quinta-feira, 18 de junho de 2009

Greve na USP, e eu com isso?

Tanta bobagem e tanto reacionarismo que vejo e leio por aí que não consigo ficar quieta. Todos sabem que há uma greve na USP (e muitos falam a ladainha de sempre: mais uma greve, uma "greve política", aliás esse argumento é o que mais me intriga, como se existisse uma greve ou uma mobilização que não fosse política, bando de vagabundos e daí para pior) que já dura mais de um mês e que CRUESP (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo) mantinha uma postura de se negar a negociar com os funcionários.

Estranho que tal postura os defensores da lei e da ordem não chamam de sectária. Mas isso nem vem ao caso na minha história nesse momento. O fato é que funcionários em greve resolvem fazer um piquete em frente à reitoria, visto que a coação moral no topo da estrutura de poder é muito maior, o que dificulta qualquer movimento reivindicatório (ou alguém acha que fazer greve trabalhando diretamente com o patrão é mais fácil???) e obtém como resposta a tropa de choque da polícia militar.

Aí entra uma dúvida que eu fiquei, se a reitoria sempre afirmou que os grevistas eram uma minoria, que não chegava nem a 10% os funcionários que estavam paralisados, por que utilizar a tropa de choque da PM para dispersar uma manifestação desses trabalhadores? No mínimo houve uma desproporção de forças, isso sem contar que o ato me cheirou a república velha, quando a questão social era um caso de polícia.

Diante da truculência da reitora, estudantes e professores resolvem entrar em greve exigindo a retirada da tropa de choque da universidade e em uma das manifestações do movimento ocorre o episódio lamentável do último dia 9 de junho. A universidade, local de produção de conhecimento e de um pensamento crítico da sociedade estava sitiada.

A partir desse momento, eu que não estava tão certa de que a greve era a melhor saída para o impasse, passei a defender com unhas e dentes o movimento, o confronto com a PM me fez acreditar que a saída é ampliá-lo, crescer com a mobilização e ir até as últimas consequências, lutar até o fim para conseguir não só a saída da reitora como uma mudança profunda na estrutura de poder na universidade.

Só que por maior que seja a nossa vontade de fazer diferente, ela esbarra na falta de disposição para o debate por parte de muitos estudantes. Depois de 8 anos na USP e 2 graduações, nunca tinha visto algo tão forte no sentido de deslegitimar o movimento. Existe até uma enquete na internet feita especificamente para corroborar com a opinião passada pela mídia de que os grevistas estão impedindo os estudantes de estudar. Como se greve pudesse ser discutida pela internet.

Qualquer movimento social e político precisa de debate, confronto de opiniões, não cabe uma atitude passiva, o que precisamos é de espaços em que a decisão seja coletiva e fruto de um debate horizontal. Não precisamos de mais polícia, precisamos é de aproximar a universidade das lutas sociais do país, precisamos é de mais mobilização.

Um comentário:

  1. Passei por coisa parecida. Dúvidas parecidas. Participação em ssembléias, comando de greve. Contrário ao movimento estudantil, mas sem ver outra opção, cherei (por tabela), gás lacrimogênio e assisti, chocado, a apatia das pessoas frente ao que acontecia. Mas há a revolta de professores, estudantes discutindo e coisas que em 6 anos de USP não havia presenciado. Diálogo, penso, diálogo. A estupidez do movimento estudantil se dissolve em partes e se unifica frente a uma estupidez maior ainda, da reitora. Me emociono. Apesar do contexto ser outro, e dos problemas todos que se passam, concordo com Orwell de que "Guerra é Paz". Mas aí chega a sexta-feira. E acordo novamente. Na quinta, em ato público, carregava eu uma faixa feita por alguem que não conheço com os dizeres: "Diálogo: sempre". Na sexta, a faixa se transforma em conflito, e o movimento contrário a greve é reprimido de maneira absurda por estudantes democráticos. Era absurdo. Tentei gritar, pedi pra que parassem, que aquela divisão em grupos não fazia sentido, pedi pra terminarem com a guerra de palavras de ordem e a intimidação. Não adiantou. E, novamente, sou chocado pelo que vejo. Mas dessa vez não se tratavam de policiais cumprindo ordens de pessoas que favorecem a crença em um mundo manequeísta: eram estudantes. Incapazes do diálogo, "defensores da democracia" e "facistas reacionários" se enfrentaram em uma disputa que chegou a ser física. Os que lutavam contra arepressão repreendem, os fascistas, correm.

    E assim, na sexta feira, desmorona o sonho. E a faixa de "diálogo: sempre" se transforma em "diálogo: sempre, desde que...". E, assustado, jogo-a no chão. E é esse o momento em que me encontro, o da confusão e da falta de esperança. O peito me dói e novamente perco a crença em uma construção coletiva. E mais triste ainda é pensar que estes são estudantes da maior universidade do país. Parece que "senso crítico" e "maturidade" deveriam fazer aprte de nosso curriculum...

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