somos educados a acreditar que somos uma metade que busca a sua outra parte para que juntos se tornem uma única pessoa. Alíás, essa história é horrível, não sou uma metade incompleta, sou um inteiro e se estiver com alguém é porque eu quero, porque há amor e somos felizes juntos e não porque preciso desse outro para me completar.

Acho que se partirmos desse pressuposto poderemos construir relacionamentos mais saudáveis, mesmo que não cheguemos a conceber viver um poliamor, que nem sempre é a forma mais libertária de amar. Acima de tudo, creio que o mais importante é construir algo em que não haja lugar para hipocrisia, porque de hipócrita já basta a grande maioria das pessoas que nos rodeia.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Encontros

Aprendi com Vinícius que a vida é arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida. E no meio de tantos desencontros, nos reencontramos. Ou melhor, nas idas e vindas de nossos encontros, descobrimos a nós mesmos.

Difícil descrever o estado de felicidade, difícil descrever o que para o senso comum é incompreensível. É simplesmente algo que não tem nome, quer dizer, pode-se dar o nome que quiser, o título é totalmente desnecessário diante do que vivemos.

Relatar qualquer coisa a mais não tem o menor sentido, mesmo porque, palavra nenhuma traduziria todos esses momentos. Ficamos assim então, deixemos nossas vidas também como nosso segredo.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A respeito de livros e relacionamentos

Escrever sobre o relacionamento de Jean Paul Sarte e Simone de Beauvoir me lembrou uma outra escritora francesa que estará no Brasil para a Flip desse ano. A escritora chama-se Catharine Millet, uma respeitada crítica de arte, diretora da revista Art Press. Catherine expôs sua vida privada em dois livros, chamados "A Vida Sexual de Catherine M." e "A Outra Vida de Catherine M."

Ainda não tive a oportunidade de ler nenhum dos seus livros, mas ao me debruçar sobre a história do relacionamento de Sartre e Beauvoir, me deparei com várias comparações com tal autora. Em "A vida Sexual de Catherine M.", a escritora cousou escândalo mundial ao relatar com detalhes suas aventuras sexuais, inclusive orgias com até 150 pessoas. Porém, em "A Outra Vida de Catherine M.", a mulher libertária e segura dá lugar a esposa ciumenta que ao descobrir que o marido também mantinha relações extraconjugais, passa a revirar suas correspondências e a segui-lo. Em entrevista à Revista da Livraria Cultura, Catherine conta com detalhes como conviveu com o sentimento que chega a comparar com estupradores em série.

Tais relatos só nos mostram ainda mais a contradição do humano, ser humano é ser inevitavelmente contraditório. Sempre que tenho uma das intermináveis discussões, ouço a frase: "Você não é Simone de Beauvoir!". Sim, sei que não sou, e acho que também não queria ser. Óbvio que intelectualmente não seria nada ruim ser Simone de Beauvoir, mas não sei se queria ter o relacionamento que ela teve com Sartre, embora os admire profundamente.

Sartre e Beauvoir tiveram uma relação belíssima, mas eles não eram propriamente um casal. Não havia desejo entre eles, o prazer Simone de Beauvoir procurou em outras relações. Suas correspondências com Nelson Algren, o amante americano, mostram uma mulher apaixonada, diferente da feminista militante.

Por isso, ao ler essas histórias me sinto menos hipócrita, pois acredito realmente que as pessoas têm que viver os seus desejos. Por mais segura que possa ser em relação ao sentimento de outra pessoa, não creio que eu seja a única que povoe os desejos dela, assim como acredito que a pior forma de lidar com eles é sublimando-os. Mas isso não significa que seja uma questão fácil, somos educados a enxergar as pessoas que amamos como nossa propriedade, nos referimos a elas com pronomes possessivos, é o "meu" pai, "meu" amigo, "meu" namorado, temos dificuldades em concebê-las como seres livres.

Talvez nossa dificuldade em amar simplesmente, o que nos leva a muitas de nossas contradições, esteja naquilo que Milan Kundera escreveu, nós interrogamos muito o amor, gastamos muito tempo com perguntas tais como "será que ele me ama? será que gosta mais de mim do que eu dele? terá gostado de alguém mais do que de mim?". Acho que é isso, por enquanto fico com essa pseudo conclusão, que nem minha é: "Se somos incapazes de amar, talvez seja porque desejamos ser amados, quer dizer, queremos alguma coisa do outro (o amor), em vez de chegar a ele sem reivindicações, desejando apenas sua simples presença."

terça-feira, 30 de junho de 2009

Sobre Simone de Beauvoir e Sartre nº 2

Depois de algum tempo consegui terminar de ler Tête-à-Tête, a biografia do relacionamento de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, escrita pela americana Hazel Howley. Para quem não conhece, ou conhece apenas superficialmente a história do relacionamento aberto mais famoso do século XX, o livro é bem interessante.

Ao percorrer as suas páginas, encontramos um mundo muitas vezes incompreensível. Não havia nada de convencional no relacionamento dos dois, sete anos após se conhecerem, Sartre e Beauvoir não mais tiveram relações sexuais, o que os ligava era a intelectualidade e a paixão pela escrita. Tudo o que viveram foi transformado em narrativa, o pacto de lealdade que os unia foi mais forte do que qualquer relação que ambos tivessem.

O outro lado disso tudo é que com suas amantes Sartre era machista e arrogante, os relatos são de um homem com problemas em relação a sua feiura e que a compensava seduzindo mulheres bonitas. Sartre sempre sustentou suas amantes, até o fim da vida. Simone por sua vez, sempre sofreu com o ciúmes que tinha de Sarte, há no livro a história de que ela desmarcou um encontro com Nelson Algren, uma de suas grandes paixões, para ficar com Sartre, que acabou tendo problemas com uma de suas amantes e não pode encontrá-la. Simone ficou desconsolada, tentou remarcar sua viagem com Algren, mas não foi possível.

A história do casal existencialista mostra que a liberdade tão apregoada por ambos é muito difícil de ser vivida na prática, é um exercício constante e que precisa ser sempre renovado. Para viver o pacto que fizeram, tiveram que mentir para todos, se entre ambos nada passaria impune, tudo seria relatado, com os outros sempre houve uma vida de aparências, muitas das amantes de Sartre não sabiam de seus encontros com Beauvoir. Porém, nas cartas que trocavam, Sartre e Beauvoir eram implacáveis com todos, intelectualmente brilhantes, tinham plena consciência do que os unia era algo muito mais intenso.

No empenho de ambos em expor suas vidas como se vivessem para contar, nos deparamos com as contradições do humano, nos deparamos com a escritora feminista e o filósofo que sustenta suas amantes dizendo não respeitar "um homem que deixava sua mulher ao deus-dará". Vemos uma mulher que valoriza a sinceridade escondendo seu ciúmes das amantes de Sartre.

