sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"Eu te dou de presente São Paulo"

"Eu te dou de presente São Paulo". A frase foi mais ou menos essa, dita ao final do espetáculo Santidade, pelo personagem de Zé Celso ao ex-seminarista sustentado por ele, mas o que me fez lembrar dela foi assistir ao filme "Quanto dura o amor?". O filme tem como pano de fundo uma São Paulo que me é muito próxima, o edifício no qual foi filmado é o lugar onde frequentei por muito tempo, tinha amigos que moravam por lá, assim como me é próximo o fórum, o restaurante japonês na Liberdade e um pouco da vida daqueles personagens.

Sempre me senti um pouco outsider, o que agrada a maioria das pessoas geralmente não me agrada. Estudei por cinco anos em uma faculdade tradicional da qual nutri o mais profundo desprezo, muito da cidade oficial me fazia sentir como um alienígena, era como estar em uma ilha cercada de hostilidade.

Com o tempo aprendi que São Paulo é um pouco assim, vivo na cidade que nos convida à solidão. Por aqui estamos juntos, mas ao mesmo tempo estamos muito sós. Descobrimos os espaços undergrounds, mas eles são apenas a outra face da exclusão. Para compreender essa cidade é preciso olhar atentamente para os seus detalhes que muitas vezes nos fogem.

Estamos diante de um mundo de contradições, podemos estar dentro ou fora, somos atraídos e ao mesmo tempo cuspidos por essa grande roda viva. Se as relações típicas da modernidade são efêmeras, por aqui elas parecem ainda mais fulgazes. Mas apesar de tudo há o encanto de um lugar que nos chama, exatamente por ser assim, o avesso do avesso do avesso do avesso, como bem cantou Caetano.

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