sexta-feira, 29 de maio de 2009

Sobre Simone de Beauvoir e Sartre

Fragmentos de uma conversa no msn:

- O que vc está lendo??
- Hummm...ando sem tempo para ler outras coisas que não os textos da faculdade. Mas estou lendo História e Consciência de Classe, faço uma matéria em sobre Lukács, pode ser esse??

Resultado: Dez minutos na livraria e um surto consumista. E agora posso dizer que estou lendo Tête-à-Tête, uma biografia do relacionamento de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre. Ainda estou na página 50, entretanto, já li o suficiente para entrar em crise e me achar bem conservadora.

Sei que mais para frente há relatos que mostram que a relação deles não era perfeita, eles não conseguiram, por exemplo, eliminar totalmente o ciúme, mas o que eles construíram foi tão grande e tão intenso que parece ficção. A cada página que leio, sinto que estou mergulhando em uma dessas histórias que somente a literatura poderia criar.

No fundo era isso, eles queriam transformar suas vidas em uma narrativa, viver para contar. É um convite para descobrir essa que para mim é uma das maiores histórias de amor de todos os tempos. Fora as fofocas da intelectualidade francesa, mas isso já é uma outra história.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

...

"Mas eu gostava dele, dia mais, mais gostava.Como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego. Era ele estar por longe e eu só nele pensava. E eu mesmo não entendia o que aquilo era? Sei que sim. Mas não. E eu mesmo entender não queria.Acho que. Aquela meiguice desigual que ele sabia esconder o mais de sempre. E em mim a vontade de chegar todo próximo, quase uma ânsia de sentir o cheiro do corpo dele, dos braços, que ás vezes adivinhei insensatamente – tentação destas eu espairecia, aí rijo comigo renegava."
Guimarães Rosa - GS:V

Dúvida

Por que sempre teimamos em arrumar problemas onde eles não existem?? Às vezes tenho a impressão de que não sabemos lidar muito bem com a felicidade.

Seria isso, seria a felicidade uma capacidade que não conseguimos adquirir plenamente? Se bem que se trata de uma ideia um tanto quanto abstrata, essa coisa de ser feliz...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Viver

Andava pela rua em uma madrugada fria de inverno, o vento soprava forte. Qualquer outro que estivesse em seu lugar sentiria o ar gelado cortando o rosto, mas com ele não, não mais sentia nada, nenhuma sensação, apenas andava.

Talvez andar sem rumo pela grande metrópole seria seu único desejo no momento, havia deixado para trás toda a sua vida, sequer trazia consigo um documento, não queria ser identificado. Pensava que assim se igualaria àquelas pessoas que viviam nas redondezas da sua casa. Não, no fundo ele sabia que não se igualaria a elas, seu ar pequeno burguês o identificava de alguma maneira.

Por um instante quis parar, sentar em algum bar e beber tudo aquilo que sempre o consumiu. Não era possível, não tinha dinheiro sequer para um gole. Resolveu então apertar o passo, quem sabe não encontraria, ao virar a próxima esquina, algo que permanentemente procurou por toda a sua vida. Mas como seria possível encontrar uma coisa que não se sabe o que é??

Ele já não mais conseguia discernir o que era sonho e o que era real, só sabia que tudo o que vivera até aquele momento não mais lhe cabia. Mais alguns passos e um tropeço, por trás dos sacos de lixo em que havia tropeçado havia um homem, tão invisível quanto todo aquele lixo que se acumulava na rua.

Os pensamentos que lhe surgiam o atordoava, não sabia o que falar, pensou em pedir desculpas ao homem por acordá-lo, mas achou melhor não se desculpar. O homem sabia da sua invisibilidade, assim como a daqueles sacos de lixo, que só seriam percebidos quando começassem a feder, pedir desculpas era inútil.

Paralisado, olhava fixamente nos olhos do homem, que sem entender muito bem, disse a ele:
- Não sei quem você é, muito menos o que faz por aqui, mas pela sua cara de playboy sei que não procura um lugar menos gelado para tentar dormir, então suponho que não queira dividir esse espaço comigo. Está frio, não tenho um puto no bolso e a única coisa que eu quero é dormir. Você já me acordou com o seu barulho, agora tira seu olho daqui e some.

Foi aí que sentiu pela primeira vez naquela noite o vento cortar seu rosto. Sabia que alguma coisa havia mudado, que nada mais seria como antes. Sentiu-se vivo novamente. Sua primeira atitude foi acatar a ordem daquele homem, sumiu de lá, sem dizer uma palavra. Continuaria a andar, mas agora ele tinha certeza de que recuperara as sensações, especialmente quando uma lágrima quente rolou seu rosto gelado pelo frio da madrugada. Sim, estava vivo...


domingo, 24 de maio de 2009

Pedido

Acho que já postei o texto da Clarice aqui nesse mesmo espaço, mas ele é o que melhor define o que eu queria dizer para muitas pessoas atualmente. É como se fosse um pedido, de quem apenas quer viver, sem dar nomes, definições.

O mais importante é o que levamos conosco, é o que somos, o que sentimos, o nome é só um detalhe. Não tenho nenhuma resposta às inquietações do mundo, apenas gostaria que escutassem o que peço:

Deixe-me viver!!!

Por não estarem distraídos

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

Clarice Lispector

Entendem por que não quero dar um nome??

sábado, 23 de maio de 2009

...

Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido...

...