Mas no balanço de tudo, o que fica é a história fascinante de pessoas em que o mundo até hoje não é capaz de conceber. Especialmente, fica a história de uma mulher intelectualmente brilhante, que ousou passar por cima de todos os valores de sua época, que amou intensamente homens e mulheres, que produziu grandes obras da literatura, que se firmou como o grande ícone de uma época e que até hoje seduz corações e mentes.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A gripe suína e a divisão de classe

A FEA parou. Não, o mundo não está de cabeça para baixo e o pessoal do shopping da USP não resolveu entrar em greve, foi tudo culpa da gripe suína. Foram descobertos três casos da doença por lá.

Pronto, mais um argumento para comprovar a minha tese de que no Brasil a tal gripe do porco tem um recorte de classe. A grande maioria dos infectados vieram de alguma viagem ao exterior. A recomendação do ministério da saúde é para as pessoas evitarem viajar para países como Chile e Argentina.

Por mais que não seja o cúmulo da riqueza viajar para a Argentina, as passagens de avião para lá nessa época do ano não costumam ser das mais baratas. E tem também o fato de que várias escolas particulares encerraram as aulas antes por causa da doença e agora foi a vez da FEA encerrar o semestre pelo mesmo motivo.

Daqui a pouco, passado o medo e a desinformação sobre o novo vírus, os brasileiros vão preferir ter gripe suína a gripe normal, porque é mais chique. Coisa de rico no Brasil vai ser ter a gripe do porco. E de pensar que o vírus começou a se espalhar pela fronteira do México com os Estados Unidos...contraditório, não??

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Chico


"Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz..."





65 anos de uma vida vivida sem interrupções...

Chico é gênio, Chico é o malandro sambista, Chico é o corpo e a alma do que melhor se faz nesse país...

ai, ai...se todos fossem iguais a você...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Greve na USP, e eu com isso?

Tanta bobagem e tanto reacionarismo que vejo e leio por aí que não consigo ficar quieta. Todos sabem que há uma greve na USP (e muitos falam a ladainha de sempre: mais uma greve, uma "greve política", aliás esse argumento é o que mais me intriga, como se existisse uma greve ou uma mobilização que não fosse política, bando de vagabundos e daí para pior) que já dura mais de um mês e que CRUESP (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo) mantinha uma postura de se negar a negociar com os funcionários.

Estranho que tal postura os defensores da lei e da ordem não chamam de sectária. Mas isso nem vem ao caso na minha história nesse momento. O fato é que funcionários em greve resolvem fazer um piquete em frente à reitoria, visto que a coação moral no topo da estrutura de poder é muito maior, o que dificulta qualquer movimento reivindicatório (ou alguém acha que fazer greve trabalhando diretamente com o patrão é mais fácil???) e obtém como resposta a tropa de choque da polícia militar.

Aí entra uma dúvida que eu fiquei, se a reitoria sempre afirmou que os grevistas eram uma minoria, que não chegava nem a 10% os funcionários que estavam paralisados, por que utilizar a tropa de choque da PM para dispersar uma manifestação desses trabalhadores? No mínimo houve uma desproporção de forças, isso sem contar que o ato me cheirou a república velha, quando a questão social era um caso de polícia.

Diante da truculência da reitora, estudantes e professores resolvem entrar em greve exigindo a retirada da tropa de choque da universidade e em uma das manifestações do movimento ocorre o episódio lamentável do último dia 9 de junho. A universidade, local de produção de conhecimento e de um pensamento crítico da sociedade estava sitiada.

A partir desse momento, eu que não estava tão certa de que a greve era a melhor saída para o impasse, passei a defender com unhas e dentes o movimento, o confronto com a PM me fez acreditar que a saída é ampliá-lo, crescer com a mobilização e ir até as últimas consequências, lutar até o fim para conseguir não só a saída da reitora como uma mudança profunda na estrutura de poder na universidade.

Só que por maior que seja a nossa vontade de fazer diferente, ela esbarra na falta de disposição para o debate por parte de muitos estudantes. Depois de 8 anos na USP e 2 graduações, nunca tinha visto algo tão forte no sentido de deslegitimar o movimento. Existe até uma enquete na internet feita especificamente para corroborar com a opinião passada pela mídia de que os grevistas estão impedindo os estudantes de estudar. Como se greve pudesse ser discutida pela internet.

Qualquer movimento social e político precisa de debate, confronto de opiniões, não cabe uma atitude passiva, o que precisamos é de espaços em que a decisão seja coletiva e fruto de um debate horizontal. Não precisamos de mais polícia, precisamos é de aproximar a universidade das lutas sociais do país, precisamos é de mais mobilização.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Explicação nº2

Preguiça master de atualizar esse espaço. Não sei o porquê disso, mas ultimamente sempre que penso em algo para escrever aqui logo abandono a idéia pelo caminho. Não que não exista assuntos a serem relatados, muito pelo contrário, eles são vários, há uma uma greve na USP, a PM invadiu o campus, algo que não ocorria desde a ditadura militar, soltaram uma bomba em um dos redutos gays na cidade, no dia do orgulho LGBTT, além de muitas outras coisas que me atingem direta ou indiretamente, poderia até escrever sobre o quase pé na bunda que eu levei no último domingo.

Mas não tenho vontade de usar esse espaço nos últimos dias. Talvez porque tudo esteja um pouco confuso, as idéias se misturam, acho que não tenho muito o que dizer. Por enquanto vou procurar desatar alguns nós apenas vivendo, em breve volto ao blog.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Recomeçar

"O fim da viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre."
José Saramago

Reinventar nossa própria história. A tarefa parece difícil, pois nos acostumamos com um determinado correr dos dias, com a segurança de algo que depois de tanto tempo parece mais sólido do que nunca. Mas de repente, olhamos a nossa volta e resolvemos que queremos reescrever aquilo que já parecia traçado.

O primeiro momento é aquele em que não aceitamos, acreditamos que tudo possa ser apenas um delírio, que daqui a pouco vamos levantar, lavar o rosto e tudo seguirá o seu curso. Por algum tempo tentamos enganar a nós mesmos, mas dura pouco, enganar a si mesmo é o mais dilacerante dos enganos.

Então resolvemos fugir, seguir uma nova viagem, sozinhos. Porém, mais uma vez percebemos que tal história não poderá ser refeita somente a duas mãos, já que se assim fosse, ela perderia a sua essência, que é também a nossa própria essência.

Quando resolvemos encarar de frente o fato de seguir um novo caminho, de renunciar às solidas conquistas, muitas vezes nos falta coragem. A nossa falta de coragem se juntam nossos medos, nossas incertezas e nesse momento nos apequenamos. É quando surgem as palavras mais duras, as atitudes contraditórias ao nosso maior desejo.

