quarta-feira, 1 de julho de 2009

A respeito de livros e relacionamentos

Escrever sobre o relacionamento de Jean Paul Sarte e Simone de Beauvoir me lembrou uma outra escritora francesa que estará no Brasil para a Flip desse ano. A escritora chama-se Catharine Millet, uma respeitada crítica de arte, diretora da revista Art Press. Catherine expôs sua vida privada em dois livros, chamados "A Vida Sexual de Catherine M." e "A Outra Vida de Catherine M."

Ainda não tive a oportunidade de ler nenhum dos seus livros, mas ao me debruçar sobre a história do relacionamento de Sartre e Beauvoir, me deparei com várias comparações com tal autora. Em "A vida Sexual de Catherine M.", a escritora cousou escândalo mundial ao relatar com detalhes suas aventuras sexuais, inclusive orgias com até 150 pessoas. Porém, em "A Outra Vida de Catherine M.", a mulher libertária e segura dá lugar a esposa ciumenta que ao descobrir que o marido também mantinha relações extraconjugais, passa a revirar suas correspondências e a segui-lo. Em entrevista à Revista da Livraria Cultura, Catherine conta com detalhes como conviveu com o sentimento que chega a comparar com estupradores em série.

Tais relatos só nos mostram ainda mais a contradição do humano, ser humano é ser inevitavelmente contraditório. Sempre que tenho uma das intermináveis discussões, ouço a frase: "Você não é Simone de Beauvoir!". Sim, sei que não sou, e acho que também não queria ser. Óbvio que intelectualmente não seria nada ruim ser Simone de Beauvoir, mas não sei se queria ter o relacionamento que ela teve com Sartre, embora os admire profundamente.

Sartre e Beauvoir tiveram uma relação belíssima, mas eles não eram propriamente um casal. Não havia desejo entre eles, o prazer Simone de Beauvoir procurou em outras relações. Suas correspondências com Nelson Algren, o amante americano, mostram uma mulher apaixonada, diferente da feminista militante.

Por isso, ao ler essas histórias me sinto menos hipócrita, pois acredito realmente que as pessoas têm que viver os seus desejos. Por mais segura que possa ser em relação ao sentimento de outra pessoa, não creio que eu seja a única que povoe os desejos dela, assim como acredito que a pior forma de lidar com eles é sublimando-os. Mas isso não significa que seja uma questão fácil, somos educados a enxergar as pessoas que amamos como nossa propriedade, nos referimos a elas com pronomes possessivos, é o "meu" pai, "meu" amigo, "meu" namorado, temos dificuldades em concebê-las como seres livres.

Talvez nossa dificuldade em amar simplesmente, o que nos leva a muitas de nossas contradições, esteja naquilo que Milan Kundera escreveu, nós interrogamos muito o amor, gastamos muito tempo com perguntas tais como "será que ele me ama? será que gosta mais de mim do que eu dele? terá gostado de alguém mais do que de mim?". Acho que é isso, por enquanto fico com essa pseudo conclusão, que nem minha é: "Se somos incapazes de amar, talvez seja porque desejamos ser amados, quer dizer, queremos alguma coisa do outro (o amor), em vez de chegar a ele sem reivindicações, desejando apenas sua simples presença."

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