sábado, 28 de março de 2009

Sempre acreditei que existem coisas que escapam ao nosso entendimento, algo que a ciência ainda não conseguiu compreender, mesmo que minha realidade seja a realidade científica. Na verdade, tata-se daquela velha contradição do ser humano, não há como escapar, embora contraditoriamente, não acredite em leis gerais e imutáveis.

Mas toda essa digressão é apenas para relatar que descobri que algumas relações são tão fortes que apesar de muitas vezes querermos romper alguns laços surge algum fato extraordinário para provar que se trata de uma relação extraordinária, que requer um olhar extraordinário.

Não sei que nome dar a isso, e do mesmo modo, acho que é melhor não dar nome nenhum. Isso também é o nosso segredo.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Ontem tive a sensação de como deve ser estar no inferno, se é que ele existe. Dividir o mesmo ambiente com Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin, Gilberto Kassab, Paulo Renato Souza e mais alguns da fina flor do tucanato só pode ser muito castigo.

Olhando na cara dessas pessoas fiquei pensando como o Brasil seria bem melhor se elas não existissem. Para variar havia um monte de jornalistas correndo atrás e fiquei pensando que já que gostamos tanto dos americanos, por que não apareceu pelo menos um para dar uma sapatada, para termos, assim como nos EUA, um ex-presidente que levou uma sapatada de um jornalista.

Como disse um amigo, não podemos mais dizer que a vida não nos deu uma chance de calá-los...acho que vou ter pesadelos por um bom tempo com todo esse povo.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Eterno Retorno

Sonho de um carnaval. apenas sonho. nós. Rio de Janeiro. realidade. Recife. Nelson Rodrigues. Carmem Miranda. apenas você.distância. eterno retorno.


"Recordar é viver, eu ontem sonhei com você."

quarta-feira, 25 de março de 2009

João e Maria (fragmento)

...Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?

segunda-feira, 23 de março de 2009

Um recado (ou um desabafo)

Em um certo momento, quando não sabia o que falar e tentei me expressar pelas palavras da Clarice (sim, mais uma vez Clarice Lispector), queria na verdade te dizer isso:

"É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade."

O momento passou, agora já não sei se emprestaria tais palavras, transformamos tudo em não, em vão procuramos desculpas por nossos medos, nossas incertezas.

Quanto a mim, mais uma vez escolhi seguir em frente, em busca de algo que não sei o que é, mas que seguramente não encontrarei em ti. Porém, carrego comigo esse nosso segredo, e acredito, que a vida possa ser verdadeiramente a arte do encontro, apesar de todos os desencontros que encontramos pela vida.

Choro Bandido


Chico Buarque e Edu Lobo

Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim

Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim

Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons

sábado, 21 de março de 2009

Queria saber expressar com palavras escritas o que sinto pelo mundo, pelas pessoas, mas nem sempre é possível. Algumas pessoas nascem com talento para isso, outras apenas tentam...

Por isso às vezes empresto palavras, como essas agora, de Caio Fernando Abreu:

“Não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia.”

Acordei um tanto melancólica hoje, acho que deve ser o cinza do dia que me deixa assim...

sexta-feira, 20 de março de 2009

Voltando a Clarice, relendo mais uma de suas crônicas vi que estava certa, Clarice não gostaria de ser vista como um mito. Em determinado momento do texto ela diz: "não há simplesmente mistérios que justifique mitos, lamento muito".

Mas é tão díficil não mitificar...fico imaginando suas conversas com Carlos Drummond de Andrade, as cartas trocadas com Fernando Sabino, os cafés com Chico Buarque. Como ela mesma costumava dizer, era uma dessas pessoas altamente gostáveis.

Na verdade, posso até concordar que não se justica o fato de criarmos mitos, mas que algumas pessoas parecem estar alguns passos adiante do restante da humanidade eu não tenho a menor dúvida, e elas têm uma vida tão curta.

Esse mundo é contraditório mesmo...
Sou uma pessoa de fases, e como também sou um pouco obsessiva, existem épocas que eu me apego a determinados autores e tenho vontade de devorar tudo o que foi escrito por eles. Nos últimos dias estou numa fase em que tudo o que aparece sobre Clarice Lispector me interessa.

