quinta-feira, 23 de julho de 2009

Sobre a lua, a terra, deuses e sobre ser criatura ou criador

Dias atrás estava vendo mais uma das várias reportagens sobre os quarenta anos da chegada do homem à lua. Polêmicas a parte se o feito foi verdade ou não, o que me fez pensar foi fato de que a lua se afasta cada vez mais da terra e que daqui a bilhões de anos ela vai desaparecer.

Alguém já parou para pensar o quanto é bilhões de anos? Incrível como não consigo imaginar tudo isso, me dá até um desespero quando ouço falar em bilhões de anos. Certamente não estaremos aqui. Mas aí me vem uma outra indagação: quantos anos a mais teremos na terra? Os humanos são tão autodestrutivos que não chutaria uma quantidade muito grande de anos.

E quando paro para refletir sobre esses assuntos uma pergunta sempre leva a outra. Por que será que estamos aqui? Como será que surge uma espécie e por que ela se extingue? Quando acabar a vida humana na Terra, será que ela existirá em outros lugares? São tantos os mistérios que envolvem a vida que se fossemos refletir sobre tudo enlouqueceríamos.

E nessa história toda, as religiões são as que foram mais espertas. Criaram um ser supremo que se responsabilizou por tudo que acontece no mundo. Ter um deus para acreditar controla muita de nossas inquietações. Melhor ainda se esse deus for uno, diferente daqueles das religiões pagãs, que eram múltiplos e que poderiam levar a alguma confusão.

Mais interessante ainda é pensar como os deuses passam de criatura a criador. Na verdade não sei se existe realmente um ou vários deuses, mas se ele (ou eles) existe ,creio que não esteja nele a resposta para todas as nossas perguntas. Também não estou disposta a desvendar tão cedo esses mistérios, por enquanto prefiro levar a minha vidinha medíocre aqui na Terra. Mas como diria Hamlet "há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia". A frase é clichê, porém verdadeira, e disso não tenho dúvida alguma.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Apenas o fim

Finalmente fui assistir a Apenas o Fim, que tanto tinha ouvido falar, e como a maioria das pessoas que também o assistiram, surpreendi-me. O filme foi todo rodado na PUC - Rio, com baixissímo orçamento e o diretor é um aluno do terceiro ano do curso de cinema que tem apenas 20 anos.

Para quem é ligado em cinema com certeza já ficou sabendo das repercussões sobre o filme de estreia de Matheus Souza, que virou o queridinho de cineastas como Bruno Barreto e Domingos de Oliveira. Inclusive, Matheus foi convidado por Oliveira para dirigir a nova versão da peça Confissões de Adolescente.

Quanto ao filme, é impossível não compará-lo com Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol. São oitenta minutos de diálogos entre um casal que está prestes a se separar. E para aqueles que estão na faixa dos vinte e poucos anos, dificilmente não se identificarão com alguma das falas dos personagens, pois Apenas o Fim é recheado de referências a cultura pop. São referências que vão de tartarungas ninjas a Godard, passando por Cavaleiros do Zodíaco, Britney Spears chegando até a citar Bergman.

Isso sem contar que há aquele componente universal, que são os relacionamentos. Nesse ponto, o filme atinge uma sensibilidade incrível. Através daquela última hora do relacionamento, já que dali a pouco tempo um dos personagens vai partir, o casal consegue repassar suas vidas, seu relacionamento, suas histórias das mais cotidianas possíveis, de uma maneira a torná-las em algo que emociona.

Ao final, saí do cinema com a sensação de que o fim é apenas um recomeço e de que morrer de amor deve ser a melhor morte que há, pois sempre perceberemos no dia seguinte que sobrevivemos. É isso, estamos sempre recomeçando e o fim não é o ponto final de tudo.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

...

"Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Quando o amor é grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável, e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto. Fico perplexa como uma criança ao notar que mesmo no amor tem-se que ter bom senso e senso de medida. Ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa."
Clarice Lispector

O Reencontro

Dez anos havia se passado desde o último encontro. Naqueles dias, ainda adolescentes, sentávamos em algum bar e discutíamos nossos planos, tínhamos pressa em mudar o mundo. Mas houve o dia derradeiro, era a hora de nos separar, a partir daquele momento cada um seguiria o seu destino e os encontros seriam cada vez mais raros.

A vida nos levou para os mais diversos caminhos, com o tempo já não mais nos víamos, nossa comunicação se resumia a alguns raros emails e se déssemos sorte, quem sabe um encontro casual. Nas datas que reservávamos para nós, sempre faltava algum, que por um motivo qualquer não podia estar presente.

Com o tempo, endurecemos um pouco, por vezes deixamos de lado o que acreditávamos, houve períodos em que deixamos nossos sonhos embrulhados numa gaveta e chegamos a pensar em aceitar o mundo tal como ele nos apresentava. Outras vezes tentamos esquecer tudo o que vivemos, alguns de nós teimamos em crer que não haveria mais volta.

Mas eis que pelas voltas que o mundo dá, dez anos depois estamos unidos novamente. Cada um a sua maneira preserva em si o adolescente que se indignava. Crescemos, já não temos tanta pressa, sabemos das nossas limitações, porém guardamos o melhor daquela época. No fundo continuamos os mesmos, com os mesmos sonhos.

Os pessimistas dirão que isso acontece porque ainda somos jovens, nenhum de nós sequer ainda tem trinta anos e com o tempo seremos adultos céticos. Mas resistimos mais uma vez, a nossa resposta é o que construímos. E o melhor dessa história é olhar para nós e perceber que o essencial permanece e que acima de tudo somos amigos, o que é muita coisa.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Toda maneira de amar vale a pena??

