sexta-feira, 8 de maio de 2009

Quando a desigualdade nos visita

Existem muitos ensaios e teses acadêmicas sobre a desigualdade social, mas ela é tão gritante que não precisa de muito para entendê-la, ou ainda esbarrá-la na porta de casa.

Acabava de chegar da aula de francês, já passava das 22h, quando na rua da minha casa surge um burburinho, e como pessoa curiosa que sou, fui o ver o que se tratava. Ao olhar para o outro lado da rua, descubro o motivo de tanta hesitação, havia uma Ferrari com seu vermelho reluzente parada na porta de um dos restaurantes.

O revés dessa história e o que ninguém percebe é que em frente àquela Ferrari, embaixo do prédio onde eu moro, vive um homem que talvez nem saiba o valor daquele carro, e ele dormia alheio à comoção causada pela Ferrari vermelha. Mas aquele homem sequer está nas estatísticas de pobreza do país, é como se ele não existisse, então contemplamos o carro sem culpa.

Depois daquela cena, subi as escadas do meu prédio pensando se o dono da Ferrari vermelha não sentia nada ao ostentá-la naquele momento e no momento seguinte, ao sair e dar de cara com o menino que vende bala no farol, tratá-lo como se não existisse. E na minha impotência de não conseguir mudar a situação, vi justiça no gesto do assaltante, ainda que uma justiça torta, mas que naquele minuto significava a redenção para o homem que dormia na porta do meu prédio.

2 comentários:

  1. Hoje, vi na aula que alguns autores consideram alguns movimentos sociais, como Canudos e o Cangaço, como Pré-Políticos. Pois não se trata de consciência, de um projeto político que possa desencadear tranformações. É mero impulso, guiada ou não por lideres, sem projetos claros, mas vontades.
    Em suma, revolta, não revolução.
    Paixão, não teorização.
    Pra mim, foda-se: continuo fã do William Wallace (tá o fake mesmo, o do filme).
    E, nessa hora, o assaltante segura a arma e aponta. O milionário contrai os músculos. As possibilidades de continuação da história são ou uma troca de sentimentos fortes, fazendo ambos mudar sua visão sobre o mundo; ou um assassinato subito seguido de prisão rápida e passeatas de pessoas "in" usando camisetas brancas; ou o milionário é o Batman e desfere um rápido chute, desarmando o assaltante.
    Eu, particularmente, gosto mais da terceira opção, por ser a mais lógica. Afinal, ele precisa estar disfarçado de ricaço idiota para sair com uma ferrari só pra ir a um restaurante, é óbvio. Tudo para manter sua identidade secreta de vigilante. Mas aí retorna o senso de injustiça: este maldito morcego também merece ser punido! Seno o Batman ou não!
    Aí, analisamos sua vida: sozinho, sem amor dos pais. Tá eles morreram, mas o senhor wayne vivia viajando a negócios, deixando a sra wyane viciada em amantes, comprimidos e (segredo) psicólogos. Se eles estivessem vivos Bruce Wayne teria uma vida ainda mais sofrida, pois se sentiria frustrado, entediado, revoltado, e, pior, nem teria motivos pra isso ou mortes pra vingar. Assim, ele consegue na vida adulta algumas namoradas que não chegam a conhecer ele de verdade. Tudo bem, quase todas são gostosas e bonitas, mas ele não pode se abrir com elas, falar de todas estas frustrações, solidão e desejos reprimidos. Ele então tenta aliviar seus sentimentos socando meliantes e comendo chocolate 70% cacau. Vida fácil? Tá, ele tem uma ferrari, uma mansão, come em restaurantes finos e etc, mas não brincou na rua, não tem amigos de verdade e, quando quer jogar video game, precisa pedir pro seu mordomo ser player 2. Disfarça a escuridão de sua vida medíocre em uma máscara negra, constrói sua falta de justiça sob um pretexto de vingança. É um perdido, um coitado, um pré-político e, ainda por cima, sozinho e impotente (porque todo mundo sabe que ficar usando aquelas calças e sungas apertadas prejudicam o desempenho).
    Sinceramente, sorte tem é o mendigo!

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  2. nossa, querida..."aquelas calças e sungas apertadas prejudicam o desempenho", do teu anônimo foi mui engraçado.

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