Clarice para mim é como um mito, e talvez só se compare a admiração que eu tenho por ela com o amor que eu sinto pelo Chico Buarque, embora sejam coisas totalmente distintas. Clarice é mais do que uma autora que eu admiro, é como se ela fosse meu ideal de vida, alguém que eu me identifico para além da obra.

Mas hoje, ao reler um de seus contos, comecei a pensar em como fabricamos mitos e como os desmitificamos. Clarice conta em uma de suas crônicas, um encontro com Maria Bonomi, sua comadre e amiga e também esposa do diretor Antunes Filho. Estranho porque eu construí a imagem de Clarice como um mito e todas as suas relações deveriam estar na ordem da mitologia, e seguindo esse raciocínio, Antunes também deveria ser um mito para mim.

Ocorre que alguns dos meus amigos são atores que trabalham ou trabalharam com Antunes, o que fez com que desmitificasse a imagem do diretor. Antunes para mim é apenas um dos melhores diretores do teatro que eu conheço, porém, humano como todos nós.

Já com Clarice, a imagem que eu tenho é de alguém que está muito distante da realidade, ela é aquela escritora que eu aprendi a gostar no colégio, que escreveu o livro que me fez chorar ao ler e que se insere em um outro patamar.

Fiquei pensando se não é o fato dela estar morta e de eu nunca poder saber quem ela realmente é, na sua porção mais humana, que me fez com que surgisse toda essa aura de mitificação em torno do seu nome. A obra eterniza o autor e a sua morte o coloca em um lugar que o afasta dos homens.

Não sei ao certo o que acontece, mas me passou pela cabeça que se Clarice pudesse ler o que eu acabo de escrever ela não concordaria com essa sua suposta supra-humanidade. Se bem que é um pouco de presunção minha achar que ela pudesse ler algo que eu escrevi...

quarta-feira, 18 de março de 2009

Em um mundo que valoriza tanto a razão, não há nada de mais irracional do que a intolerância e o preconceito. Não consigo compreender porque algumas pessoas podem ser consideradas menos cidadãs do que outras pela cor da sua pele ou pela sua orientação sexual.

Ontem fui assistir Milk, a voz da igualdade, e saí do cinema com a sensação de que quantos passos darmos na direção de mais racionalidade, contraditoriamente, outros tantos estaremos caminhando para mais irracionalidade.

É muito estranho ver que um cidadão tenha que lutar para poder expressar seus sentimentos livremente, por poder dar um beijo em público sem correr o risco de ser preso, lutar para poder exercer sua profissão livremente sem ser taxado de querer corromper crianças pelo simples fato de ter uma outra orientação sexual.

É difícil compreender que tais acontecimentos ocorreram em um mundo que acabara de passar por um movimento de liberação de costumes em que se clamava por amor livre, e é mais difícil ainda, a compreensão de que hoje, em pleno século XXI, temos que assistir tamanha intolerância.

Por outro lado, tenho cada vez mais certeza de que só se consegue mudar alguma coisa com mobilização, é preciso ir para as ruas, mostrar a cara, lutar por cada direito que garanta cidadania plena a todos. Nesse sentido, ainda que descaracterizada e transformada em um grande comércio, é extremamente necessário que se tenha um evento como a Parada Gay, que reúna 3 milhões na Avenida Paulista, para mostrar que a minoria nem é tão minoria assim e que ainda se fosse merece ser respeitada.

Dizem que cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, e que portanto, somente quem sofre um preconceito sabe o quanto custa se assumir e lutar por direitos, mas direitos não são dados e sim conquistados, e só se conquista algo com muita luta, e para isso é preciso mostrar a cara. E essa é uma batalha de todos que lutam por menos intolerância, independente da cor, do sexo ou da orientação sexual.

Assim como me fez pensar na contradição entre racionalidade e irracionalidade, assistir Milk me fez pensar também na contradição entre sentimentos, por um lado o pessismismo de ver que mesmo com todos os avanços por que passou, o mundo continua tão intolerante e por outro o otimismo de que com muita luta é possível uma transformação.

domingo, 15 de março de 2009

A canção:

“Cuando Voy al trabajo”

Cuando voy al trabajo
pienso en ti
por las calles del barrio
pienso en ti
cuando miro los rostros
tras el vidrio empañado
sin saber quienes son, donde van.
Pienso en ti
mi vida, pienso en ti.
En ti compañera de mis dias
y del porvenir
de las horas amargas
y la dicha de poder vivir.
Laborando el comienzo de una historia
sin saber el fin.