Uma das conversas constantes que tenho com um amigo é sobre a ideia de amor livre e a dificuldade em conciliar isso com o sentimento de posse que temos pelo outro. Mas dia desses ele me veio com um link que explicava o que era poliamor. Li tudo e ao final saí com a sensação de que sou conservadora em relação a sentimentos.

Não acredito em monogamia, acho totalmente contrária à essência humana, somos monogâmicos por imposição social. Acredito que podemos ter desejos por mais de uma pessoa ao mesmo tempo, mesmo porque, por mais que estejamos com alguém que seja a pessoa mais maravilhosa do mundo, ela não vai nos suprir em tudo. Porém, não consigo conceber a ideia de dividir o amor de alguém em um nível de profundidade que supere a atração sexual ou a paixão fulgaz.

Nesse momento meu lado leonino possessivo fala mais alto, pensar que eu tenho um relacionamento com alguém que pode amar outra pessoa de maneira mais dedicada ou talvez mais profunda me causaria sofrimento demais. Definitivamente não estou preparada para essa concepção de poliamor, não sou um ser evoluído a esse ponto.

A contradição que tento conciliar em mim é entre o meu lado ciumento e o meu lado que acredita que se há amor e acima de tudo confiança, não há razão para ter um relacionamento baseado em sentimentos de posse. Mas não é nada fácil, somos educados a acreditar que somos uma metade que busca a sua outra parte para que juntos se tornem uma única pessoa. Alíás, essa história é horrível, não sou uma metade incompleta, sou um inteiro e se estiver com alguém é porque eu quero, porque há amor e somos felizes juntos e não porque preciso desse outro para me completar.

Acho que se partirmos desse pressuposto poderemos construir relacionamentos mais saudáveis, mesmo que não cheguemos a conceber viver um poliamor, que nem sempre é a forma mais libertária de amar. Acima de tudo, creio que o mais importante é construir algo em que não haja lugar para hipocrisia, porque de hipócrita já basta a grande maioria das pessoas que nos rodeia.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Encontros

Aprendi com Vinícius que a vida é arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida. E no meio de tantos desencontros, nos reencontramos. Ou melhor, nas idas e vindas de nossos encontros, descobrimos a nós mesmos.

Difícil descrever o estado de felicidade, difícil descrever o que para o senso comum é incompreensível. É simplesmente algo que não tem nome, quer dizer, pode-se dar o nome que quiser, o título é totalmente desnecessário diante do que vivemos.

Relatar qualquer coisa a mais não tem o menor sentido, mesmo porque, palavra nenhuma traduziria todos esses momentos. Ficamos assim então, deixemos nossas vidas também como nosso segredo.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A respeito de livros e relacionamentos

Escrever sobre o relacionamento de Jean Paul Sarte e Simone de Beauvoir me lembrou uma outra escritora francesa que estará no Brasil para a Flip desse ano. A escritora chama-se Catharine Millet, uma respeitada crítica de arte, diretora da revista Art Press. Catherine expôs sua vida privada em dois livros, chamados "A Vida Sexual de Catherine M." e "A Outra Vida de Catherine M."

Ainda não tive a oportunidade de ler nenhum dos seus livros, mas ao me debruçar sobre a história do relacionamento de Sartre e Beauvoir, me deparei com várias comparações com tal autora. Em "A vida Sexual de Catherine M.", a escritora cousou escândalo mundial ao relatar com detalhes suas aventuras sexuais, inclusive orgias com até 150 pessoas. Porém, em "A Outra Vida de Catherine M.", a mulher libertária e segura dá lugar a esposa ciumenta que ao descobrir que o marido também mantinha relações extraconjugais, passa a revirar suas correspondências e a segui-lo. Em entrevista à Revista da Livraria Cultura, Catherine conta com detalhes como conviveu com o sentimento que chega a comparar com estupradores em série.

Tais relatos só nos mostram ainda mais a contradição do humano, ser humano é ser inevitavelmente contraditório. Sempre que tenho uma das intermináveis discussões, ouço a frase: "Você não é Simone de Beauvoir!". Sim, sei que não sou, e acho que também não queria ser. Óbvio que intelectualmente não seria nada ruim ser Simone de Beauvoir, mas não sei se queria ter o relacionamento que ela teve com Sartre, embora os admire profundamente.

Sartre e Beauvoir tiveram uma relação belíssima, mas eles não eram propriamente um casal. Não havia desejo entre eles, o prazer Simone de Beauvoir procurou em outras relações. Suas correspondências com Nelson Algren, o amante americano, mostram uma mulher apaixonada, diferente da feminista militante.

Por isso, ao ler essas histórias me sinto menos hipócrita, pois acredito realmente que as pessoas têm que viver os seus desejos. Por mais segura que possa ser em relação ao sentimento de outra pessoa, não creio que eu seja a única que povoe os desejos dela, assim como acredito que a pior forma de lidar com eles é sublimando-os. Mas isso não significa que seja uma questão fácil, somos educados a enxergar as pessoas que amamos como nossa propriedade, nos referimos a elas com pronomes possessivos, é o "meu" pai, "meu" amigo, "meu" namorado, temos dificuldades em concebê-las como seres livres.

Talvez nossa dificuldade em amar simplesmente, o que nos leva a muitas de nossas contradições, esteja naquilo que Milan Kundera escreveu, nós interrogamos muito o amor, gastamos muito tempo com perguntas tais como "será que ele me ama? será que gosta mais de mim do que eu dele? terá gostado de alguém mais do que de mim?". Acho que é isso, por enquanto fico com essa pseudo conclusão, que nem minha é: "Se somos incapazes de amar, talvez seja porque desejamos ser amados, quer dizer, queremos alguma coisa do outro (o amor), em vez de chegar a ele sem reivindicações, desejando apenas sua simples presença."