Eu vi um menino correndo
eu vi o tempo brincando ao redor
do caminho daquele menino...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Equação

Do blog do Sérgio Roveri:

"Os dois rostos, mapeados por tantas histórias e tantas vivências, pareciam não reservar lugar para as mágoas – de alguma maneira, é como se tudo ali tivesse sido resolvido. E, mais que isso, como se tudo tivesse sido compreendido e perdoado. Talvez até mais perdoado do que compreendido – mas esta equação sim estava resolvida no semblante das duas grandes damas."


Será que um dia eu consigo resolver essa equação??

Minha confiança na humanidade é um pouco menor hoje, ainda não tenho capacidade de lidar com o perdão, não dessa vez...mas isso vai passar também, pois o humano tem essa dupla face, que me fascina e me aterroriza, ainda que nesse momento só consiga enxergar sua face aterrorizante...

Sei que tudo tem seu revés, e o que fascina está bem ao meu lado, e é o que me faz ter a certeza de que amanhã poderemos fazer diferente...e se, apesar da descrença, resta-me sobretudo a esperança é porque existe algo muito maior, a que damos o nome de muitas coisas e que eu prefiro chamar de amor.

Somente sentindo toda essa força é que quem sabe um dia poderei resolver essa equação...

Resposta

Neste momento só consigo dar como resposta ao mundo o meu silêncio, o que é muita coisa...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Contradição

O medo de ser enganada fez com que enganasse a mim mesma...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Explicação

Li hoje em uma lata de coca-cola:

"A coca-cola Brasil economiza 900 mil litros de água por ano".

Não entendi, fiquei pensando se seria possível que as pessoas no Brasil tomassem 900 mil litros de coca e por isso deixassem de beber essa quantidade de água todos os anos.

Preciso de uma explicação para essa informação...

Fim

Uma das belezas da vida está em poder sempre recomeçar, ainda que não recomecemos de verdade, ainda que seja tudo uma continuidade de algo que nunca vai terminar.

Tem vezes que precisamos de um rito para perceber a mudança, em outras apenas uma palavra, mas também há aquelas vezes em que a mudança se dá tão silenciosamente que nem percebemos que algo novo nasceu.

Acreditem, há sempre algo se renovando constantemente em nós, algo que muitas vezes não sabemos o que é, que outras tantas já estava presente de modo latente esperando apenas o momento certo para se manifestar.

Uma flor sempre nasce, ainda que seja a flor feia que rompe o asfalto. A vida tem dessas coisas.

E fim. Quem quiser que conte outra.

Valsinha

Chico Buarque / Vinícius de Morais

Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz



"— E então você não quis mais nada disso. E parou com a possibilidade de dor, o que nunca se faz impunemente. Apenas parou e nada encontrou além disso. Eu não digo que eu tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta. Não esta sua voz baixa e doce. E eu não choro, se for preciso um dia eu grito, Lóri. Estou em plena luta e muito mais perto do que se chama de pobre vitória humana do que você, mas é vitória. Eu já poderia ter você com o meu corpo e minha alma. Esperarei nem que sejam anos que você também tenha corpo-alma para amar. Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira. Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe. Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia. Mas eu escapei disso, Lóri, escapei com a ferocidade com que se escapa da peste, Lóri, e esperarei até você também estar mais pronta.

Lóri sempre se espantava de como Ulisses a conhecia. Mas apesar de ele poder compreender, receava sua censura ou de que ele desanimasse e a abandonasse, e nunca lhe dissera que o "mal" muitas vezes voltava: o ar dentro dela tinha então cheiro de poeira molhada. Vai recomeçar, meu Deus? Perguntava-se então. E reunia toda a sua força para parar a dor. Que dor era? A de existir? A de pertencer a alguma coisa desconhecida? A de ter nascido?"

Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres

terça-feira, 19 de maio de 2009

post scriptum

O post anterior foi só um desabafo, de quem acredita que a pior dor é aquela que causamos nas outras pessoas, pois é aquela que não podemos controlar. Porém, ainda acredito que devemos nos jogar na vida, mesmo com o risco da decepção, se não embrutecemos.
E quem disse que tudo é não, encontrei nas letras do Chico algo que diria a alguém nesse momento:
"Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não"

A vida é assim mesmo, a palavra é seguir em frente...

A respeito da dor e de ser humano

Procuro por algo que amenize a dor, mas até agora a procura foi em vão. Um dia acreditei que com a arte se curava a dor, buscava nos poemas o antídoto para o sofrimento, mas hoje as palavras não vêm. A palavra encantada não existe, Chico Buarque é inútil nesse momento.

Sei que vai passar, há sempre o momento em que acordamos e olhamos para o mundo que nos espera e percebemos a pequeneza de nossos problemas, aquele momento exato em que se levanta e se segue adiante, pouco importando a direção.

Agora, no entanto, a hora é a pior da trajetória, é aquela em que tudo parece não, em que o mundo parece que vai nos engolir, sem direito à defesa. Então, resolvemos ficar na escuridão, quietos, escondidos para que não nos levem. É a hora em que o pó vai se acumulando, o lixo cresce, os olhos incham.

Porém, chegará o dia em que perceberemos que a beleza do humano está na sua imperfeição, é quando abriremos a janela, espantaremos o pó junto com a dor, o tédio, e todo o sofrimento advindo de nossas ilusões de perfeição.

Criaremos novas ilusões, teremos novas dores que novamente passarão um dia, sabemos disso, mas continuaremos a viver nossas dores como se fosse a última, choraremos até a última lágrima, tudo numa imperfeição humanamente admirável...ou não...

segunda-feira, 18 de maio de 2009

...

"Sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando, mas quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois."
Guimarães Rosa

Queria estar ao seu lado agora, poder te dizer que nada mudou nem vai mudar. Talvez não seja possível, nós mudamos. Nos desviamos de nós mesmos, arrumamos milhares de desculpas para cada sentimento contraditório, para cada vontade sublimada. Deixamos muitas coisas a serem ditas.

Por que será que chegamos a esse ponto? Ouvir de você que te decepcionei foi dolorido. Não tenho uma desculpa por ser tão diferente do que você esperava de mim. Você disse que esperava mais, mas não teria sido um personagem meu que foi criado na sua cabeça??

Tenho muitos medos, mas você também tem os seus. Se procurei em você respostas para as minhas dúvidas, você achou que encontraria em mim algumas soluções para as suas contradições. Se não pratico a liberdade que prego, você tampouco a vive. Somos feitos da mesma substância, o que me corrói, corrói a você da mesma maneira.

Mas algo importante de nós ainda existe, maior do que a decepção, bem maior do que a possível perda e a isso damos o nome de amor. É o que vai nos levar adiante, é esse sentimento que vai manter eternizado na minha memória seus olhos que me olhavam como um pedido, ainda que seja um amor sem senso de medida, que cresceu antes de brotar e que faz com que às vezes não saibamos o que fazer com ele.

Depois de todas as palavras ditas, que tal não resolvermos apenas viver o que sentimos? Sem cobranças, sem culpas, sem expectativas e especialmente sem medos...será que seríamos capazes?




sexta-feira, 15 de maio de 2009

Pela Liberdade na Internet

Para quem não sabe há um projeto de lei que tramita na Câmara que foi apelidado de AI-5 digital, pois criminaliza práticas cotidianas na internet. O projeto é um substitutivo de autoria do senador tucano Eduardo Azeredo e um dos artigos do projeto define como crime "obter ou transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular, quando exigida".

Trata-se de uma pauta relevante e pouco discutida, que se aprovada terá amplas consequências. Para quem quiser se interar mais sobre o assunto, abaixo segue pronunciamento do deputado Ivan Valente (PSOL) e o texto do convite para um ato público contra o projeto de lei sustitutivo do senador Azeredo:

A Internet é uma rede de comunicação aberta e livre. Nela, podemos criar conteúdos, formatos e tecnologias sem a necessidade de autorização de nenhum governo ou corporação. A Internet democratizou o acesso a informação e tem assegurado práticas colaborativas extremamente importantes para a diversidade cultural. A Internet é a maior expressão da era da informação.

A Internet reduziu as barreiras de entrada para se comunicar, para se disseminar mensagens. E isto incomoda grandes grupos econômicos e de intermediários da cultura. Por isso, se juntam para retirar da Internet as possibilidades de livre criação e de compartilhamento de bens culturais de de conhecimento.

Um projeto de lei do governo conservador de Sarkozi tentou bloquear as redes P2P na França e tornar suspeitos de prática criminosa todos os seus usuários. O projeto foi derrotado.

No Brasil, um projeto substitutivo sobre crimes na Internet aprovado e defendido pelo Senador Azeredo está para ser votado na Câmara de Deputados. Seu objetivo é criminalizar práticas cotidianas na Internet, tornar suspeitas as redes P2P, impedir a existência de redes abertas, reforçar o DRM que impedirá o livre uso de aparelhos digitais. Entre outros absurdos, o projeto quer transformar os provedores de acesso em uma espécie de polícia privada. O projeto coloca em risco a privacida de dos internautas e, se aprovado, elevará o já elavado custo de comunicação no Brasil.

Gostaríamos de convidá-lo a participar do ato público que será realizado no dia 14 de maio, às 19h30, em defesa da

LIBERDADE NA INTERNET
CONTRA O VIGILANTISMO NA COMUNICAÇÃO EM REDE
CONTRA O PROJETO DE LEI SUBSTITUTIVO DO SENADOR AZEREDO

O Ato será na Assembléia Legislativa de São Paulo e será transmitido em streaming para todo o país pela web.

PLENÁRIO FRANCO MONTORO
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DE SÃO PAULO
AV PEDRO ALVARES CABRAL S/N - IBIRAPUERA

http://www.ivanvalente.com.br/CN02/noticias/nots_07_det.asp?id=2253


Pela liberdade na internet

Na noite desta quinta-feira, participarei de um ato público em São Paulo sobre um tema da mais profunda importância para a democracia em nosso país: a liberdade de acesso e produção de conhecimento na internet. A manifestação, convocada por organizações da sociedade civil e diversos colegas deste Parlamento, incluindo o nosso mandato, debaterá os riscos do projeto Substitutivo do Senador Eduardo Azeredo ao projeto de Lei da Câmara 89/2003 e aos Projetos de Lei do Senado n. 137/2000 e n. 76/2000. Já aprovado em julho passado no Senado, o PL tramita agora nesta Casa. Gostaria, então, de pontuar alguns de seus aspectos que, a meu ver, o transformam numa perigosa e autoritária ferramenta, que, se aprovado, autorizará o vigilantismo na rede e colocará o Brasil no rol dos países que impedem um funcionamento livre e democrático da internet.

A justificativa oficial do projeto é combater crimes cibernéticos, como a pedofilia virtual e crimes financeiros. Para enfrentar este problema, o projeto do senador Azeredo cria 13 novos crimes, com penas que variam de um a três anos de prisão na maior parte dos casos. Na prática, no entanto, em vez de se chegar com maior rapidez a este grupo determinado de usuários, o PL prevê a criminalização de práticas cotidianas e criativas do uso da rede, que fazem da internet, hoje, o meio mais plural de circulação e produção de informação. Caso seja aprovado, milhares de internautas serão transformados, de uma hora para a outra, em criminosos.