Cuando el turno termina
y la tarde baja
estirando su sombra
por el tijeral
y al volver de la obra
discutiendo entre amigos
razonando cuestiones
de este tiempo y destino,
pienso en ti
mi vida, pienso en ti.
En ti compañera de mis dias
y del porvenir
de las horas amargas
y la dicha de poder vivir.
Laborando el comienzo de una historia
sin saber el fin.

Cuando llego a la casa
estas ahi,
y amarramos los sueños.
Laborando el comienzo de una historia
sin saber el fin

sábado, 14 de março de 2009

Descobri nas palavras do cantor chileno Vítor Jara, assassinado pela ditadura do General Pinochet, algo que pretendo levar como um mantra: que a felicidade é poder viver cultivando o começo de uma história sem saber o fim.

Quando serei capaz de começar?Ainda não sei, mas sei que é preciso...
Sobre o sonho:

Menino do Rio
Calor que provoca arrepio
Toma esta canção
Como um beijo...


Se bem que o menino nem é do Rio e infelizmente ainda não vive por lá...por enquanto, por enquanto...

Elegia ao primeiro amigo


Seguramente não sou eu
Ou antes: não é o ser que eu sou, sem finalidade e sem história.
É antes uma vontade indizível de te falar docemente
De te lembrar tanta aventura vivida, tanto meandro de ternura
Neste momento de solidão e desmesurado perigo em que me encontro.
Talvez seja o menino que um dia escreveu um soneto para o dia de teus anos
E te confessava um terrível pudor de amar, e que chorava às escondidas
Porque via em muitos dúvidas sobre uma inteligência que ele estimava genial.
Seguramente não é a minha forma.
A forma que uma tarde, na montanha, entrevi, e que me fez tão tristemente temer minha própria poesia.
É apenas um prenúncio do mistério
Um suspiro da morte íntima, ainda não desencantada...
Vim para ser lembrado
Para ser tocado de emoção, para chorar
Vim para ouvir o mar contigo
Como no tempo em que o sonho da mulher nos alucinava, e nós
Encontrávamos força para sorrir à luz fantástica da manhã.
Nossos olhos enegreciam lentamente de dor
Nossos corpos duros e insensíveis
Caminhavam léguas – e éramos o mesmo afeto
Para aquele que, entre nós, ferido de beleza
Aquele de rosto de pedra
De mãos assassinas e corpo hermético de mártir
Nos criava e nos destruía à sombra convulsa do mar.
Pouco importa que tenha passado, e agora
Eu te possa ver subindo e descendo os frios vales
Ou nunca mais irei, eu
Que muita vez neles me perdi para afrontar o medo da treva...
Trazes ao teu braço a companheira dolorosa
A quem te deste como quem se dá ao abismo, e para quem cantas o teu desespero Como um grande pássaro sem ar.
Tão bem te conheço, meu irmão; no entanto
Quem és, amigo, tu que inventaste a angústia
E abrigaste em ti todo o patético?
Não sei o que tenho de te falar assim: sei
Que te amo de uma poderosa ternura que nada pede nem dá
Imediata e silenciosa; sei que poderias morrer
E eu nada diria de grave; decerto
Foi a primavera temporã que desceu sobre o meu quarto de mendigo
Com seu azul de outono, seu cheiro de rosas e de velhos livros...
Pensar-te agora na velha estrada me dá tanta saudade de mim mesmo
Me renova tanta coisa, me traz à lembrança tanto instante vivido:
Tudo isso que vais hoje revelar à tua amiga, e que nós descobrimos numa incomparável aventura
Que é como se me voltasse aos olhos a inocência com que um dia dormi nos braços de uma mulher que queria me matar.
Evidentemente (e eu tenho pudor de dizê-lo)
Quero um bem enorme a vocês dois, acho vocês formidáveis
Fosse tudo para dar em desastre no fim, o que não vejo possível
(Vá lá por conta da necessária gentileza...)
No entanto, delicadamente, me desprenderei da vossa companhia, deixar-me-ei ficar para trás, para trás...
Existo também; de algum lugar
Uma mulher me vê viver; de noite, às vezes
Escuto vozes ermas
Que me chamam para o silêncio.
Sofro
O horror dos espaços
O pânico do infinito
O tédio das beatitudes.
Sinto
Refazerem-se em mim mãos que decepei de meus braços
Que viveram sexos nauseabundos, seios em putrefação.
Ah, meu irmão, muito sofro! de algum lugar, na sombra
Uma mulher me vê viver... – perdi o meio da vida
E o equilíbrio da luz; sou como um pântano ao luar.

