sábado, 2 de maio de 2009

Sobre como não se perder o que se tem

Lembro-me de cada detalhe da nossa juventude, nossas veias estavam entupidas de vida, a cada encontro, o olhar de encatamento que se renovava e em cada nova descoberta, a certeza de que aquele primeiro encontro tinha sido fatal. Ambos estavámos descobrindo o mundo novo que se abria diante de nossos olhos e com uma sede de beber com toda a vontade aquela vida que se inaugurava.

Nossa realidade eram os sonhos que sonhávamos juntos, nos alimentávamos da nossa própria presença. Muitas vezes choramos juntos, em outras rimos, suamos, gozamos. Compartilhamos as horas não dormidas, a esperança, a alegria que explodia a cada ano que passava e que nos fazia cada vez mais próximos.

O que nós não sabíamos é da responsabilidade de ser ter o que se tem e na ânsia de guardar o que conquistamos, acabamos nos perdendo de nós mesmos. Fizemos do nosso amor algo inatingível até para nós, fugimos do desafio de cultivá-lo próximo. E assim, com a idade adulta tudo se tranformou em não.

Das horas de camaradagem sobrou o sentimento amargo de algo que não se concretizou. Colocamos dentro de sistemas vazios a explicação para a nossa própria fraqueza. E o tempo se encarregou de nos transformar em pessoas duras, a vida havia se tornado um duro fardo com que levávamos sem aquela esperança de outrora.

Hoje, já envelhecidos, nos reencontramos, e um diante do outro, com um sorriso amarelo para disfarçar a angústia do reencontro, tentamos em vão buscar um amparo para o que deveria ter sido e não foi. Não temos coragem de nos encarar, olhar nos olhos parece uma tarefa impossível diante de tanta covardia que cultivamos em grande parte das nossas vidas. Pago o café, digo a você que seria um prazer reencontrá-lo mais vezes e parto apressadamente em direção a minha casa. No fundo ambos sabemos que aquele "até breve" significa "até nunca mais".

Ofegante acordo, era apenas um sonho. Olho para o lado e você está na cama, dormindo profundamente. Continuamos jovens e embriagados de vida. Ao perceber isso, minha reação é de te abraçar, com o cuidado para que não acordes. Sabemos que temos o nosso destino nas mãos, podemos escolher entre nos acovardar diante do medo do que vem pela frente ou enfrentá-lo em busca de uma vida larga.

Aqueles momentos de silêncio abraçada junto ao seu corpo me fez sentir que a nossa resposta ao futuro já havia sido dada. Então voltei a dormir, sabia que de ali em diante a vida seria diferente do sonho.

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