quinta-feira, 30 de abril de 2009

Inclassificável



Tinha que o encontrar no Teatro Oficina...ainda não consegui definir a energia daquele lugar...grande Ney, inclassificável!!!!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Mundo doido esse, as pessoas adoram julgar o que elas não conhecem a partir de seus valores. Por que não podemos ser diferentes? Não quero ser desse lugar, estou satisfeita com minha condição de inadaptada, não preciso do olhar complacente de ninguém e tampouco preciso da análise revestida de preconceitos de quem não consegue enxergar além do seu pequeno mundo de convenções.
"Se têm a verdade, guardem-na!".
A vocês de alma bem pequena, deixo um pouco de Álvaro de Campos:

"Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?..."

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Para todo momento da vida há uma canção...



"Lutemos mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor"

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Todo o sentimento

Chico Buarque

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.

Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.

Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Nós valoramos os conceitos de acordo com a experiência vivida, em si mesmos eles não querem dizer nada. A paixão por exemplo, não creio que estar apaixonado é algo necessariamente bom. Pode parecer uma visão um pouco pessimista das relações, mas minhas experiências com paixões não foram das mais fáceis.

Hoje, como na letra do Chico, tenho apenas uma pedra no meu peito. Mentira. Mas é verdadeira a idéia negativa de paixão que construí, a tal ponto que se me falarem que estou apaixonada por alguém vou achar que estão me ofendendo, chego a encarar o fato de estar apaixonada como fraqueza.

Na verdade tenho um problema com isso, acredito que fazer algo movido por paixão nos dá vida, e, contraditoriamente (ou não), continuo me apaixonando por várias coisas, pessoas, mas não aquela paixão que surge em relacionamentos amorosos, dessa eu fujo como o diabo foge da cruz.

Não acho tal atitude das mais interessantes, aliás, é uma atitude totalmente contrária ao "Vinicius way of life" que eu tanto gosto. Vinicius de Moraes era um cara movido a paixões, teve nove esposas, quando acabava a paixão ele acabava o casamento e quando se apaixonava novamente ele casava mais uma vez. Vinicius é um cara que eu admiro (é, porque algumas pessoas são eternas), embora não consiga viver como ele.

Mas como estou numa fase em que procuro sempre ver o lado belo das coisas, decidi que pretendo mudar, quero me apaixonar novamente, sentir o coração bater mais forte, o que de vez em quando é bom, nos faz sentir a vida pulsando nas veias...

ps: já que esse é um post falando de paixão, tenho um recado para alguém que não sei se me lê, mas de qualquer maneira aí vai: quero te dizer que se eu gosto tanto de ti, é pelo fato de você não ser apaixonado por mim, pois se assim o fosse não seríamos o que somos hoje. O amor que há entre nós já é mais do que suficiente para suprir a nossa falta de paixão. E essa nossa capacidade de nos amarmos dessa maneira faz com que vivamos assim, não precisamos de dar respostas aos outros, não temos necessidade de um relacionamento convencional, aliás, nós dispensamos as convenções. Vivemos a nossa vida, cada um ao seu modo e o que compartilhamos continua sendo o nosso segredo.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A palavra que falta

Queria colocar em palavras o instante vivido, mas não é possível, somente vivendo tudo aquilo para ser ter noção da intensidade do encontro. As palavras que num primeiro momento parecem machucar são só reflexos de uma grande liberdade de se dizer o que pensa, sem medos, sem máscaras.

E o que sinto é tão forte que me leva a crer que não exixstirá algo parecido, por mais que tenhamos vidas e vidas pela frente. Como tudo isso nasceu?? Não me lembro, já se passaram mais de sete anos. Quando se intensificou?? Também não me lembro e pouco me importa, parece que nascemos assim.