Falarei baixo
Para não perturbar tua amiga adormecida
Serei delicado. Sou muito delicado. Morro de delicadeza.
Tudo me merece um olhar. Trago
Nos dedos um constante afago para afagar; na boca
Um constante beijo para beijar; meus olhos
Acarinham sem ver; minha barba é delicada na pele das mulheres.
Mato com delicadeza. Faço chorar delicadamente
E me deleito. Inventei o carinho dos pés; minha palma
Áspera de menino de ilha pousa com delicadeza sobre um corpo de adúltera.
Na verdade, sou um homem de muitas mulheres, e com todas delicado e atento
Se me entediam, abandono-as delicadamente, desprendendo-me delas com uma doçura de água
Se as quero, sou delicadíssimo; tudo em mim
Desprende esse fluido que as envolve de maneira irremissível
Sou um meigo energúmeno. Até hoje só bati numa mulher
Mas com singular delicadeza. Não sou bom
Nem mau: sou delicado. Preciso ser delicado
Porque dentro de mim mora um ser feroz e fratricida
Como um lobo. Se não fosse delicado
Já não seria mais. Ninguém me injuria
Porque sou delicado; também não conheço o dom da injúria.
Meu comércio com os homens é leal e delicado; prezo ao absurdo
A liberdade alheia; não existe
Ser mais delicado que eu; sou um místico da delicadeza
Sou um mártir da delicadeza; sou
Um monstro de delicadeza.

Seguramente não sou eu:
É a tarde, talvez, assim parada
Me impedindo de pensar. Ah, meu amigo
Quisera poder dizer-te tudo; no entanto
Preciso desprender-me de toda lembrança; de algum lugar
Uma mulher me vê viver, que me chama; devo
Segui-Ia, porque tal é o meu destino. Seguirei
Todas as mulheres em meu caminho, de tal forma
Que ela seja, em sua rota, uma dispersão de pegadas
Para o alto, e não me reste de tudo, ao fim
Senão o sentimento desta missão e o consolo de saber
Que fui amante, e que entre a mulher e eu alguma coisa existe
Maior que o amor e a carne, um secreto acordo, uma promessa
De socorro, de compreensão e de fidelidade para a vida.



Rio de Janeiro, 1943

Vinícius de Moraes


quinta-feira, 12 de março de 2009

Ainda sobre a madrugada...

Ainda sobre a conversa da madrugada e sobre minha condição de gauche, fiquei pensando a respeito de como somos poucos e ainda assim nos encontramos. E esse encontro nos faz saber que apesar de poucos não somos únicos, que não estamos sozinhos, o que me dá esperança.

Qual outra pessoa, que não outro gauche na vida, estaria discutindo tal assunto comigo à 1h da manhã?

Diante disso, não há como não pensar que algumas semelhanças, especialmente aquelas que são essenciais, compensam qualquer diferença. E desse modo, como não pensar que há um grande componente de racionalidade no amor. O amor, ao contrário da paixão, pode também ser resultado de uma escolha racional.

Olha eu novamente desafiando o senso comum, mas essa já é uma outra história...

Tendo a achar que conversas durante a madrugada sempre são as mais interessantes, o motivo de eu ter essa percepção eu nem imagino qual seja, mas o fato é que essa madrugada tive uma conversa que não consigo tirar da cabeça.