Um dos artigos do projeto define como crime "obter ou transferir dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização ou em desconformidade à autorização, do legítimo titular, quando exigida". Ora, Sr. Presidente, este artigo criminalizará, por exemplo, usuários que baixam e trocam arquivos – sejam textos, vídeos, músicas – sem autorização do titular. Alguém que citar o trecho de uma matéria de um jornal on-line em seu blog, sem autorização prévia, poderá ir para a cadeia. Alguém que enviar a música favorita para um amigo também.

O projeto também determina que os provedores de acesso mantenham, por três anos, todos os dados de seus clientes, incluindo origem, data e horário do conteúdo acessado. E caso haja algum indício de crime em determinada navegação, essas empresas devem informar às autoridades os dados deste usuário. É o fim da privacidade na rede, numa medida que não terá eficácia no combate aos crimes de fato. É como se, no mundo real, todos os passos de um cidadão tivessem que ser registrados para que, caso ele cometesse um crime um dia, este histórico estivesse à disposição das autoridades. Se os provedores não agirem assim poderão ser multados. É a delação virtual obrigatória! Ou seja, as perseguições agora serão virtuais. Não à toa o PL Azeredo já foi apelidado de AI-5 digital.

Sem falar nas amplas conseqüências para o desenvolvimento da rede e a inclusão digital em nosso país. Como pensar daqui pra frente em iniciativas de inclusão digital que precisem arcar, por exemplo, com os custos de armazenamento desses dados? O PL Azeredo, na prática, vai bloquear o uso de redes P2P, controlar as redes de conexão abertas (Wi-Fi), inviabilizar sites de conteúdo colaborativo e reforçar o DRM, limitando o número de cópias de um possível arquivo.

Quem deve estar adorando a idéia é a indústria cultural, que tem buscado sem sucesso limitar o compartilhamento de arquivos na internet; ou então as operadoras de telecomunicações, que serão as únicas a conseguirem oferecer acesso “dentro da lei”.

Sras e srs deputados, não queremos aqui defender o uso indevido de informações e conteúdos ou os crimes financeiros. Mas, da forma como está redigido, o PL do Senador Azeredo trata práticas criativas e criminosas da mesma forma. O Ministério da Justiça já se dispôs a apresentar uma proposta alternativa, mas a redação do projeto do Executivo mantém a criminalização de práticas cotidianas e essenciais para o funcionamento livre da rede, para a manutenção de seu caráter aberto, plural e promotor da diversidade, para a garantia de que, neste espaço, todos possam ser produtores e distribuidores de conhecimento.

Somos um país cada vez mais conectado, com mais de 20 milhões de usuários. O que precisamos é de um marco regulatório civil para a Internet no Brasil, e não da criminalização generalizada dos nossos internautas. O acesso à internet precisa ser ainda mais democratizado no país, para que a rede cresça, e não para que seja controlada. Num país de vergonhosa concentração da propriedade dos meios de comunicação de massa, a internet é uma das poucas portas abertas para a diversidade informativa. Não podemos permitir que ela se feche.

Muito obrigado.

Deputado Federal Ivan Valente – PSOL/SP

Eterno

A obra eterniza o autor, ele já não pertence a seu tempo, não é do passado nem do presente e sequer será do futuro...A mãos que escreveram tais palavras são de uma atemporalidade assustadora...

e hoje lembrei-me especialmente de Carlos Drummond de Andrade...


E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.
Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
A vida eterna
E o fogo eterno

(Le silence éternel de ces espace infinis m’effraie)

- O que é eterno Yayá Lindinha?
- Ingrato é o amor que te tenho.

Eternalidade eternite eternaltivamente
eternuávamos
eterníssimo

A cada instante se criam novas categorias do eterno.

Eterna é a flor que se flana
Se souber abrir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem o nome.

e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto do enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e passageiras as obras
Eterno, mas até quando? É esse marulho em nós de um mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos afundamos.
E tentação e vertigem; e também a pirueta dos ébrios.

Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.

Mas não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma essência
ou nem isso.
E que eu desapareça e fique em chão varrido onde pousou uma sombra
E que não fique no chão nem fique na sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como um esponja no caos
e entre os oceanos de nada
gere um ritmo.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A respeito de se apaixonar e de se fazer escolhas

Li por aí que alguém escreveu que se apaixonar é uma escolha. Só posso discordar radicalmente de tal afirmação, pois diante de minha experiência empírica aceitá-la seria dizer que sempre procurei por problemas na vida.

Lembro-me das três grandes paixões que tive na vida: o primeiro saía de um relacionamento super complicado no qual eu era uma espécie de confidente dos seus problemas amorosos, quer dizer, saía não, durante todo o tempo em que eu fui louca por ele e mesmo depois ele tinha uma espécie de obsessão pela pessoa. O segundo foi a paixão mais maluca que vivi, durou dois meses, sendo que desde o início eu sabia que ele estava apenas de férias no Brasil e que quando voltasse para Europa logo se casaria. Em resumo, só poderia estar louca se tivesse escolhido me apaixonar por essas pessoas.

Se pudesse falar em escolha, quem sabe meu terceiro caso de paixão se encaixasse, mas esse na verdade eu me apaixonei antes pelo personagem do que pela pessoa. Após assistir sua peça, decidi que queria conhecer o tal ator por trás daquele personagem. E quando vi aquele ator franzino e tímido que se transformava no palco, não tive dúvidas, estava diante da minha mais nova paixão. A partir daí começaram todos os meus problemas, mas isso não vem ao caso, o que eu quero dizer é que talvez nessa situação possa se falar que eu teria escolhido me apaixonar, mas nem nisso eu acredito.