E no momento derradeiro, em que estamos no limiar entre duas escolhas que igualmente mudarão nossas vidas é que o caminho percorrido até o momento nos mostra que é possível reconstruir nossa história sem perder a substância que nos faz tão próximos. Daí vem a nossa decisão: "voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles".

Recomeçamos nossa viagem, agora o medo é algo que nos coloca um desafio, e como já temos coragem, estamos abertos ao que nos vem pela frente. Algo de novo toma o lugar do que está terminando, talvez um dia nos arriscaremos a dizer que os ventos do inverno que se aproximava trouxeram com eles, por mais contraditório que seja, algo tão quente como a paixão.

Sim, é preciso recomeçar a viagem. Sempre.

...

Tatuagem
Composição: Chico Buarque - Ruy Guerra

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega
Mas não lava

Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta
Morta de cansaço

Quero pesar feito cruz nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem
Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, a ferro e fogo
Em carne viva

Corações de mãe
Arpões, sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sentes

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Sobre Simone de Beauvoir e Sartre

Fragmentos de uma conversa no msn:

- O que vc está lendo??
- Hummm...ando sem tempo para ler outras coisas que não os textos da faculdade. Mas estou lendo História e Consciência de Classe, faço uma matéria em sobre Lukács, pode ser esse??

Resultado: Dez minutos na livraria e um surto consumista. E agora posso dizer que estou lendo Tête-à-Tête, uma biografia do relacionamento de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre. Ainda estou na página 50, entretanto, já li o suficiente para entrar em crise e me achar bem conservadora.

Sei que mais para frente há relatos que mostram que a relação deles não era perfeita, eles não conseguiram, por exemplo, eliminar totalmente o ciúme, mas o que eles construíram foi tão grande e tão intenso que parece ficção. A cada página que leio, sinto que estou mergulhando em uma dessas histórias que somente a literatura poderia criar.

No fundo era isso, eles queriam transformar suas vidas em uma narrativa, viver para contar. É um convite para descobrir essa que para mim é uma das maiores histórias de amor de todos os tempos. Fora as fofocas da intelectualidade francesa, mas isso já é uma outra história.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

...

"Mas eu gostava dele, dia mais, mais gostava.Como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe e eu só nele pensava. E eu mesmo não entendia o que aquilo era? Sei que sim. Mas não. E eu mesmo entender não queria.Acho que. Aquela meiguice desigual que ele sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo próximo, quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braços, que ás vezes adivinhei insensatamente – tentação destas eu espairecia, aí rijo comigo renegava."
Guimarães Rosa - GS:V

Dúvida

Por que sempre teimamos em arrumar problemas onde eles não existem?? Às vezes tenho a impressão de que não sabemos lidar muito bem com a felicidade.

Seria isso, seria a felicidade uma capacidade que não conseguimos adquirir plenamente? Se bem que se trata de uma ideia um tanto quanto abstrata, essa coisa de ser feliz...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Viver

Andava pela rua em uma madrugada fria de inverno, o vento soprava forte. Qualquer outro que estivesse em seu lugar sentiria o ar gelado cortando o rosto, mas com ele não, não mais sentia nada, nenhuma sensação, apenas andava.

Talvez andar sem rumo pela grande metrópole seria seu único desejo no momento, havia deixado para trás toda a sua vida, sequer trazia consigo um documento, não queria ser identificado. Pensava que assim se igualaria àquelas pessoas que viviam nas redondezas da sua casa. Não, no fundo ele sabia que não se igualaria a elas, seu ar pequeno burguês o identificava de alguma maneira.

Por um instante quis parar, sentar em algum bar e beber tudo aquilo que sempre o consumiu. Não era possível, não tinha dinheiro sequer para um gole. Resolveu então apertar o passo, quem sabe não encontraria, ao virar a próxima esquina, algo que permanentemente procurou por toda a sua vida. Mas como seria possível encontrar uma coisa que não se sabe o que é??

Ele já não mais conseguia discernir o que era sonho e o que era real, só sabia que tudo o que vivera até aquele momento não mais lhe cabia. Mais alguns passos e um tropeço, por trás dos sacos de lixo em que havia tropeçado havia um homem, tão invisível quanto todo aquele lixo que se acumulava na rua.

Os pensamentos que lhe surgiam o atordoava, não sabia o que falar, pensou em pedir desculpas ao homem por acordá-lo, mas achou melhor não se desculpar. O homem sabia da sua invisibilidade, assim como a daqueles sacos de lixo, que só seriam percebidos quando começassem a feder, pedir desculpas era inútil.

Paralisado, olhava fixamente nos olhos do homem, que sem entender muito bem, disse a ele:
- Não sei quem você é, muito menos o que faz por aqui, mas pela sua cara de playboy sei que não procura um lugar menos gelado para tentar dormir, então suponho que não queira dividir esse espaço comigo. Está frio, não tenho um puto no bolso e a única coisa que eu quero é dormir. Você já me acordou com o seu barulho, agora tira seu olho daqui e some.

Foi aí que sentiu pela primeira vez naquela noite o vento cortar seu rosto. Sabia que alguma coisa havia mudado, que nada mais seria como antes. Sentiu-se vivo novamente. Sua primeira atitude foi acatar a ordem daquele homem, sumiu de lá, sem dizer uma palavra. Continuaria a andar, mas agora ele tinha certeza de que recuperara as sensações, especialmente quando uma lágrima quente rolou seu rosto gelado pelo frio da madrugada. Sim, estava vivo...


domingo, 24 de maio de 2009

Pedido

Acho que já postei o texto da Clarice aqui nesse mesmo espaço, mas ele é o que melhor define o que eu queria dizer para muitas pessoas atualmente. É como se fosse um pedido, de quem apenas quer viver, sem dar nomes, definições.

O mais importante é o que levamos conosco, é o que somos, o que sentimos, o nome é só um detalhe. Não tenho nenhuma resposta às inquietações do mundo, apenas gostaria que escutassem o que peço:

Deixe-me viver!!!

Por não estarem distraídos

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector

Entendem por que não quero dar um nome??

sábado, 23 de maio de 2009

...

Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido...

...

Eu vi um menino correndo
eu vi o tempo brincando ao redor
do caminho daquele menino...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Equação

Do blog do Sérgio Roveri:

"Os dois rostos, mapeados por tantas histórias e tantas vivências, pareciam não reservar lugar para as mágoas – de alguma maneira, é como se tudo ali tivesse sido resolvido. E, mais que isso, como se tudo tivesse sido compreendido e perdoado. Talvez até mais perdoado do que compreendido – mas esta equação sim estava resolvida no semblante das duas grandes damas."


