terça-feira, 14 de abril de 2009

Mais caretas e covardes

Se você não é adolescente ou não convive com um, provavelmente não saberá do que estou falando, mas a nova onda do momento no "mundo teen" é um grupo de irmãos americanos chamado Jonas Brothers. Foi por causa deles que atravessei a cidade, eles vão fazer um show no Brasil e minha irmã de treze anos anos com certeza queria estar lá, por isso tive que ir até o Shopping Morumbi para comprar os convites.

Como não me interesso muito por bandas adolescentes e só sabia que esses meninos existiam por causa da minha irmã, que tem pôsteres espalhados pelo quarto, album no orkut, etc, etc, fui pesquisar quem eram os integrantes da tal banda e para minha surpresa descubro que eles são evangélicos e, pasmem, usam um anel da pureza, o que significa que eles vão se manter castos até o casamento.

Quando descobri isso achei engraçado, pensei que depois de tanta luta pela derrubada dos tabus que envolvem a sexualidade, os adolescentes do século XXI estão ficando cada vez mais caretas. Fiquei pensando na minha adolescência, vivida no final do século XX, e lembrei que longe de ter sido rebelde, nunca pagaria para ver uma banda cujos integrantes tivessem um discurso moralista.

Na verdade, sempre fui uma adolescente meio atípica, não tinha um ídolo por quem morria de amores, eu gostava mesmo era de futebol e era louca pelo Raí e pelo Leonardo, também por eles serem bonitos, mas especialmente eu os admirava por eles serem jogadores inteligentes e por terem jogado no São Paulo. E óbvio, como toda adolescente cheia de hormônios, queria ter um caso com eles, com os dois juntos se fosse possível.

Por isso eu olho para essas meninas apaixonadas pelos meninos dessa banda e não consigo compreender muito bem, porque por trás dessa atitude há uma série de valores morais, envolvendo tabus que eu imaginava já terem sido superados. Mais do que isso, colocam sobre o sexo aura que não existe. Sexo é uma necessidade física, assim como comemos, bebemos, dormimos, nós fazemos sexo, e não há nada de extraordinário nisso.

Então, num segundo momento, já não achei tão engraçado uma banda com um discurso moralista e repressor fazer tanto sucesso entre os jovens. Pensei no problema que existe quando reprimimos o desejo, que será satisfeito de uma outra maneira, pois, caso contrário, não teríamos tantos casos de pedofília entre padres. Ok, esse já é um outro assunto, mas ilustra bem o fato do que ocorre quando se tem uma repressão à sexualidade.

Acho que cada um faz da sua sexualidade o que bem entender, só que também acho muito perigoso quando surge alguém ou um grupo com alta capacidade de influência sobre outras pessoas, ditar um comportamento com base em moralismos retrógados. Sinceramente nem sei se esses meninos fazem apologia à castidade, o que li sobre eles se resume ao fato deles serem a sensação entre os adolescentes e a essa história do anel, porém, sei que o que conquistamos nos foi muito caro, custou à vida de muitas pessoas que lutaram não só por amor livre, mas por igualdade, por direitos que não podemos abrir mão.

E voltando à questão da adolescência nesse início de século, fica a triste constatação de que a letra da música da Elis estava errada, não somos os mesmos e nem vivemos como nossos pais, nós pioramos muito, vivemos muito pior que eles. Não temos por quem lutar, ficamos mais caretas, mais covardes, mas por outro lado, nem tudo está perdido, a história é escrita por mulheres e homens que a fazem e cabe a nós fazê-la diferente.

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