O que mais me incomoda na paixão é o fato dela ser irracional, tenho muitas dificuldades em lidar com tudo que foge da racionalidade, com tudo que possa fugir do meu controle. E com a paixão acontece exatamente assim, quando percebemos estamos apaixonados e não conseguimos controlar o que sentimos, não há escolhas. O máximo que de discricionariedade que temos é escolher quando não queremos mais, o que não é um processo fácil, visto que não tivemos escolha no início, é algo que fugiu a nossa razão.

Mas mesmo assim, desfiz do meu pessimismo em relação à paixão, é impossível resistir aos seus encantos diante de um homem como Vinícius de Moraes e sua ode à paixão. Sempre ele, paixão para mim é sinônimo de Vinícius de Moraes. Aquele mesmo Vinícius, que viveu sempre apaixonado e acreditava que o que vem do coração tem que deixar acontecer, mesmo que desarrume a vida. Ainda que não se concorde com suas palavras, há como dizer que não há algo de belo em viver a vida como tal? Porém, o fato é que talvez essa seja uma vida apenas para os poetas...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Revolta Virtual

Quanto tempo de vida real não perdemos vivendo a vida virtual? Cada hora surge uma novidade cibernética que nos coloca mais e mais em frente ao computador. O pouco que vivemos é para depois ter assuntos a serem relatados nos orkuts, blogs e twitters da vida.

Acordei uma revoltada virtual, o primeiro a ser excluído foi o twitter, do restante ainda estou pensando o que fazer, rola um apego, ou um vício mesmo. Mas por que mesmo estou escrevendo isso aqui???

terça-feira, 12 de maio de 2009

Uma comparação esdrúxula???

A notícia sobre teto de investimento na Fórmula 1 me fez pensar em uma comparação que pode parecer meio esdrúxula, mas que para mim faz muito sentido: assim como se discute teto e financiamento público de campanhas eleitorais, agora se discute um teto de investimento em um dos esportes mais elitistas que existe.

Entendo pouco do mundo da velocidade, mas gosto da idéia de nivelar as equipes, a mim me parece que nesse modelo mais do que a força da grana e dos motores das esquipes ,vai estar em evidência o talento dos pilotos. Não vejo o porquê de tamanho chororô da Ferrari, se eles podem utilizar o dinheiro que têm para contratar os melhores pilotos.

A noção que eu tenho de esporte é que quem o fazem são pessoas, o brilho dos esportes vem de quem o pratica, jogadores, nadadores e por que não pilotos de Fórmula 1. Mas nesse caso se trata de um dos esportes em que há um corte grande de classe, se você não tem dinheiro, não adianta nem sonhar que não vai ser piloto.

Mas voltando à comparação com a política, a lógica é a mesma, financiamento público e teto de campanha nivela candidatos, discute-se propostas e não quem tem mais dinheiro para contratar um bom marqueteiro e fazer a campanha mais rica. Daí o choro dos partidos de direita contra tal medida. E daí o choro da Ferrari, na transposição do exemplo para a Fórmula 1.

O teto na Fórmula 1 não sei se será possível, na verdade nem me preocupo muito com isso, não morro de amores pelo esporte, embora às vezes, quando acordo em uma manhã de domingo de corrida, perco alguns minutos em frente à TV para assisti-la. Já em relação ao teto de campanha política, torço para que ocorra em um futuro não tão distante, mais do que isso, acho uma luta muito importante, valeria uma pressão social.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Distância

"..Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar.

Canta a primavera pá
Cá estou carente
Manda novamente algum cheirinho
De alecrim!"

O cheiro de alecrim é sentir que algo permanece...mesmo distantes, agora também fisicamente

Do mundo que criamos ao mundo que vivemos...

"Mas é sempre assim
É uma regra maldita e geral
Ou feia ou bonita
Ninguém acredita na vida real"

Parecia que foi ainda ontem que estávamos juntos, que divertíamos como se não fosse haver o dia seguinte. Naquele tempo, queríamos construir um mundo paralelo em que não existiria espaço para nossos medos, nossas dores, um mundo onde nossos preconceitos fossem deixados de lado em nome de algo maior, mas que nós mesmos não sabíamos o que era.

E assim fomos felizes, nossos encontros eram felizes. Em nossos rostos estava a marca de uma vida em que a palavra de ordem era intensidade, queríamos viver tudo sempre até a última gota. Cada palavra era dita e digerida até a última gota. Nada passava impune a nós, cada olhar que se cruzava, cada gesto desferido tinha uma potência enorme e desconhecida, capaz de nos fazer alheios a tudo que se passava a nossa volta.

Mas um dia desfizemos nosso castelo e fomos enfrentar o mundo real. E junto com nosso mundo foi levado um pouco de nossos sonhos. A cara cinza e feia da vida real nos assustou, porém não fomos capazes de perceber que era apenas uma máscara e nos embrutecemos. Desfizemos de nossos sonhos, a nossa imensa liberdade se transformou na mais dura das prisões, quando então nos deparamos com a contradição de nos vermos transformados em reféns de nossa própria liberdade.

Não, não foi ontem que estávamos juntos no nosso mundo fantástico, ontem nos reencontramos já com a nossa cara inebriada pelo mundo real. E quando te vi, achei que chegaria junto a ti e nada teria mudado, mas foi um engano, tudo mudou. Nós mudamos. Mas não há culpados, apenas crescemos e não há nisso um juízo de valor negativo. Nossas vidas tomaram rumos diferentes e não é possível voltar ao que acabou, viver algo que não existe mais.

