sexta-feira, 20 de março de 2009

Sou uma pessoa de fases, e como também sou um pouco obsessiva, existem épocas que eu me apego a determinados autores e tenho vontade de devorar tudo o que foi escrito por eles. Nos últimos dias estou numa fase em que tudo o que aparece sobre Clarice Lispector me interessa.

Clarice para mim é como um mito, e talvez só se compare a admiração que eu tenho por ela com o amor que eu sinto pelo Chico Buarque, embora sejam coisas totalmente distintas. Clarice é mais do que uma autora que eu admiro, é como se ela fosse meu ideal de vida, alguém que eu me identifico para além da obra.

Mas hoje, ao reler um de seus contos, comecei a pensar em como fabricamos mitos e como os desmitificamos. Clarice conta em uma de suas crônicas, um encontro com Maria Bonomi, sua comadre e amiga e também esposa do diretor Antunes Filho. Estranho porque eu construí a imagem de Clarice como um mito e todas as suas relações deveriam estar na ordem da mitologia, e seguindo esse raciocínio, Antunes também deveria ser um mito para mim.

Ocorre que alguns dos meus amigos são atores que trabalham ou trabalharam com Antunes, o que fez com que desmitificasse a imagem do diretor. Antunes para mim é apenas um dos melhores diretores do teatro que eu conheço, porém, humano como todos nós.

Já com Clarice, a imagem que eu tenho é de alguém que está muito distante da realidade, ela é aquela escritora que eu aprendi a gostar no colégio, que escreveu o livro que me fez chorar ao ler e que se insere em um outro patamar.

Fiquei pensando se não é o fato dela estar morta e de eu nunca poder saber quem ela realmente é, na sua porção mais humana, que me fez com que surgisse toda essa aura de mitificação em torno do seu nome. A obra eterniza o autor e a sua morte o coloca em um lugar que o afasta dos homens.

Não sei ao certo o que acontece, mas me passou pela cabeça que se Clarice pudesse ler o que eu acabo de escrever ela não concordaria com essa sua suposta supra-humanidade. Se bem que é um pouco de presunção minha achar que ela pudesse ler algo que eu escrevi...

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