É com cada vez mais certeza que digo que não interessa o caminho que seguiremos, o que nos une é muito maior e muito mais forte do que qualquer distância. Nosso encontro é eterno e se não é possível encontrar palavras que o define fiquemos com ele como mais um de nossos segredos.

domingo, 19 de abril de 2009

"...apuesta a que usted bailará un zapateado que hará temblar todo, justo como tiembla el amor cuando es de veras. "

Subcomandante Marcos, Chiapas

sábado, 18 de abril de 2009

O lado B de cada um

Todo mundo tem um lado B, a diferença é que alguns preferem ocultá-lo e outros o mostram porque acreditam que rir de si mesmo é importante. Eu creio que me encaixo nesse segundo grupo, quem me conhece sabe desse meu jeito meio "culturete" à primeira vista, estudante de ciências sociais, estilo "meio intelectual meio de esquerda", que adora filmes de autor, teatro fora do circuito comercial e mais um monte de coisas senso comum do que se diz "cult". Mas é só à primeira vista, o que eu não faço nenhuma questão de esconder é que tenho fortemente aflorado o gosto por essas coisas ditas "lado B", tipo programas de televisão que não me fazem pensar, especialmente BBB (por falar em BBB, esse ano tinha o lado B do BBB, exatamente o lado para o qual eu torcia e de onde saiu o campeão...ok, só iniciados no programa vão entender isso), e que gosto muito também de assistir a comédias românticas no cinema.

E aproveitando que ontem tive o meu momento "é desconcertante rever o grande amor", resolvi sair de casa para um desses programas "lado B" e fui assistir a "Odeio dia dos namorados". Foi uma experiência e tanto, pois o último filme "circuito comercial" que eu havia assistido foi "Sex and City", que eu vi em um desses cinemas que passam filmes cults e odiei, porque além do filme ser péssimo (sim, meu lado socióloga falou mais alto e fiquei indignada com aquelas mulheres que só se afirmam enquanto tal e não como apêndice de um homem no consumo), sequer tinha aquela pipoca para me divertir durante o filme, pois comédia romântica tem que ser vista com um balde de pipoca, já que a possibilidade do filme ser ruim é grande e case ele realmente o seja, pelo menos a pipoca garante a diversão.

Mas vamos aos fatos de hoje: cheguei ao cinema, desses do circuitão, comprei meu ingresso e subi para ver o filme. Ao entregar o bilhete, fui direto na pipoca, grande e com muita manteiga, e logo segui para a sala garantir o meu lugar. E foi já dentro da sala que ocorreram cenas inusitadas como há muito não via no cinema e que me garantiram uma forte dose de diversão, como pessoas que riam e falavam alto, outras que falavam ao celular, pedidos de silêncio e o mais bizarro, um velhinho que dormia durante a sessão, dormia só não, ele roncava, o que logicamente arrancava mais risos das pessoas.

O resultado é que se com o filme em si eu nem me diverti tanto, pois achei meio conservador, apesar de ter algumas cenas dignas de "lado B", que são as que eu mais gosto, o que presenciei daquelas pessoas fez com que no conjunto tenha valido a pena sair de casa. Já fiz uma lista das próximas comédias românticas que irei assistir, com muita pipoca com manteiga, obviamente, e o mais importante, com olhos sempre atentos para captar o comportamento das pessoas, especialmente daquelas que fogem do esteriótipo (essa palavra não perdeu o acento, né???? acho que ela não é um ditongo aberto...ainda não decorei todas as regras do acordo ortográfico) do meu convívio diário, que é sempre o mais interessante.

E viva o lado B de todos nós, sem hipocrisias...
Alguns momentos são indescritíveis, como colocar em palavras o silêncio daquele encontro...palavras que não foram ditas, o sorriso amarelo a esconder o medo de se expor por inteiro, cada um a espera do dia redentor que nos trará a verdade, a nossa verdade...mas se é da "nossa verdade" que se trata, ela só pode ser encontrada em nós mesmos...então nossa busca é vã, mas ainda temos uma chance, podemos encontrar no caminho a resposta as nossas indagações.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O que será que te adormece?
O que será que te adormece?
Mágicas no cabelo
ou um abraço que te aquece?

terça-feira, 14 de abril de 2009

Mais caretas e covardes

Se você não é adolescente ou não convive com um, provavelmente não saberá do que estou falando, mas a nova onda do momento no "mundo teen" é um grupo de irmãos americanos chamado Jonas Brothers. Foi por causa deles que atravessei a cidade, eles vão fazer um show no Brasil e minha irmã de treze anos anos com certeza queria estar lá, por isso tive que ir até o Shopping Morumbi para comprar os convites.