Será que sou hipócrita por me considerar uma outsider desse mundo e ao mesmo viver as benesses que esse mundo injusto, por assim dizer, me proporciona? Sempre tive orgulho por não pensar como o senso comum, por ter idéias divergentes em quase tudo que se diz que é consenso, aliás, odeio quando em qualquer discussão alguém vem com esse argumento do consenso.

Alguns exemplos do que estou tentando expressar: não acho que se define um cidadão pelo que ele consome, sou contra redução da maioridade penal, contra a prisão em casos de crime de furto, contra a lógica da eficiência do mercado, a favor da descriminalização da maconha e do aborto, a favor da legalização do aborto, defendo o MST e os movimentos sociais em geral, acho que toma maneira de amar vale a pena, não acho que o amor possa ser colocado em um contrato e muito menos se prender a convenções, prefiro mil vezes a siceridade e a lealdade à fidelidade e mais um monte de coisas que arrepiariam os cabelos de mentes conservadoras.

Mas ao mesmo tempo vivo em um mundo em que todas as relações são reduzidas à mercadoria, um mundo machista, homofóbico, hipócrita. E qual a minha parcela de contribuição para mudar isso? Quase nenhuma, só tenho a minha indignação nas conversas de boteco com os amigos. No mais, vivo as benesses desse mundo, nasci numa família de classe média, fiz duas graduações em uma universidade pública sem precisar trabalhar para me sustentar, vivo da exploração da mais-valia de quem na teoria eu defendo.

Diante disso, eu não seria hipócrita ao defender tais pontos de vista diante da vida que levo? Esse foi o ponto que me intrigou na conversa de ontem e que me fez pensar em muitas coisas. Lógico que tenho minha parte de hipocrisia nessa história, porém a outra possibilidade dada seria agir de acordo com os interesses da minha classe, já que me beneficio de tal exploração, assim não estaria sendo contraditória com o que vivo.

Poderia até ser menos contraditório dizer: "Eu sempre defendi pontos de vista minoritários na sociedade, mas sempre aproveitei das consequências desse mundo injusto, então, para ser condizente com o que vivo, a partir de agora, apesar de discordar, vou passar a defender os pontos de vista dominante, já que não vejo saída para uma tranformação.", mas seria de um cinismo sem precendentes.

Não tenho uma visão ingênua de que apenas com voluntarismo pode-se mudar a ideologia dominante na sociedade, são relações que estabeleceram durantes séculos e que não vão acabar apenas com boa vontade, precisa de um sujeito histórico e de uma correlação de forças favorável, o que estamos bem distante de ter. Entretanto, aceitar que algo construído seja natural é aceitar a dominação, e isso eu me recuso a fazer, prefiro ser chamada de hipócrita.


quarta-feira, 11 de março de 2009

Estado de espírito em uma quarta-feira cinza que não se confunde com a de cinzas:

No Surprises

Radiohead


A heart that's full up like a landfill
A job that slowly kills you
Bruises that won't heal

You look so tired and unhappy
Bring down the government
They don't, they don't speak for us
I'll take a quiet life
A handshake of carbon monoxide

No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
Silent silence

This is my final fit, my final bellyache with

No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises please

Such a pretty house and such a pretty garden

No alarms and no surprises (let me out of here)
No alarms and no surprises (let me out of here)
No alarms and no surprises please (let me out of here)

terça-feira, 10 de março de 2009

Descendo a rua, com o vento do frio inverno soprando contra, ela o viu, estava no café da esquina, sentado da mesma maneira de outrora. Diante de tal visão, sua primeira reação foi querer recuar, queria inverter o caminho, tomar um outro rumo.

Por um momento parou, não tinha coragem de se aproximar e muito menos de mudar de rumo. Durante o tempo que se manteve ali parada, seus pensamentos voaram para anos e anos atrás. Lembrou-se da vida que partilharam juntos, de como eram próximos, de como se entendiam, bastava apenas um olhar.

Sua vontade era de ir ao encontro daquele que talvez tenha sido o único amor de sua vida, aquele que escapara por um capricho. Passado tantos anos, ela pretendia acertar contas com o seu destino, com o seu coração, com a sua história.