Será que um dia eu consigo resolver essa equação??

Minha confiança na humanidade é um pouco menor hoje, ainda não tenho capacidade de lidar com o perdão, não dessa vez...mas isso vai passar também, pois o humano tem essa dupla face, que me fascina e me aterroriza, ainda que nesse momento só consiga enxergar sua face aterrorizante...

Sei que tudo tem seu revés, e o que fascina está bem ao meu lado, e é o que me faz ter a certeza de que amanhã poderemos fazer diferente...e se, apesar da descrença, resta-me sobretudo a esperança é porque existe algo muito maior, a que damos o nome de muitas coisas e que eu prefiro chamar de amor.

Somente sentindo toda essa força é que quem sabe um dia poderei resolver essa equação...

Resposta

Neste momento só consigo dar como resposta ao mundo o meu silêncio, o que é muita coisa...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Contradição

O medo de ser enganada fez com que enganasse a mim mesma...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Explicação

Li hoje em uma lata de coca-cola:

"A coca-cola Brasil economiza 900 mil litros de água por ano".

Não entendi, fiquei pensando se seria possível que as pessoas no Brasil tomassem 900 mil litros de coca e por isso deixassem de beber essa quantidade de água todos os anos.

Preciso de uma explicação para essa informação...

Fim

Uma das belezas da vida está em poder sempre recomeçar, ainda que não recomecemos de verdade, ainda que seja tudo uma continuidade de algo que nunca vai terminar.

Tem vezes que precisamos de um rito para perceber a mudança, em outras apenas uma palavra, mas também há aquelas vezes em que a mudança se dá tão silenciosamente que nem percebemos que algo novo nasceu.

Acreditem, há sempre algo se renovando constantemente em nós, algo que muitas vezes não sabemos o que é, que outras tantas já estava presente de modo latente esperando apenas o momento certo para se manifestar.

Uma flor sempre nasce, ainda que seja a flor feia que rompe o asfalto. A vida tem dessas coisas.

E fim. Quem quiser que conte outra.

Valsinha

Chico Buarque / Vinícius de Morais

Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz



"— E então você não quis mais nada disso. E parou com a possibilidade de dor, o que nunca se faz impunemente. Apenas parou e nada encontrou além disso. Eu não digo que eu tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta. Não esta sua voz baixa e doce. E eu não choro, se for preciso um dia eu grito, Lóri. Estou em plena luta e muito mais perto do que se chama de pobre vitória humana do que você, mas é vitória. Eu já poderia ter você com o meu corpo e minha alma. Esperarei nem que sejam anos que você também tenha corpo-alma para amar. Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia. Mas eu escapei disso, Lóri, escapei com a ferocidade com que se escapa da peste, Lóri, e esperarei até você também estar mais pronta.

Lóri sempre se espantava de como Ulisses a conhecia. Mas apesar de ele poder compreender, receava sua censura ou de que ele desanimasse e a abandonasse, e nunca lhe dissera que o "mal" muitas vezes voltava: o ar dentro dela tinha então cheiro de poeira molhada. Vai recomeçar, meu Deus? Perguntava-se então. E reunia toda a sua força para parar a dor. Que dor era? A de existir? A de pertencer a alguma coisa desconhecida? A de ter nascido?"

Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres

terça-feira, 19 de maio de 2009

post scriptum

O post anterior foi só um desabafo, de quem acredita que a pior dor é aquela que causamos nas outras pessoas, pois é aquela que não podemos controlar. Porém, ainda acredito que devemos nos jogar na vida, mesmo com o risco da decepção, se não embrutecemos.
E quem disse que tudo é não, encontrei nas letras do Chico algo que diria a alguém nesse momento:
"Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não"

A vida é assim mesmo, a palavra é seguir em frente...

A respeito da dor e de ser humano

Procuro por algo que amenize a dor, mas até agora a procura foi em vão. Um dia acreditei que com a arte se curava a dor, buscava nos poemas o antídoto para o sofrimento, mas hoje as palavras não vêm. A palavra encantada não existe, Chico Buarque é inútil nesse momento.

Sei que vai passar, há sempre o momento em que acordamos e olhamos para o mundo que nos espera e percebemos a pequeneza de nossos problemas, aquele momento exato em que se levanta e se segue adiante, pouco importando a direção.

Agora, no entanto, a hora é a pior da trajetória, é aquela em que tudo parece não, em que o mundo parece que vai nos engolir, sem direito à defesa. Então, resolvemos ficar na escuridão, quietos, escondidos para que não nos levem. É a hora em que o pó vai se acumulando, o lixo cresce, os olhos incham.

Porém, chegará o dia em que perceberemos que a beleza do humano está na sua imperfeição, é quando abriremos a janela, espantaremos o pó junto com a dor, o tédio, e todo o sofrimento advindo de nossas ilusões de perfeição.

Criaremos novas ilusões, teremos novas dores que novamente passarão um dia, sabemos disso, mas continuaremos a viver nossas dores como se fosse a última, choraremos até a última lágrima, tudo numa imperfeição humanamente admirável...ou não...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

...

"Sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando, mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois."
Guimarães Rosa

Queria estar ao seu lado agora, poder te dizer que nada mudou nem vai mudar. Talvez não seja possível, nós mudamos. Nos desviamos de nós mesmos, arrumamos milhares de desculpas para cada sentimento contraditório, para cada vontade sublimada. Deixamos muitas coisas a serem ditas.

Por que será que chegamos a esse ponto? Ouvir de você que te decepcionei foi dolorido. Não tenho uma desculpa por ser tão diferente do que você esperava de mim. Você disse que esperava mais, mas não teria sido um personagem meu que foi criado na sua cabeça??

Tenho muitos medos, mas você também tem os seus. Se procurei em você respostas para as minhas dúvidas, você achou que encontraria em mim algumas soluções para as suas contradições. Se não pratico a liberdade que prego, você tampouco a vive. Somos feitos da mesma substância, o que me corrói, corrói a você da mesma maneira.

Mas algo importante de nós ainda existe, maior do que a decepção, bem maior do que a possível perda e a isso damos o nome de amor. É o que vai nos levar adiante, é esse sentimento que vai manter eternizado na minha memória seus olhos que me olhavam como um pedido, ainda que seja um amor sem senso de medida, que cresceu antes de brotar e que faz com que às vezes não saibamos o que fazer com ele.

Depois de todas as palavras ditas, que tal não resolvermos apenas viver o que sentimos? Sem cobranças, sem culpas, sem expectativas e especialmente sem medos...será que seríamos capazes?




sexta-feira, 15 de maio de 2009

Pela Liberdade na Internet

Para quem não sabe há um projeto de lei que tramita na Câmara que foi apelidado de AI-5 digital, pois criminaliza práticas cotidianas na internet. O projeto é um substitutivo de autoria do senador tucano Eduardo Azeredo e um dos artigos do projeto define como crime "obter ou transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular, quando exigida".

