quinta-feira, 14 de maio de 2009

A respeito de se apaixonar e de se fazer escolhas

Li por aí que alguém escreveu que se apaixonar é uma escolha. Só posso discordar radicalmente de tal afirmação, pois diante de minha experiência empírica aceitá-la seria dizer que sempre procurei por problemas na vida.

Lembro-me das três grandes paixões que tive na vida: o primeiro saía de um relacionamento super complicado no qual eu era uma espécie de confidente dos seus problemas amorosos, quer dizer, saía não, durante todo o tempo em que eu fui louca por ele e mesmo depois ele tinha uma espécie de obsessão pela pessoa. O segundo foi a paixão mais maluca que vivi, durou dois meses, sendo que desde o início eu sabia que ele estava apenas de férias no Brasil e que quando voltasse para Europa logo se casaria. Em resumo, só poderia estar louca se tivesse escolhido me apaixonar por essas pessoas.

Se pudesse falar em escolha, quem sabe meu terceiro caso de paixão se encaixasse, mas esse na verdade eu me apaixonei antes pelo personagem do que pela pessoa. Após assistir sua peça, decidi que queria conhecer o tal ator por trás daquele personagem. E quando vi aquele ator franzino e tímido que se transformava no palco, não tive dúvidas, estava diante da minha mais nova paixão. A partir daí começaram todos os meus problemas, mas isso não vem ao caso, o que eu quero dizer é que talvez nessa situação possa se falar que eu teria escolhido me apaixonar, mas nem nisso eu acredito.

O que mais me incomoda na paixão é o fato dela ser irracional, tenho muitas dificuldades em lidar com tudo que foge da racionalidade, com tudo que possa fugir do meu controle. E com a paixão acontece exatamente assim, quando percebemos estamos apaixonados e não conseguimos controlar o que sentimos, não há escolhas. O máximo que de discricionariedade que temos é escolher quando não queremos mais, o que não é um processo fácil, visto que não tivemos escolha no início, é algo que fugiu a nossa razão.

Mas mesmo assim, desfiz do meu pessimismo em relação à paixão, é impossível resistir aos seus encantos diante de um homem como Vinícius de Moraes e sua ode à paixão. Sempre ele, paixão para mim é sinônimo de Vinícius de Moraes. Aquele mesmo Vinícius, que viveu sempre apaixonado e acreditava que o que vem do coração tem que deixar acontecer, mesmo que desarrume a vida. Ainda que não se concorde com suas palavras, há como dizer que não há algo de belo em viver a vida como tal? Porém, o fato é que talvez essa seja uma vida apenas para os poetas...

2 comentários:

  1. Das vezes que me apaixonei, acredito que meio que escolhi. Era um ambiente legal, me sentia bem, se tivesse algo com alguem dali ia ser fantástico: me ferrei. Em todas. Porque talvez tivesse alguma intenção consciente, racional, no início, mas é como uma bicicleta sem freio na descida: o único e pequeno problema é só na hora de parar.

    Independente da gênese, tem-se essa pulsação esquizofrênica que segue em andamentos diferentes do nosso corpo. E ela leva a alma a galope. Graças a Deus! Porque se a irracionalidade assusta, a racionalidade me dá ainda mais medo. É nossa racionalidade engenheirística, matemática, lógica, científica, travestida em jaleco branco, com óculos de grau e canetas no bolso, que sempre bota tudo a fuder. Porque suas certezas são tão verdadeiras quanto as do lúdico, da paixão, do sonhar, mas traveste-se em seu discurso a credibilidade do método e da "verdade científica", roupagens ideológicas de posturas subjetivas. E aí, de que vale o poeta? É necessário que se exija na constituição da comissão de avaliação do plano diretor, também cadeiras para mendigos e poetas (ainda que hoje estes mais querem que comprem seu livro, seu trabalhinho, ou filem um cigarro, do que olhar nos seus olhos)!

    Mas é devaneio: não é mais a paixão que falo, mas o embate construção intelectual x construção de sentimento. Passei a gostar mais de Vinicius do que de Chico por conta disso. Chico, inteligentissimo, refinado, gênio mesmo. Mas quantas de suas letras são paridas de seu próprio sentimento? Tenho duvida se o são mesmo... Mas Vinicius, é bem isso. Ele é a paixão. Na letra está o sentido sentido pela alma. É verdade aquilo, é verdade. É sincero.

    Mas Chico então é desalmado? De jeito nenhum. Justamente pela incerteza da racionalidade,eu acho. A razão não dá certezas, aponta caminhos, mas tem em si o sujeito. Não se desvincula da subjetividade nunca. E a construção intelectual, sã, consciente, está tão embriagada de sentimento, quanto Vinícius era com whisky. O que Vinícius faz é só deixar isso claro.

    Mas são devaneios falaciosos só. Pouco importa Chico, pouco importa Vinicius, cientistas ou poetas: o que faz a vida valer a pena é mesmo o olhar da menina tímida da minha sala.

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  2. Sim, eu creio que é necessário querer apaixonar-se, na maioria das vezes; como brinquei "até sentimento" tem preço, é necessário querer pagar esse preço; o "preço da paixão".

    Realmente; querida, contrariar ao MESTRE - "o poeta da paixão" - é mui complicado. Mas ainda no "amor do Vinícius" ele sempre escolhe "a mãe" do amor socrático; Pênia, a pobreza, tendo mais força que Poros, o esperto; "o pai"; independente de eros, philia ou ágape.

    Veja o que a Lygia Clark disse; "O erótico vivido como profano e a arte vivida como sagrada se fundem em uma experiência única. Trata-se de misturar arte com vida."

    Mas NOSSA, esse anônimo comparando teu MARIDO com o MESTRE maior !? que medo disso. rs.

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