Mas se fosse até ele, o que diria? Chagaria perto e falaria: "Oi, lembra-se de mim? Fomos aqueles que não tiveram coragem de construir nossa própria história." ou então: "Querido, quanto tempo, você não mudou nada!! O seu rosto, desde que o vi de longe, me trouxe a lembrança do tempo em que éramos melhores amigos."

Não, talvez fosse melhor passar reto, quem sabe se ele ao vê-la passar não levantasse daquela cadeira e fosse ao seu encontro para reconstruir a história de ambos. Na verdade, mais uma vez ela teve medo. Aquele rosto familiar trazia à tona uma vida de explosões contidas, de palavras nas entrelinhas, uma vida baseada em uma suposta racionalidade que os protegia de serem o que já eram.

Lembrou-se ainda do tempo em que tudo se transformou em não, de como foi triste e dolorida a separação, de como foi sofrido terem que assumir que os caminhos que se cruzaram e que permaneram juntos até então, a partir daquele momento seguiriam uma estrada distinta. Lembrou-se de como no começo ainda se falavam todos os dias, de que a distância entre os oceanos a os separarem parecia quase inexistente.

Mas também se lembrou de que o provisório se tornou permanente, suas vidas foram levadas a caminhos diferentes, e aquele reencontro parecia ainda mais dolorido do que a separação. Ela continuou descendo, ainda sem saber o que fazer, e depois de alguns passos parou novamente.

Agora ela tinha medo de não mais reconhecê-lo, não fisicamente, pois ele continuava bem parecido, quem sabe apenas um pouco mais gordo, tinha medo de não mais reconhecê-lo no que havia de essencial entre eles. Será que ainda dividiam os mesmos sonhos? Será que ainda se entenderiam com o olhar?

Decidiu então que iria encará-lo, mas já era tarde. Durante o tempo em que ficara parada na ladeira que a levaria ao encontro de sua juventude ele pagara sua conta e havia saído do café. No desespero ela tentou correr, queria alcançá-lo, dizer que morria de saudades, que durante todo esse tempo a única verdade que havia construído era a de que um dia eles se amaram e que tiveram medo de viver esse amor. No fundo, ela apenas queria apenas ser sincera consigo mesmo, ainda que depois de tanto tempo.

Não foi possível, ele entrou no carro e partiu. Ela, sem saber o que fazer, chorava baixo enquanto apertava o passo na tentativa de seguir o seu caminho. Sabia que não existiria mais volta, não era possível uma terceira chance. Nesse momento o vento frio continuava a soprar, mas agora soprava ao seu favor.

sábado, 7 de março de 2009

Sobre o amor entre eles...

Eu te amo por ser assim tão diferente e ao mesmo tempo tão parecido no que é essencial. Amo-te por seguirmos juntos um mesmo caminho, pelo que fomos, pelo que vivemos hoje, pelas incertezas que nos reserva o futuro.

Eu te amo pelos sonhos compartilhados, pelo silêncio compartilhado. Amo-te também por ser a minha realidade e pelo simples fato da sua existência mostrar a minha capacidade de amar, eu que tantas vezes duvidei que tal fato fosse possível.

E amo-te, acima de tudo, pela sua imensa liberdade e por representar o avesso do que o senso comum entende por amor.


Vale tudo pelo poder???

Eu acho que na cabeça do nosso presidente a resposta é positiva. Se há algo que está me incomodando profundamente nos últimos dias é o fato de que cada vez que abro o jornal ou uma página da internet parece que cai uma bomba na cabeça.

Começou com a questão do MST, em que se mostra claro o processo de criminalização dos movimentos sociais, e o presidente, que conhece muito bem a luta pela terra nada fala, muito pelo contrário, corrobora com o discurso de Gilmar Mendes e sua turma. Depois veio o Collor, eleito para a Comissão de Serviços e Infraestrutura do Senado com o apoio da base aliada e agora leio que os ruralistas controlam a Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara.

2010 está aí e o governo vai fazer de tudo para ganhar todo tipo de apoio a candidatura Dilma, mas a que preço?

O pior de tudo isso é olhar o cenário e ver que não há alternativa, não há opção ao quadro que nos foi colocado, ou aceita-se o que está dado ou engula Serra presidente. Nessas horas eu me pergunto, até quando vai ser assim?