De nós o que existe são apenas lembranças, eternizadas em nossas memórias de maneiras bem diversas naqueles momentos em que acreditávamos estarmos vivendo o nosso sonho. Pode parecer pouco, mas se trata de uma parte de nossas vidas vivida sem regras, sem pressões e especialmente sem tempos mortos, e isso é muita coisa.

domingo, 10 de maio de 2009

De músicas e histórias (ou seriam estórias???)

Je ne regrette rien

Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien.
Ni le bien qu'on m'a fait,
ni le mal, tout ça m'est bien égal.

Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien,
C'est payé, balayé, oublié,
je me fous du passé.

Avec mes souvenirs,
j'ai allumé le feu.
Mes chagrins mes plaisirs,
je n'ai plus besoin d'eux.

Balayés mes amours,
avec leurs trémolos.
Balayés pour toujours
je repars à zéro...

Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien.
Ni le bien qu'on m'a fait,
ni le mal, tout ça m'est bien égal.

Non, rien de rien,
non, je ne regrette rien.
Car ma vie, car mes joies,
Pour aujourd'hui
ça commence avec toi

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Quando a desigualdade nos visita

Existem muitos ensaios e teses acadêmicas sobre a desigualdade social, mas ela é tão gritante que não precisa de muito para entendê-la, ou ainda esbarrá-la na porta de casa.

Acabava de chegar da aula de francês, já passava das 22h, quando na rua da minha casa surge um burburinho, e como pessoa curiosa que sou, fui o ver o que se tratava. Ao olhar para o outro lado da rua, descubro o motivo de tanta hesitação, havia uma Ferrari com seu vermelho reluzente parada na porta de um dos restaurantes.

O revés dessa história e o que ninguém percebe é que em frente àquela Ferrari, embaixo do prédio onde eu moro, vive um homem que talvez nem saiba o valor daquele carro, e ele dormia alheio à comoção causada pela Ferrari vermelha. Mas aquele homem sequer está nas estatísticas de pobreza do país, é como se ele não existisse, então contemplamos o carro sem culpa.

Depois daquela cena, subi as escadas do meu prédio pensando se o dono da Ferrari vermelha não sentia nada ao ostentá-la naquele momento e no momento seguinte, ao sair e dar de cara com o menino que vende bala no farol, tratá-lo como se não existisse. E na minha impotência de não conseguir mudar a situação, vi justiça no gesto do assaltante, ainda que uma justiça torta, mas que naquele minuto significava a redenção para o homem que dormia na porta do meu prédio.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sobre o meu amor por Chico Buarque

Há cerca de pouco mais de um ano eu vi o Chico em um evento que homenageava Jorge Amado no Sesc Pinheiros. Ao chegar em casa, escrevi um texto sobre aquele momento, hoje eu o reli e já sem a emoção de ter acabado de encontrar o Chico pude perceber o quanto esse Francisco me toca, apenas pelo que escreve, apenas por existir...

O texto eu reproduzo abaixo:

Já passava das 20h quando começou o esperado evento, das palavras de Paloma, a filha de Jorge Amado vem a síntese do que senti nessa noite: "sonhar é o maior bem que nós temos, pois ninguém pode tomar nossos sonhos, a verdade do sonho está em nos livrar da nossa triste condição". E o meu sonho, sendo a verdade ou a ilusão, tem nome e sobrenome: Francisco Buarque de Hollanda.
O primeiro vídeo é o de Dona Flor e Seus Dois Maridos, o livro teria ainda uma leitura dramática de alguns trechos, o que cabe aqui uma digressão, pois Marat Descartes como Vadinho foi a surpresa, não esperava e só tornou a noite ainda mais agradável, sem contar que o "mestre de cerimônias" da homenagem, o ator Luis Miranda estava explêndido, fiquei impressionada com o trabalho de voz, a presença no palco. Mas não era uma peça, não estamos falando de teatro, então voltemos ao grande fato marcante, o objeto do texto e da paixão da autora.
Trêmulo, o ator chama o quarto convidado da noite... não, não foi isso, o ator também estava nervoso, na verdade era o segundo convidado e o mesmo se encarrega de corrigi-lo, e entra no palco Francisco Buarque de Hollanda.
Minhas mãos não paravam de tremer, meus olhos procuravam os dele a todo instante, inebriada por aquela imagem que tanto mexe comigo. Não conseguia controlar a câmera, esqueço de apertar o play, quando percebi, vi que não havia sequer um segundo de gravação. Mas aquilo pouco me importava, pois o momento estava na minha memória.
A leitura foi rápida, ao seu final nem mais um minuto no palco, nem uma canção. Logo Chico sai e a homenagem segue, ainda teriam momentos emocionantes, o maior deles protagonizado pelo escritor moçambicano Mia Couto, dizendo sobre a influência de Jorge Amado na literatura africana. De acordo com Mia, o sucesso do autor brasileiro devolveu a fala aos moçambicanos, um novo idioma, o português libertado de Portugal.
Caetano sobe ao palco e além da leitura ele canta, é doce morrer no mar, são doces suas palavras. Acaba o evento, é hora de voltar para casa e volto a questão do sonho e a verdade, estaria a verdade na pequena realidade de cada um ou no imenso sonho? O meu sonho estava a poucos metros, ele parecia real, mas prefiro que ele continue a minha ilusão, pois na realidade não é nada fácil ser Chico Buarque, sempre muitos fotógrafos em cima, muitos fãs, muitas pessoas loucas que assim como eu achavam que ele era o marido delas, o amante ou seja lá o que for, além de mídia, holofotes em que até o erro cometido torna-se motivo para aplausos.
Mas fora tudo isso, a única coisa que posso garantir é que o Chico me faz entender o que é o amor, pois o amor que eu sinto por ele é o amor que não exige nada em troca, eu apenas o amo, sua simples presença me faz tremer, imaginar que estamos tão próximos, respirando o mesmo ar me deixa atônita, eu não espero nada em recompensa desse amor, pois ele é o meu acalanto, quando a minha realidade me machuca recorro a ele, com suas canções, sua poesia. Chico me faz chorar, mas é um choro bom, é o choro de quem sente que o amor existe, de quem tem a consciência de que a vida pulsa, apesar de.
Palavras nesse momento me faltam, prefiro ficar com a imagem, dele, sempre...
(março de 2008)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A respeito de ser revolucionário no teatro