Trata-se de uma pauta relevante e pouco discutida, que se aprovada terá amplas consequências. Para quem quiser se interar mais sobre o assunto, abaixo segue pronunciamento do deputado Ivan Valente (PSOL) e o texto do convite para um ato público contra o projeto de lei sustitutivo do senador Azeredo:

A Internet é uma rede de comunicação aberta e livre. Nela, podemos criar conteúdos, formatos e tecnologias sem a necessidade de autorização de nenhum governo ou corporação. A Internet democratizou o acesso a informação e tem assegurado práticas colaborativas extremamente importantes para a diversidade cultural. A Internet é a maior expressão da era da informação.

A Internet reduziu as barreiras de entrada para se comunicar, para se disseminar mensagens. E isto incomoda grandes grupos econômicos e de intermediários da cultura. Por isso, se juntam para retirar da Internet as possibilidades de livre criação e de compartilhamento de bens culturais de de conhecimento.

Um projeto de lei do governo conservador de Sarkozi tentou bloquear as redes P2P na França e tornar suspeitos de prática criminosa todos os seus usuários. O projeto foi derrotado.

No Brasil, um projeto substitutivo sobre crimes na Internet aprovado e defendido pelo Senador Azeredo está para ser votado na Câmara de Deputados. Seu objetivo é criminalizar práticas cotidianas na Internet, tornar suspeitas as redes P2P, impedir a existência de redes abertas, reforçar o DRM que impedirá o livre uso de aparelhos digitais. Entre outros absurdos, o projeto quer transformar os provedores de acesso em uma espécie de polícia privada. O projeto coloca em risco a privacida de dos internautas e, se aprovado, elevará o já elavado custo de comunicação no Brasil.

Gostaríamos de convidá-lo a participar do ato público que será realizado no dia 14 de maio, às 19h30, em defesa da

LIBERDADE NA INTERNET
CONTRA O VIGILANTISMO NA COMUNICAÇÃO EM REDE
CONTRA O PROJETO DE LEI SUBSTITUTIVO DO SENADOR AZEREDO

O Ato será na Assembléia Legislativa de São Paulo e será transmitido em streaming para todo o país pela web.

PLENÁRIO FRANCO MONTORO
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DE SÃO PAULO
AV PEDRO ALVARES CABRAL S/N - IBIRAPUERA

http://www.ivanvalente.com.br/CN02/noticias/nots_07_det.asp?id=2253


Pela liberdade na internet

Na noite desta quinta-feira, participarei de um ato público em São Paulo sobre um tema da mais profunda importância para a democracia em nosso país: a liberdade de acesso e produção de conhecimento na internet. A manifestação, convocada por organizações da sociedade civil e diversos colegas deste Parlamento, incluindo o nosso mandato, debaterá os riscos do projeto Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo ao projeto de Lei da Câmara 89/2003 e aos Projetos de Lei do Senado n. 137/2000 e n. 76/2000. Já aprovado em julho passado no Senado, o PL tramita agora nesta Casa. Gostaria, então, de pontuar alguns de seus aspectos que, a meu ver, o transformam numa perigosa e autoritária ferramenta, que, se aprovado, autorizará o vigilantismo na rede e colocará o Brasil no rol dos países que impedem um funcionamento livre e democrático da internet.

A justificativa oficial do projeto é combater crimes cibernéticos, como a pedofilia virtual e crimes financeiros. Para enfrentar este problema, o projeto do senador Azeredo cria 13 novos crimes, com penas que variam de um a três anos de prisão na maior parte dos casos. Na prática, no entanto, em vez de se chegar com maior rapidez a este grupo determinado de usuários, o PL prevê a criminalização de práticas cotidianas e criativas do uso da rede, que fazem da internet, hoje, o meio mais plural de circulação e produção de informação. Caso seja aprovado, milhares de internautas serão transformados, de uma hora para a outra, em criminosos.

Um dos artigos do projeto define como crime "obter ou transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular, quando exigida". Ora, Sr. Presidente, este artigo criminalizará, por exemplo, usuários que baixam e trocam arquivos – sejam textos, vídeos, músicas – sem autorização do titular. Alguém que citar o trecho de uma matéria de um jornal on-line em seu blog, sem autorização prévia, poderá ir para a cadeia. Alguém que enviar a música favorita para um amigo também.

O projeto também determina que os provedores de acesso mantenham, por três anos, todos os dados de seus clientes, incluindo origem, data e horário do conteúdo acessado. E caso haja algum indício de crime em determinada navegação, essas empresas devem informar às autoridades os dados deste usuário. É o fim da privacidade na rede, numa medida que não terá eficácia no combate aos crimes de fato. É como se, no mundo real, todos os passos de um cidadão tivessem que ser registrados para que, caso ele cometesse um crime um dia, este histórico estivesse à disposição das autoridades. Se os provedores não agirem assim poderão ser multados. É a delação virtual obrigatória! Ou seja, as perseguições agora serão virtuais. Não à toa o PL Azeredo já foi apelidado de AI-5 digital.

Sem falar nas amplas conseqüências para o desenvolvimento da rede e a inclusão digital em nosso país. Como pensar daqui pra frente em iniciativas de inclusão digital que precisem arcar, por exemplo, com os custos de armazenamento desses dados? O PL Azeredo, na prática, vai bloquear o uso de redes P2P, controlar as redes de conexão abertas (Wi-Fi), inviabilizar sites de conteúdo colaborativo e reforçar o DRM, limitando o número de cópias de um possível arquivo.

Quem deve estar adorando a idéia é a indústria cultural, que tem buscado sem sucesso limitar o compartilhamento de arquivos na internet; ou então as operadoras de telecomunicações, que serão as únicas a conseguirem oferecer acesso “dentro da lei”.

Sras e srs deputados, não queremos aqui defender o uso indevido de informações e conteúdos ou os crimes financeiros. Mas, da forma como está redigido, o PL do Senador Azeredo trata práticas criativas e criminosas da mesma forma. O Ministério da Justiça já se dispôs a apresentar uma proposta alternativa, mas a redação do projeto do Executivo mantém a criminalização de práticas cotidianas e essenciais para o funcionamento livre da rede, para a manutenção de seu caráter aberto, plural e promotor da diversidade, para a garantia de que, neste espaço, todos possam ser produtores e distribuidores de conhecimento.

