terça-feira, 10 de março de 2009

Descendo a rua, com o vento do frio inverno soprando contra, ela o viu, estava no café da esquina, sentado da mesma maneira de outrora. Diante de tal visão, sua primeira reação foi querer recuar, queria inverter o caminho, tomar um outro rumo.

Por um momento parou, não tinha coragem de se aproximar e muito menos de mudar de rumo. Durante o tempo que se manteve ali parada, seus pensamentos voaram para anos e anos atrás. Lembrou-se da vida que partilharam juntos, de como eram próximos, de como se entendiam, bastava apenas um olhar.

Sua vontade era de ir ao encontro daquele que talvez tenha sido o único amor de sua vida, aquele que escapara por um capricho. Passado tantos anos, ela pretendia acertar contas com o seu destino, com o seu coração, com a sua história.

Mas se fosse até ele, o que diria? Chagaria perto e falaria: "Oi, lembra-se de mim? Fomos aqueles que não tiveram coragem de construir nossa própria história." ou então: "Querido, quanto tempo, você não mudou nada!! O seu rosto, desde que o vi de longe, me trouxe a lembrança do tempo em que éramos melhores amigos."

Não, talvez fosse melhor passar reto, quem sabe se ele ao vê-la passar não levantasse daquela cadeira e fosse ao seu encontro para reconstruir a história de ambos. Na verdade, mais uma vez ela teve medo. Aquele rosto familiar trazia à tona uma vida de explosões contidas, de palavras nas entrelinhas, uma vida baseada em uma suposta racionalidade que os protegia de serem o que já eram.

Lembrou-se ainda do tempo em que tudo se transformou em não, de como foi triste e dolorida a separação, de como foi sofrido terem que assumir que os caminhos que se cruzaram e que permaneram juntos até então, a partir daquele momento seguiriam uma estrada distinta. Lembrou-se de como no começo ainda se falavam todos os dias, de que a distância entre os oceanos a os separarem parecia quase inexistente.

Mas também se lembrou de que o provisório se tornou permanente, suas vidas foram levadas a caminhos diferentes, e aquele reencontro parecia ainda mais dolorido do que a separação. Ela continuou descendo, ainda sem saber o que fazer, e depois de alguns passos parou novamente.

Agora ela tinha medo de não mais reconhecê-lo, não fisicamente, pois ele continuava bem parecido, quem sabe apenas um pouco mais gordo, tinha medo de não mais reconhecê-lo no que havia de essencial entre eles. Será que ainda dividiam os mesmos sonhos? Será que ainda se entenderiam com o olhar?

Decidiu então que iria encará-lo, mas já era tarde. Durante o tempo em que ficara parada na ladeira que a levaria ao encontro de sua juventude ele pagara sua conta e havia saído do café. No desespero ela tentou correr, queria alcançá-lo, dizer que morria de saudades, que durante todo esse tempo a única verdade que havia construído era a de que um dia eles se amaram e que tiveram medo de viver esse amor. No fundo, ela apenas queria apenas ser sincera consigo mesmo, ainda que depois de tanto tempo.

Não foi possível, ele entrou no carro e partiu. Ela, sem saber o que fazer, chorava baixo enquanto apertava o passo na tentativa de seguir o seu caminho. Sabia que não existiria mais volta, não era possível uma terceira chance. Nesse momento o vento frio continuava a soprar, mas agora soprava ao seu favor.

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