Qual o tipo de arte verdadeiramente revolucionária? Pode-se encontrar várias respostas para essa pergunta, mas para mim, arte revolucionária é aquela que com a força de quem a faz consegue tocar corações e mentes a ponto de transformá-los.

No que diz respeito ao teatro, muito se diz em novos tipos de linguagens, movimentos, e especialmente de grupos que revolucionaram a cena teatral no Brasil, em especial a paulistana. O mérito existe, obviamente, mas será que realmente se trata de uma revolução??

Pode parecer um pouco preconceituoso, mas normalmente recursos audiovisuais e especialmente microfones em cena servem de subterfugio para disfarçar a deficiência técnica dos atores. Teatro é a arte em que é mais verdadeiro o ditado que diz que o menos é mais. O que mais pode nos tocar em uma peça é a interpretação do ator, o restante é secundário.

Nesse sentido, não há nada mais revolucionário do que um ator em um palco nu que faça com que sua interpretação cause tamanho arrebatamento em quem vê. Não há sensação melhor em um teatro do que assistir a uma apresentação de Cáca Carvalho em "A Poltrona Escura", que nos leva do riso às lagrimas em segundos ou ver a força de Joana na interpretação de Georgette Fadel. Impossível sair a mesma pessoa do teatro.

É por isso que me animo pouco para sair de casa e assistir a essas peças ditas inovadoras, que na maioria das vezes são apenas reflexo do que se tornou a nossa sociedade, espetacularizada em todos os sentidos. Prefiro aguardar pelo próximo espetáculo do Antunes Filho, pois sei que mesmo naqueles que não me arrebatem, como foi o caso de Senhora dos Afogados, estão a marca de um teatro que é sinônimo de arte no seu melhor sentido.

E porque acredito nesse tipo de arte é que espero ansiosamente para assistir "Viver sem tempos mortos". O que se esperar da união de Simone de Beauvoir e Fernanda Montenegro? Eu sinceramente tentarei não criar expectativas, o que vai ser muito difícil, já que se trata da mulher que é meu ideal de vida, interpretada pela atriz que é um grande ícone do teatro nacional, mas espero poder voltar a esse espaço para relatar mais uma experiência fascinadora que só teatro pode proporcionar.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Não!!! Definitivamente não sou assim, essa não sou eu!!!

Agir contra tudo que eu acredito de como devem se dar as relações entre as pessoas e me guiar por algo que eu não sei o que é, mas que parece ter uma força tamanha sobre mim que não consigo controlar...

Por que será que somos tão incoerentes???

Daqui a pouco eu enlouqueço de vez, analista já não resolve o meu problema...

domingo, 3 de maio de 2009

Simplesmente Mulher

Silvia Machete

Tantas, sou só uma e sou tantas
Sou devassa e sou santa
Recatada e vulgar

Louca,tão centrada e tão louca
Degustando em tua boca
As delícias de amar

Me respeita e me abusa
Me ame como quiser
Simples demais ou confusa

Sou simplesmente mulher

Mas também se morre

Como eu li em um belo texto escrito pelo Sérgio Roveri, a felicidade tem aquela propriedade de nos blindar dos sofrimentos em relação aos problemas do mundo. Inundados pelo olhar de felicidade, a gripe suína parece apenas um problema distante, a crise econômica parece que não nos atinge, mas às vezes, nem o estado agudo de felicidade nos livra de sermos atingidos pelos acontecimentos.

Hoje, ao chegar em casa com o sol da manhã entrando pela janela, descobri que o diretor de teatro Augusto Boal havia morrido em decorrência de complicações advindas de uma leucemia. Confesso que tal notícia me deixou triste. Para quem gosta da combinação teatro e política e para quem gosta de arte em geral tal notícia entristece.

Boal criou o Teatro do Oprimido, referência em vários países pelo mundo afora, embora pouco reconhecido no país. Sim, ainda pensamos como senhor e escravo, dividimos a sociedade entre a casa-grande e a senzala e lugar de pobre e oprimido para nossas cabeças pequeno-burgesas é na senzala, arte é para uma pseudo elite cultural e estudada, e falar em arte que se pretende transformadora então, é quase uma heresia.

Nesse sentido Boal foi revolucionário, e não apenas por ter criado o Teatro do Oprimido, mas por tudo que fez pelo teatro brasileiro, por ser parte importante da rica história do nosso teatro nadando contra a corrente do senso comum estético, por propor um teatro épico e crítico, por ser o grande diretor do Teatro de Arena nos seus áureos tempos, por ter criado o sistema curinga, um sistema sem hierarquias, sem o protagonista.