Somos um país cada vez mais conectado, com mais de 20 milhões de usuários. O que precisamos é de um marco regulatório civil para a Internet no Brasil, e não da criminalização generalizada dos nossos internautas. O acesso à internet precisa ser ainda mais democratizado no país, para que a rede cresça, e não para que seja controlada. Num país de vergonhosa concentração da propriedade dos meios de comunicação de massa, a internet é uma das poucas portas abertas para a diversidade informativa. Não podemos permitir que ela se feche.

Muito obrigado.

Deputado Federal Ivan Valente – PSOL/SP

Eterno

A obra eterniza o autor, ele já não pertence a seu tempo, não é do passado nem do presente e sequer será do futuro...A mãos que escreveram tais palavras são de uma atemporalidade assustadora...

e hoje lembrei-me especialmente de Carlos Drummond de Andrade...


E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.
Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
A vida eterna
E o fogo eterno

(Le silence éternel de ces espace infinis m’effraie)

- O que é eterno Yayá Lindinha?
- Ingrato é o amor que te tenho.

Eternalidade eternite eternaltivamente
eternuávamos
eterníssimo

A cada instante se criam novas categorias do eterno.

Eterna é a flor que se flana
Se souber abrir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem o nome.

e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto do enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e passageiras as obras
Eterno, mas até quando? É esse marulho em nós de um mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos afundamos.
E tentação e vertigem; e também a pirueta dos ébrios.

Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.

Mas não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma essência
ou nem isso.
E que eu desapareça e fique em chão varrido onde pousou uma sombra
E que não fique no chão nem fique na sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como um esponja no caos
e entre os oceanos de nada
gere um ritmo.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A respeito de se apaixonar e de se fazer escolhas

Li por aí que alguém escreveu que se apaixonar é uma escolha. Só posso discordar radicalmente de tal afirmação, pois diante de minha experiência empírica aceitá-la seria dizer que sempre procurei por problemas na vida.

Lembro-me das três grandes paixões que tive na vida: o primeiro saía de um relacionamento super complicado no qual eu era uma espécie de confidente dos seus problemas amorosos, quer dizer, saía não, durante todo o tempo em que eu fui louca por ele e mesmo depois ele tinha uma espécie de obsessão pela pessoa. O segundo foi a paixão mais maluca que vivi, durou dois meses, sendo que desde o início eu sabia que ele estava apenas de férias no Brasil e que quando voltasse para Europa logo se casaria. Em resumo, só poderia estar louca se tivesse escolhido me apaixonar por essas pessoas.

Se pudesse falar em escolha, quem sabe meu terceiro caso de paixão se encaixasse, mas esse na verdade eu me apaixonei antes pelo personagem do que pela pessoa. Após assistir sua peça, decidi que queria conhecer o tal ator por trás daquele personagem. E quando vi aquele ator franzino e tímido que se transformava no palco, não tive dúvidas, estava diante da minha mais nova paixão. A partir daí começaram todos os meus problemas, mas isso não vem ao caso, o que eu quero dizer é que talvez nessa situação possa se falar que eu teria escolhido me apaixonar, mas nem nisso eu acredito.

O que mais me incomoda na paixão é o fato dela ser irracional, tenho muitas dificuldades em lidar com tudo que foge da racionalidade, com tudo que possa fugir do meu controle. E com a paixão acontece exatamente assim, quando percebemos estamos apaixonados e não conseguimos controlar o que sentimos, não há escolhas. O máximo que de discricionariedade que temos é escolher quando não queremos mais, o que não é um processo fácil, visto que não tivemos escolha no início, é algo que fugiu a nossa razão.

Mas mesmo assim, desfiz do meu pessimismo em relação à paixão, é impossível resistir aos seus encantos diante de um homem como Vinícius de Moraes e sua ode à paixão. Sempre ele, paixão para mim é sinônimo de Vinícius de Moraes. Aquele mesmo Vinícius, que viveu sempre apaixonado e acreditava que o que vem do coração tem que deixar acontecer, mesmo que desarrume a vida. Ainda que não se concorde com suas palavras, há como dizer que não há algo de belo em viver a vida como tal? Porém, o fato é que talvez essa seja uma vida apenas para os poetas...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Revolta Virtual

Quanto tempo de vida real não perdemos vivendo a vida virtual? Cada hora surge uma novidade cibernética que nos coloca mais e mais em frente ao computador. O pouco que vivemos é para depois ter assuntos a serem relatados nos orkuts, blogs e twitters da vida.

Acordei uma revoltada virtual, o primeiro a ser excluído foi o twitter, do restante ainda estou pensando o que fazer, rola um apego, ou um vício mesmo. Mas por que mesmo estou escrevendo isso aqui???

terça-feira, 12 de maio de 2009

Uma comparação esdrúxula???

A notícia sobre teto de investimento na Fórmula 1 me fez pensar em uma comparação que pode parecer meio esdrúxula, mas que para mim faz muito sentido: assim como se discute teto e financiamento público de campanhas eleitorais, agora se discute um teto de investimento em um dos esportes mais elitistas que existe.

Entendo pouco do mundo da velocidade, mas gosto da idéia de nivelar as equipes, a mim me parece que nesse modelo mais do que a força da grana e dos motores das esquipes ,vai estar em evidência o talento dos pilotos. Não vejo o porquê de tamanho chororô da Ferrari, se eles podem utilizar o dinheiro que têm para contratar os melhores pilotos.

A noção que eu tenho de esporte é que quem o fazem são pessoas, o brilho dos esportes vem de quem o pratica, jogadores, nadadores e por que não pilotos de Fórmula 1. Mas nesse caso se trata de um dos esportes em que há um corte grande de classe, se você não tem dinheiro, não adianta nem sonhar que não vai ser piloto.

Mas voltando à comparação com a política, a lógica é a mesma, financiamento público e teto de campanha nivela candidatos, discute-se propostas e não quem tem mais dinheiro para contratar um bom marqueteiro e fazer a campanha mais rica. Daí o choro dos partidos de direita contra tal medida. E daí o choro da Ferrari, na transposição do exemplo para a Fórmula 1.

O teto na Fórmula 1 não sei se será possível, na verdade nem me preocupo muito com isso, não morro de amores pelo esporte, embora às vezes, quando acordo em uma manhã de domingo de corrida, perco alguns minutos em frente à TV para assisti-la. Já em relação ao teto de campanha política, torço para que ocorra em um futuro não tão distante, mais do que isso, acho uma luta muito importante, valeria uma pressão social.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Distância

"..Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar.

Canta a primavera pá
Cá estou carente
Manda novamente algum cheirinho
De alecrim!"

O cheiro de alecrim é sentir que algo permanece...mesmo distantes, agora também fisicamente

Do mundo que criamos ao mundo que vivemos...

