quarta-feira, 20 de maio de 2009

Fim

Uma das belezas da vida está em poder sempre recomeçar, ainda que não recomecemos de verdade, ainda que seja tudo uma continuidade de algo que nunca vai terminar.

Tem vezes que precisamos de um rito para perceber a mudança, em outras apenas uma palavra, mas também há aquelas vezes em que a mudança se dá tão silenciosamente que nem percebemos que algo novo nasceu.

Acreditem, há sempre algo se renovando constantemente em nós, algo que muitas vezes não sabemos o que é, que outras tantas já estava presente de modo latente esperando apenas o momento certo para se manifestar.

Uma flor sempre nasce, ainda que seja a flor feia que rompe o asfalto. A vida tem dessas coisas.

E fim. Quem quiser que conte outra.

3 comentários:

  1. É o ciclo do carbono. Minha vó deitou-se no chão da copa com uma dor no peito em uma tarde de outubro. A água de seu corpo, evaporou em parte pelo ambiente, parte talvez tenha sido absorvido pelos panos de sua roupa, a madeira do caixão ou a própria terra. Os agentes decompositores fizeram seu trabalho, liberando o carbono para que pudesse se tornar nova forma, destituindo o casamento carne-osso. E eles, ossos, sustentos de todo um caminho estavam sós, em si (de um cálcio que já não era de todo pleno em vida). Mas dia veio que foram libertos também os ossos: tornaram-se um polém cinza sobre as flores de um jardim, soltas pelos dedos de minha mãe.

    O ciclo do carbono, me disse o livro. A carne o corpo, a pele, os ossos, retornam a natural para que mais vida surja. Fim e renascimento. No nitrogênio da raiz, no carbono das plantas, na água do riacho, nos genes em meu sangue. Mas aí me pergunto: onde então foi parar o sorriso? a gargalhada gostosa? O colo macio e o carinho em meus cabelos, o olhar curioso pela janela, as cochiladas a tarde e a insônia noturna? As conversas tranquilas, as broncas tranquilas, os abraços e as brincadeiras?

    Não acho que estas coisas tenham fim.
    Pela sua grandeza e pela sua efemeridade, hão de ser eternas. Têm de ser eternas.

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  2. Anônimo,

    Não sei quem você é, mas gosto do que você escreve...

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  3. O anonimato dá mais gosto pras palavras...

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