Como não me interesso muito por bandas adolescentes e só sabia que esses meninos existiam por causa da minha irmã, que tem pôsteres espalhados pelo quarto, album no orkut, etc, etc, fui pesquisar quem eram os integrantes da tal banda e para minha surpresa descubro que eles são evangélicos e, pasmem, usam um anel da pureza, o que significa que eles vão se manter castos até o casamento.

Quando descobri isso achei engraçado, pensei que depois de tanta luta pela derrubada dos tabus que envolvem a sexualidade, os adolescentes do século XXI estão ficando cada vez mais caretas. Fiquei pensando na minha adolescência, vivida no final do século XX, e lembrei que longe de ter sido rebelde, nunca pagaria para ver uma banda cujos integrantes tivessem um discurso moralista.

Na verdade, sempre fui uma adolescente meio atípica, não tinha um ídolo por quem morria de amores, eu gostava mesmo era de futebol e era louca pelo Raí e pelo Leonardo, também por eles serem bonitos, mas especialmente eu os admirava por eles serem jogadores inteligentes e por terem jogado no São Paulo. E óbvio, como toda adolescente cheia de hormônios, queria ter um caso com eles, com os dois juntos se fosse possível.

Por isso eu olho para essas meninas apaixonadas pelos meninos dessa banda e não consigo compreender muito bem, porque por trás dessa atitude há uma série de valores morais, envolvendo tabus que eu imaginava já terem sido superados. Mais do que isso, colocam sobre o sexo aura que não existe. Sexo é uma necessidade física, assim como comemos, bebemos, dormimos, nós fazemos sexo, e não há nada de extraordinário nisso.

Então, num segundo momento, já não achei tão engraçado uma banda com um discurso moralista e repressor fazer tanto sucesso entre os jovens. Pensei no problema que existe quando reprimimos o desejo, que será satisfeito de uma outra maneira, pois, caso contrário, não teríamos tantos casos de pedofília entre padres. Ok, esse já é um outro assunto, mas ilustra bem o fato do que ocorre quando se tem uma repressão à sexualidade.

Acho que cada um faz da sua sexualidade o que bem entender, só que também acho muito perigoso quando surge alguém ou um grupo com alta capacidade de influência sobre outras pessoas, ditar um comportamento com base em moralismos retrógados. Sinceramente nem sei se esses meninos fazem apologia à castidade, o que li sobre eles se resume ao fato deles serem a sensação entre os adolescentes e a essa história do anel, porém, sei que o que conquistamos nos foi muito caro, custou à vida de muitas pessoas que lutaram não só por amor livre, mas por igualdade, por direitos que não podemos abrir mão.

E voltando à questão da adolescência nesse início de século, fica a triste constatação de que a letra da música da Elis estava errada, não somos os mesmos e nem vivemos como nossos pais, nós pioramos muito, vivemos muito pior que eles. Não temos por quem lutar, ficamos mais caretas, mais covardes, mas por outro lado, nem tudo está perdido, a história é escrita por mulheres e homens que a fazem e cabe a nós fazê-la diferente.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O que será que te dá vida?
O que será que te dá vida?
A saudade da chegada
ou a certeza da partida?

Estado de espírito

Estado de espírito na madrugada, com algumas certezas e ainda com aquela velha falta de pequenas coragens:

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles


Ou melhor seria:

"Ah meu Deus eu sei, eu sei
Que a vida devia ser bem melhor e será
Mas isso não impede que eu repita
É bonita, é bonita e é bonita"



terça-feira, 7 de abril de 2009

Jornalista denuncia má fé da Folha e armadilha contra Dilma

Se alguém lê isso, por favor, divulgue o texto ao máximo de pessoas que puderem, a campanha desse jornaleco, que poderia muito bem mudar de nome para "Força Serra Presidente", contra Dilma é sórdida, aliás como são sórdidos seus editoriais e análises políticas. Se já não bastasse a "ditabranda", que só foi branda para pessoas como eles que se beneficiaram dos mal fadados anos de chumbo, agora eles deturpam a história, criam factóides, tratam o oprimido como opressor, resistência como ataque.