"Mas é sempre assim
É uma regra maldita e geral
Ou feia ou bonita
Ninguém acredita na vida real"

Parecia que foi ainda ontem que estávamos juntos, que divertíamos como se não fosse haver o dia seguinte. Naquele tempo, queríamos construir um mundo paralelo em que não existiria espaço para nossos medos, nossas dores, um mundo onde nossos preconceitos fossem deixados de lado em nome de algo maior, mas que nós mesmos não sabíamos o que era.

E assim fomos felizes, nossos encontros eram felizes. Em nossos rostos estava a marca de uma vida em que a palavra de ordem era intensidade, queríamos viver tudo sempre até a última gota. Cada palavra era dita e digerida até a última gota. Nada passava impune a nós, cada olhar que se cruzava, cada gesto desferido tinha uma potência enorme e desconhecida, capaz de nos fazer alheios a tudo que se passava a nossa volta.

Mas um dia desfizemos nosso castelo e fomos enfrentar o mundo real. E junto com nosso mundo foi levado um pouco de nossos sonhos. A cara cinza e feia da vida real nos assustou, porém não fomos capazes de perceber que era apenas uma máscara e nos embrutecemos. Desfizemos de nossos sonhos, a nossa imensa liberdade se transformou na mais dura das prisões, quando então nos deparamos com a contradição de nos vermos transformados em reféns de nossa própria liberdade.

Não, não foi ontem que estávamos juntos no nosso mundo fantástico, ontem nos reencontramos já com a nossa cara inebriada pelo mundo real. E quando te vi, achei que chegaria junto a ti e nada teria mudado, mas foi um engano, tudo mudou. Nós mudamos. Mas não há culpados, apenas crescemos e não há nisso um juízo de valor negativo. Nossas vidas tomaram rumos diferentes e não é possível voltar ao que acabou, viver algo que não existe mais.

De nós o que existe são apenas lembranças, eternizadas em nossas memórias de maneiras bem diversas naqueles momentos em que acreditávamos estarmos vivendo o nosso sonho. Pode parecer pouco, mas se trata de uma parte de nossas vidas vivida sem regras, sem pressões e especialmente sem tempos mortos, e isso é muita coisa.

domingo, 10 de maio de 2009

De músicas e histórias (ou seriam estórias???)

Je ne regrette rien

Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien.
Ni le bien qu'on m'a fait,
ni le mal, tout ça m'est bien égal.

Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien,
C'est payé, balayé, oublié,
je me fous du passé.

Avec mes souvenirs,
j'ai allumé le feu.
Mes chagrins mes plaisirs,
je n'ai plus besoin d'eux.

Balayés mes amours,
avec leurs trémolos.
Balayés pour toujours
je repars à zéro...

Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien.
Ni le bien qu'on m'a fait,
ni le mal, tout ça m'est bien égal.

Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien.
Car ma vie, car mes joies,
Pour aujourd'hui
ça commence avec toi

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Quando a desigualdade nos visita

Existem muitos ensaios e teses acadêmicas sobre a desigualdade social, mas ela é tão gritante que não precisa de muito para entendê-la, ou ainda esbarrá-la na porta de casa.

Acabava de chegar da aula de francês, já passava das 22h, quando na rua da minha casa surge um burburinho, e como pessoa curiosa que sou, fui o ver o que se tratava. Ao olhar para o outro lado da rua, descubro o motivo de tanta hesitação, havia uma Ferrari com seu vermelho reluzente parada na porta de um dos restaurantes.

O revés dessa história e o que ninguém percebe é que em frente àquela Ferrari, embaixo do prédio onde eu moro, vive um homem que talvez nem saiba o valor daquele carro, e ele dormia alheio à comoção causada pela Ferrari vermelha. Mas aquele homem sequer está nas estatísticas de pobreza do país, é como se ele não existisse, então contemplamos o carro sem culpa.

Depois daquela cena, subi as escadas do meu prédio pensando se o dono da Ferrari vermelha não sentia nada ao ostentá-la naquele momento e no momento seguinte, ao sair e dar de cara com o menino que vende bala no farol, tratá-lo como se não existisse. E na minha impotência de não conseguir mudar a situação, vi justiça no gesto do assaltante, ainda que uma justiça torta, mas que naquele minuto significava a redenção para o homem que dormia na porta do meu prédio.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sobre o meu amor por Chico Buarque

Há cerca de pouco mais de um ano eu vi o Chico em um evento que homenageava Jorge Amado no Sesc Pinheiros. Ao chegar em casa, escrevi um texto sobre aquele momento, hoje eu o reli e já sem a emoção de ter acabado de encontrar o Chico pude perceber o quanto esse Francisco me toca, apenas pelo que escreve, apenas por existir...

O texto eu reproduzo abaixo:

Já passava das 20h quando começou o esperado evento, das palavras de Paloma, a filha de Jorge Amado vem a síntese do que senti nessa noite: "sonhar é o maior bem que nós temos, pois ninguém pode tomar nossos sonhos, a verdade do sonho está em nos livrar da nossa triste condição". E o meu sonho, sendo a verdade ou a ilusão, tem nome e sobrenome: Francisco Buarque de Hollanda.
O primeiro vídeo é o de Dona Flor e Seus Dois Maridos, o livro teria ainda uma leitura dramática de alguns trechos, o que cabe aqui uma digressão, pois Marat Descartes como Vadinho foi a surpresa, não esperava e só tornou a noite ainda mais agradável, sem contar que o "mestre de cerimônias" da homenagem, o ator Luis Miranda estava explêndido, fiquei impressionada com o trabalho de voz, a presença no palco. Mas não era uma peça, não estamos falando de teatro, então voltemos ao grande fato marcante, o objeto do texto e da paixão da autora.
Trêmulo, o ator chama o quarto convidado da noite... não, não foi isso, o ator também estava nervoso, na verdade era o segundo convidado e o mesmo se encarrega de corrigi-lo, e entra no palco Francisco Buarque de Hollanda.
Minhas mãos não paravam de tremer, meus olhos procuravam os dele a todo instante, inebriada por aquela imagem que tanto mexe comigo. Não conseguia controlar a câmera, esqueço de apertar o play, quando percebi, vi que não havia sequer um segundo de gravação. Mas aquilo pouco me importava, pois o momento estava na minha memória.
A leitura foi rápida, ao seu final nem mais um minuto no palco, nem uma canção. Logo Chico sai e a homenagem segue, ainda teriam momentos emocionantes, o maior deles protagonizado pelo escritor moçambicano Mia Couto, dizendo sobre a influência de Jorge Amado na literatura africana. De acordo com Mia, o sucesso do autor brasileiro devolveu a fala aos moçambicanos, um novo idioma, o português libertado de Portugal.
Caetano sobe ao palco e além da leitura ele canta, é doce morrer no mar, são doces suas palavras. Acaba o evento, é hora de voltar para casa e volto a questão do sonho e a verdade, estaria a verdade na pequena realidade de cada um ou no imenso sonho? O meu sonho estava a poucos metros, ele parecia real, mas prefiro que ele continue a minha ilusão, pois na realidade não é nada fácil ser Chico Buarque, sempre muitos fotógrafos em cima, muitos fãs, muitas pessoas loucas que assim como eu achavam que ele era o marido delas, o amante ou seja lá o que for, além de mídia, holofotes em que até o erro cometido torna-se motivo para aplausos.
Mas fora tudo isso, a única coisa que posso garantir é que o Chico me faz entender o que é o amor, pois o amor que eu sinto por ele é o amor que não exige nada em troca, eu apenas o amo, sua simples presença me faz tremer, imaginar que estamos tão próximos, respirando o mesmo ar me deixa atônita, eu não espero nada em recompensa desse amor, pois ele é o meu acalanto, quando a minha realidade me machuca recorro a ele, com suas canções, sua poesia. Chico me faz chorar, mas é um choro bom, é o choro de quem sente que o amor existe, de quem tem a consciência de que a vida pulsa, apesar de.
Palavras nesse momento me faltam, prefiro ficar com a imagem, dele, sempre...
(março de 2008)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A respeito de ser revolucionário no teatro