Acabo de me lembrar de Clarice Lispector ao relatar a morte de Guimarães Rosa e reproduzo aqui suas palavras: "Desculpem, mas também se morre"

Nosso Estranho Amor



Caetano Veloso

Não quero sugar todo seu leite
Nem quero você enfeite do meu ser
Apenas te peço que respeite
O meu louco querer
Não importa com quem você se deite
Que você se deleite seja com quem for
Apenas te peço que aceite
O meu estranho amor

Ah! Mainha deixa o ciúme chegar
Deixa o ciúme passar e sigamos juntos
Ah! Neguinha deixa eu gostar de você
Prá lá do meu coração não me diga
Nunca não

Teu corpo combina com meu jeito
Nós dois fomos feitos muito pra nós dois
Não valem dramáticos efeitos
Mas o que está depois

Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor

sábado, 2 de maio de 2009

Por indicação da Isabella, acabei de conhecer uma cantora muito boa, chama-se Silvia Machete e procurando algo sobre ela na internet descobri que se trata se uma cantora que apresenta um show-performance que vale muito a pena conhecer

O endereço do myspace é http://www.myspace.com/silviamachete

E lendo as letras das usas músicas, me identifiquei com uma em especial, que transcrevo abaixo:


Silvia Machete

A minha curiosidade não pára de crescer,
por você.
A gente se conhece há tanto tempo,
e fica nesse lenga-lenga que eu gosto.
Desde aquele baile de carnaval
que você pegou geral.

Você pegou, pegou, pegou, pegou...pegou
no meu pé.


Se eu disser que eu tô indo embora,
não me deixe.
Sabote minha partida,
Pois eu sei que eu perdi um poquinho da minha
carioquice.
Isso é muito triste.
Pois, se você disser pra eu te ligar, eu vou!
Se você marcar um encontro
eu já tô lá.
Se você disser que gosta de mim
eu vou acreditar com muito amor!


Valeu Isa, adorei a indicação!!!

Sobre como não se perder o que se tem

Lembro-me de cada detalhe da nossa juventude, nossas veias estavam entupidas de vida, a cada encontro, o olhar de encatamento que se renovava e em cada nova descoberta, a certeza de que aquele primeiro encontro tinha sido fatal. Ambos estavámos descobrindo o mundo novo que se abria diante de nossos olhos e com uma sede de beber com toda a vontade aquela vida que se inaugurava.

Nossa realidade eram os sonhos que sonhávamos juntos, nos alimentávamos da nossa própria presença. Muitas vezes choramos juntos, em outras rimos, suamos, gozamos. Compartilhamos as horas não dormidas, a esperança, a alegria que explodia a cada ano que passava e que nos fazia cada vez mais próximos.

O que nós não sabíamos é da responsabilidade de ser ter o que se tem e na ânsia de guardar o que conquistamos, acabamos nos perdendo de nós mesmos. Fizemos do nosso amor algo inatingível até para nós, fugimos do desafio de cultivá-lo próximo. E assim, com a idade adulta tudo se tranformou em não.

Das horas de camaradagem sobrou o sentimento amargo de algo que não se concretizou. Colocamos dentro de sistemas vazios a explicação para a nossa própria fraqueza. E o tempo se encarregou de nos transformar em pessoas duras, a vida havia se tornado um duro fardo com que levávamos sem aquela esperança de outrora.

Hoje, já envelhecidos, nos reencontramos, e um diante do outro, com um sorriso amarelo para disfarçar a angústia do reencontro, tentamos em vão buscar um amparo para o que deveria ter sido e não foi. Não temos coragem de nos encarar, olhar nos olhos parece uma tarefa impossível diante de tanta covardia que cultivamos em grande parte das nossas vidas. Pago o café, digo a você que seria um prazer reencontrá-lo mais vezes e parto apressadamente em direção a minha casa. No fundo ambos sabemos que aquele "até breve" significa "até nunca mais".

Ofegante acordo, era apenas um sonho. Olho para o lado e você está na cama, dormindo profundamente. Continuamos jovens e embriagados de vida. Ao perceber isso, minha reação é de te abraçar, com o cuidado para que não acordes. Sabemos que temos o nosso destino nas mãos, podemos escolher entre nos acovardar diante do medo do que vem pela frente ou enfrentá-lo em busca de uma vida larga.

Aqueles momentos de silêncio abraçada junto ao seu corpo me fez sentir que a nossa resposta ao futuro já havia sido dada. Então voltei a dormir, sabia que de ali em diante a vida seria diferente do sonho.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

"Vamos viver agonizando uma paixão vadia
Maravilhosa e transbordante, como uma hemorragia"

A saudade da chegada ou a certeza da partida

O que haveremos de fazer?? O que restou foi muito pouco, não sei o que fazer com ele. Sei que tudo não era só sonho, mas talvez exista um componente de ilusão nisso tudo. Construimos vidas que se juntaram em um determinado momento e que ficaram com muitas coisas a serem ditas no caminho.

Agora talvez seja a hora de colocarmos para fora o que ficou na garganta e seguir adiante, sem expectativas e acima de tudo sem ilusões. O que foi criado permanece, naquele escaninho da memória em que guardamos o que há de eterno em nós. Mas chegou o momento em que é preciso partir, tomar um rumo incerto para quem sabe um dia, por obra do imponderável, nos encontrarmos em outro ponto, mais fortes, mais seguros.

O fato é que o que em ti me fazia acreditar que o ser humano poderia valer a pena não sei se existe mais, mas não se espante com essa minha afirmação, talvez ela dure somente até o momento em que essa tempestade irá passar e trará de volta o brilho dos dias ensolarados em que podíamos dizer que éramos felizes. Enquanto isso, continuamos nosso caminho, na espera de algo que não sabemos o que é e que talvez nunca chegue.