Não sou petista, mas independente de preferência partidária, sou contra a direita e especialmente contra manipulações sujas. Tal fato adveio simplesmente do maior jornal do Brasil, com uma capacidade enorme de influenciar quem lê e que poderá tomar aquilo como verdade. Mas antes de representar a opinião pública, o que temos ali é a opinião publicada, permeada pelo poder econômico, pela força de uma elite conservadora, e antidemocrática.

Então, o apelo que eu faço é para quem assina o jornal cancelar sua assinatura e expor os motivos para tanto, ou então entupir a redação com cartas contra tamanha sordidez.


http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15912

Jornalista denuncia má fé da Folha e armadilha contra Dilma

Jornalista denuncia má fé do jornal Folha de S.Paulo em matéria que tenta envolver a ministra Dilma Rousseff em um suposto plano para sequestrar Delfim Neto durante a ditadura militar. "Chocou-me a seleção arbitrária e edição de má-fé da entrevista, pois, em alguns dias e sem recursos sequer para uma entrevista pessoal – apelando para telefonemas e e-mails, e dependendo das orientações de um jornalista mais experiente, no caso o próprio entrevistado -, a repórter chegou a conclusões mais peremptórias do que a própria polícia da ditadura, amparada em torturas e num absurdo poder discricionário", denuncia Antonio Roberto Espinosa.

O jornalista Antonio Roberto Espinosa, professor de Política Internacional, doutorando em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), autor de "Abraços que sufocam – E outros ensaios sobre a liberdade e editor da Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe", encaminhou uma carta à redação da Folha de São Paulo, protestando contra a edição da entrevista por telefone que concedeu ao jornal. Segundo ele, a Folha preparou uma “armadilha” para a ministra Dilma Rousseff usando uma entrevista que concedeu a uma das suas repóteres da sucursal de Brasília. Na carta que encaminhou à redação, ele denuncia a má fé dos editores do jornal. Segue a íntegra da correspondência:

Prezados senhores,

Chocado com a matéria publicada na edição de hoje (domingo, 5), páginas A8 a A10 deste jornal, a partir da chamada de capa “Grupo de Dilma planejou seqüestro de Delfim Neto”, e da repercussão da mesma nos blogs de vários de seus articulistas e no jornal Agora, do mesmo grupo, solicito a publicação desta carta na íntegra, sem edições ou cortes, na edição de amanhã, segunda-feira, 6 de abril, no “Painel do Leitor” (ou em espaço equivalente e com chamada de capa), para o restabelecimento da verdade, e sem prejuízo de outras medidas que vier a tomar. Esclareço preliminarmente que:

1) Não conheço pessoalmente a repórter Fernanda Odilla, pois fui entrevistado por ela somente por telefone. A propósito, estranho que um jornal do porte da Folha publique matérias dessa relevância com base somente em “investigações” telefônicas;

2) Nossa primeira conversa durou cerca de 3 horas e espero que tenha sido gravada. Desafio o jornal a publicar a entrevista na íntegra, para que o leitor a compare com o conteúdo da matéria editada. Esclareço que concedi a entrevista porque defendo a transparência e a clareza histórica, inclusive com a abertura dos arquivos da ditadura. Já concedi dezenas de entrevistas semelhantes a historiadores, jornalistas, estudantes e simples curiosos, e estou sempre disponível a todos os interessados;

3) Quem informou à Folha que o Superior Tribunal Militar (STM) guarda um precioso arquivo dos tempos da ditadura fui eu. A repórter, porém, não conseguiu acessar o arquivo, recorrendo novamente a mim, para que lhe fornecesse autorização pessoal por escrito, para investigar fatos relativos à minha participação na luta armada, não da ministra Dilma Rousseff. Posteriormente, por e-mail, fui novamente procurado pela repórter, que me enviou o croquis do trajeto para o sítio Gramadão, em Jundiaí, supostamente apreendido no aparelho em que eu residia, no bairro do Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro. Ela indagou se eu reconhecia o desenho como parte do levantamento para o seqüestro do então ministro da Fazenda Delfim Neto. Na oportunidade disse-lhe que era a primeira vez que via o croquis e, como jornalista que também sou, lhe sugeri que mostrasse o desenho ao próprio Delfim (co-signatário do Ato Institucional número 5, principal quadro civil do governo ditatorial e cúmplice das ilegalidades, assassinatos e torturas).

Afirmo publicamente que os editores da Folha transformaram um não-fato de 40 anos atrás (o seqüestro que não houve de Delfim) num factóide do presente (iniciando uma forma sórdida de anticampanha contra a Ministra). A direção do jornal (ou a sua repórter, pouco importa) tomou como provas conclusivas somente o suposto croquis e a distorção grosseria de uma longa entrevista que concedi sobre a história da VAR-Palmares. Ou seja, praticou o pior tipo de jornalismo sensacionalista, algo que envergonha a profissão que também exerço há mais de 35 anos, entre os quais por dois meses na Última Hora, sob a direção de Samuel Wayner (demitido que fui pela intolerância do falecido Octávio Frias a pessoas com um passado político de lutas democráticas). A respeito da natureza tendenciosa da edição da referida matéria faço questão de esclarecer:

1) A VAR-Palmares não era o “grupo da Dilma”, mas uma organização política de resistência à infame ditadura que se alastrava sobre nosso país, que só era branda para os que se beneficiavam dela. Em virtude de sua defesa da democracia, da igualdade social e do socialismo, teve dezenas de seus militantes covardemente assassinados nos porões do regime, como Chael Charles Shreier, Yara Iavelberg, Carlos Roberto Zanirato, João Domingues da Silva, Fernando Ruivo e Carlos Alberto Soares de Freitas. O mais importante, hoje, não é saber se a estratégia e as táticas da organização estavam corretas ou não, mas que ela integrava a ampla resistência contra um regime ilegítimo, instaurado pela força bruta de um golpe militar;

2) Dilma Rousseff era militante da VAR-Palmares, sim, como é de conhecimento público, mas sempre teve uma militância somente política, ou seja, jamais participou de ações ou do planejamento de ações militares. O responsável nacional pelo setor militar da organização naquele período era eu, Antonio Roberto Espinosa. E assumo a responsabilidade moral e política por nossas iniciativas, denunciando como sórdidas as insinuações contra Dilma;

3) Dilma sequer teria como conhecer a idéia da ação, a menos que fosse informada por mim, o que, se ocorreu, foi para o conjunto do Comando Nacional e em termos rápidos e vagos. Isto porque a VAR-Palmares era uma organização clandestina e se preocupava com a segurança de seus quadros e planos, sem contar que “informação política” é algo completamente distinto de “informação factual”. Jamais eu diria a qualquer pessoa, mesmo do comando nacional, algo tão ingênuo, inútil e contraproducente como “vamos seqüestrar o Delfim, você concorda?”. O que disse à repórter é que informei politicamente ao nacional, que ficava no Rio de Janeiro, que o Regional de São Paulo estava fazendo um levantamento de um quadro importante do governo, talvez para seqüestro e resgate de companheiros então em precárias condições de saúde e em risco de morte pelas torturados sofridas. A esse propósito, convém lembrar que o próprio companheiro Carlos Marighela, comandante nacional da ALN, não ficou sabendo do seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick. Por que, então, a Dilma deveria ser informada da ação contra o Delfim? É perfeitamente compreensível que ela não tivesse essa informação e totalmente crível que o próprio Carlos Araújo, seu então companheiro, diga hoje não se lembrar de nada;

4) A Folha, que errou a grafia de meu nome e uma de minhas ocupações atuais (não sou “doutorando em Relações Internacionais”, mas em Ciência Política), também informou na capa que havia um plano detalhado e que “a ação chegou a ter data e local definidos”. Se foi assim, qual era o local definido, o dia e a hora? Desafio que os editores mostrem a gravação em que eu teria informado isso à repórter;

5) Uma coisa elementar para quem viveu a época: qualquer plano de ação envolvia aspectos técnicos (ou seja, mais de caráter militar) e políticos. O levantamento (que é efetivamente o que estava sendo feito, não nego) seria apenas o começo do começo. Essa parte poderia ficar pronta em mais duas ou três semanas. Reiterando: o Comando Regional de São Paulo ainda não sabia com certeza sequer a freqüência e regularidade das visitas de Delfim a seu amigo no sítio. Depois disso seria preciso fazer o plano militar, ou seja, como a ação poderia ocorrer tecnicamente: planejamento logístico, armas, locais de esconderijo etc. Somente após o plano militar seria elaborado o plano político, a parte mais complicada e delicada de uma operação dessa natureza, que envolveria a estratégia de negociações, a definição das exigências para troca, a lista de companheiros a serem libertados, o manifesto ou declaração pública à nação etc. O comando nacional só participaria do planejamento , portanto, mais tarde, na sua fase política. Até pode ser que, no momento oportuno, viesse a delegar essa função a seus quadros mais experientes, possivelmente eu, o Carlos Araújo ou o Carlos Alberto, dificilmente a Dilma ou Mariano José da Silva, o Loiola, que haviam acabado de ser eleitos para a direção; no caso dela, sequer tinha vivência militar;

6) Chocou-me, portanto, a seleção arbitrária e edição de má-fé da entrevista, pois, em alguns dias e sem recursos sequer para uma entrevista pessoal – apelando para telefonemas e e-mails, e dependendo das orientações de um jornalista mais experiente, no caso o próprio entrevistado -, a repórter chegou a conclusões mais peremptórias do que a própria polícia da ditadura, amparada em torturas e num absurdo poder discricionário. Prova disso é que nenhum de nós foi incriminado por isso na época pelos oficiais militares e delegados dos famigerados Doi-Codi e Deops e eu não fui denunciado por qualquer um dos três promotores militares das auditorias onde respondi a processos, a Primeira e a Segunda auditorias de Guerra, de São Paulo, e a Segunda Auditoria da Marinha, do Rio de Janeiro.

Osasco, 5 de abril de 2009

Antonio Roberto Espinosa

Jornalista, professor de Política Internacional, doutorando em Ciência Política pela USP, autor de Abraços que sufocam – E outros ensaios sobre a liberdade e editor da Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe.

O sujeito transcedental kantiano, as categorias do pensamento, a distância intransponível entre sujeito e objeto versus a dialética hegeliana, o conceito de totalidade. As antinomias do pensamento burguês. Tudo isso e mais um pouco faz com que a minha cabeça esteja a ponto de fundir.

Por essas e outras que tenho o direito de pelo menos assistir à final do BBB em paz. Não pensar faz mal, mas pensar em demasia também não é sadio. E não me venham com patrulhamento intelectual, gosto de BBB mesmo, e não aceito que me digam que sou menos inteligente ou mais alienada por isso.

sábado, 4 de abril de 2009

Sobre o preconceito

Talvez só possamos entender o preconceito e algumas atitudes de quem o sofre sendo vítima dele, porque algumas coisas são ininteligíveis para mim.

Digo isso porque dia desses estava em um bar tomando uma cerveja com um amigo enquanto esperávamos o seu namorado chegar. O bar ficava nesses redutos de artistas, intelectuais e os protagonistas do acontecido também eram pessoas que vivem nesse meio.

Eis que o namorado do meu amigo chega e o cumprimenta com um beijo no rosto. Eu olhei a cena e fiquei quieta, continuamos o assunto anterior como se nada tivesse acontecido, mas não conseguia tirar aquele momento da cabeça.

Pelo que eu sempre ouço do meu amigo eles são um casal apaixonado, fazem planos de morar juntos, em síntese, eles eram bem resolvidos em relação a questão, o que me levaria a crer que eles iriam se encontrar e se cumprimentar com um beijo na boca, o que efetivamente não ocorreu.

Mas não é o fato do beijo, ou da falta dele, que me incomodou, o que me incomoda é saber que muito provavelmente o motivo pelo qual eles não deram um beijo em público seja resultado do preconceito que sofrem, que ainda os colocam como desviados da sociedade, obrigando-os a manifestarem publicamente o que sentem somente em guetos, lugares autorizados.

Fico pensando o quanto fica tão mais difícil lutar por direitos, nem que seja apenas pelo direito de manifestar publicamente carinho por outra pessoa do mesmo sexo, se a própria vítima do preconceito aceita o lugar que foi dado a ela. Mas por outro lado, como julgar essas pessoas se não somos nós quem sofremos o preconceito.

Saí do bar um pouco mais descrente na humanidade e com algumas perguntas sem respostas. Até quando vamos continuar a erguer muros com base em preconceitos? Até quando vamos tratar as diferenças como algo que inferioriza? Até quando precisaremos de guetos?