Qual o tipo de arte verdadeiramente revolucionária? Pode-se encontrar várias respostas para essa pergunta, mas para mim, arte revolucionária é aquela que com a força de quem a faz consegue tocar corações e mentes a ponto de transformá-los.

No que diz respeito ao teatro, muito se diz em novos tipos de linguagens, movimentos, e especialmente de grupos que revolucionaram a cena teatral no Brasil, em especial a paulistana. O mérito existe, obviamente, mas será que realmente se trata de uma revolução??

Pode parecer um pouco preconceituoso, mas normalmente recursos audiovisuais e especialmente microfones em cena servem de subterfugio para disfarçar a deficiência técnica dos atores. Teatro é a arte em que é mais verdadeiro o ditado que diz que o menos é mais. O que mais pode nos tocar em uma peça é a interpretação do ator, o restante é secundário.

Nesse sentido, não há nada mais revolucionário do que um ator em um palco nu que faça com que sua interpretação cause tamanho arrebatamento em quem vê. Não há sensação melhor em um teatro do que assistir a uma apresentação de Cáca Carvalho em "A Poltrona Escura", que nos leva do riso às lagrimas em segundos ou ver a força de Joana na interpretação de Georgette Fadel. Impossível sair a mesma pessoa do teatro.

É por isso que me animo pouco para sair de casa e assistir a essas peças ditas inovadoras, que na maioria das vezes são apenas reflexo do que se tornou a nossa sociedade, espetacularizada em todos os sentidos. Prefiro aguardar pelo próximo espetáculo do Antunes Filho, pois sei que mesmo naqueles que não me arrebatem, como foi o caso de Senhora dos Afogados, estão a marca de um teatro que é sinônimo de arte no seu melhor sentido.

E porque acredito nesse tipo de arte é que espero ansiosamente para assistir "Viver sem tempos mortos". O que se esperar da união de Simone de Beauvoir e Fernanda Montenegro? Eu sinceramente tentarei não criar expectativas, o que vai ser muito difícil, já que se trata da mulher que é meu ideal de vida, interpretada pela atriz que é um grande ícone do teatro nacional, mas espero poder voltar a esse espaço para relatar mais uma experiência fascinadora que só teatro pode proporcionar.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Não!!! Definitivamente não sou assim, essa não sou eu!!!

Agir contra tudo que eu acredito de como devem se dar as relações entre as pessoas e me guiar por algo que eu não sei o que é, mas que parece ter uma força tamanha sobre mim que não consigo controlar...

Por que será que somos tão incoerentes???

Daqui a pouco eu enlouqueço de vez, analista já não resolve o meu problema...

domingo, 3 de maio de 2009

Simplesmente Mulher

Silvia Machete

Tantas, sou só uma e sou tantas
Sou devassa e sou santa
Recatada e vulgar

Louca,tão centrada e tão louca
Degustando em tua boca
As delícias de amar

Me respeita e me abusa
Me ame como quiser
Simples demais ou confusa

Sou simplesmente mulher

Mas também se morre

Como eu li em um belo texto escrito pelo Sérgio Roveri, a felicidade tem aquela propriedade de nos blindar dos sofrimentos em relação aos problemas do mundo. Inundados pelo olhar de felicidade, a gripe suína parece apenas um problema distante, a crise econômica parece que não nos atinge, mas às vezes, nem o estado agudo de felicidade nos livra de sermos atingidos pelos acontecimentos.

Hoje, ao chegar em casa com o sol da manhã entrando pela janela, descobri que o diretor de teatro Augusto Boal havia morrido em decorrência de complicações advindas de uma leucemia. Confesso que tal notícia me deixou triste. Para quem gosta da combinação teatro e política e para quem gosta de arte em geral tal notícia entristece.

Boal criou o Teatro do Oprimido, referência em vários países pelo mundo afora, embora pouco reconhecido no país. Sim, ainda pensamos como senhor e escravo, dividimos a sociedade entre a casa-grande e a senzala e lugar de pobre e oprimido para nossas cabeças pequeno-burgesas é na senzala, arte é para uma pseudo elite cultural e estudada, e falar em arte que se pretende transformadora então, é quase uma heresia.

Nesse sentido Boal foi revolucionário, e não apenas por ter criado o Teatro do Oprimido, mas por tudo que fez pelo teatro brasileiro, por ser parte importante da rica história do nosso teatro nadando contra a corrente do senso comum estético, por propor um teatro épico e crítico, por ser o grande diretor do Teatro de Arena nos seus áureos tempos, por ter criado o sistema curinga, um sistema sem hierarquias, sem o protagonista.

Acabo de me lembrar de Clarice Lispector ao relatar a morte de Guimarães Rosa e reproduzo aqui suas palavras: "Desculpem, mas também se morre"

Nosso Estranho Amor



Caetano Veloso

Não quero sugar todo seu leite
Nem quero você enfeite do meu ser
Apenas te peço que respeite
O meu louco querer
Não importa com quem você se deite
Que você se deleite seja com quem for
Apenas te peço que aceite
O meu estranho amor

Ah! Mainha deixa o ciúme chegar
Deixa o ciúme passar e sigamos juntos
Ah! Neguinha deixa eu gostar de você
Prá lá do meu coração não me diga
Nunca não

Teu corpo combina com meu jeito
Nós dois fomos feitos muito pra nós dois
Não valem dramáticos efeitos
Mas o que está depois

Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor